Foi uma tarde de domingo já primaveril que, na Covilhã, recebeu Jerónimo de Sousa. A sala do Grupo de Recreio e Instrução do Rodrigo já não é estreante nestas andanças, nem nos discursos da personagem principal. Jerónimo já ali tinha estado e agora, no regresso à “Manchester Portuguesa”, volta a ter um banho de gente.
As bandeiras vermelhas começam a pintar o espaço branco enquanto se esbate o atraso de cerca de meia hora do líder do PCP português. O secretário-geral lá chega, mesmo a tempo para ouvir a declamação de alguns poemas de Ary dos Santos, a quem o PCP local presta homenagem.
Depois da intervenção de uma representante da Juventude Comunista Portuguesa (JCP), Jerónimo de Sousa toma o palco no meio de palavras de ordem. É ainda ao som de “A luta continua” que o secretário-geral dos comunistas portugueses começa o seu ataque às políticas do actual governo socialista. Para Jerónimo, de socialista “nada tem”, uma vez que, “perante a anunciada crise, quem vai pagar a conta são os trabalhadores, os reformados e os desempregados”. O discurso parece já ter conhecido também outros palcos, parece ter até algumas semelhanças com palavras ditas por Jerónimo na Covilhã, mas a sua principal novidade está agora no Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC).
Num distrito com cerca de 11 mil desempregados, com cada vez mais trabalhadores com vínculos precários, o discurso de Jerónimo de Sousa encontra eco. Jerónimo começa por lembrar o plano de emergência avançado pelo PCP, para este território, “chumbado pelos deputados socialistas e sociais-democratas”, passa depois para palavras de solidariedade para os trabalhadores das Minas da Panasqueira, que se encontram em greve e acaba por lamentar o encerramento da confecção Vesticom, no Tortosendo. São estes os exemplos daquilo que Jerónimo veio pedir, “um programa de revitalização do aparelho produtivo”.
O discurso contra o PEC começa a endurecer. Políticos, banqueiros, gestores, “a esses ninguém deixa de pagar”, já aos “operários, professores, enfermeiros, desempregados, reformados e tantos outros, há que pagar mais e mais”. O secretário-geral dos comunistas lembra que “todos podem contar com o PCP, que tem sido a única voz contra este PEC”. Jerónimo garante que os autores do Programa de Estabilidade e Crescimento “mentem e pretendem passar para cima dos trabalhadores a factura dos erros dos gestores”. Na perspectiva do secretário-geral do PCP “o dinheiro existe e está mal distribuído, está na banca”. Por isso mesmo, o responsável máximo dos comunistas portugueses quer ver o salário mínimo aumentado para 600 euros, até 2013.
Na Covilhã, Jerónimo pediu também uma “grande demonstração de força e de luta” no próximo dia 1 de Maio. A data escolhida para celebrar o Dia do Trabalhador, vai também ser aproveitada pelo PCP para sublinhar o voto contra ao PEC.