Urbi@Orbi – Tem sublinhado o momento crucial que atravessa a instituição, momento esse em que “a sustentabilidade da UBI dependerá do desempenhado das faculdades” – palavras suas, e também por isso considerou este como o momento da sua candidatura. Grandes responsabilidades que pretende encarar de que forma?
Pedro Guedes de Carvalho – [Ver Resposta] – Neste momento há um plano estratégico traçado pela equipa reitoral que é extremamente claro. Está dividido em quatro grandes áreas que têm a ver com a qualidade, investigação científica, aprofundamento de Bolonha e com melhorias nos aspectos de internacionalização e portanto, não vale a pena estar a reinventar a roda. Cada faculdade já tem o plano de toda a universidade e agora cabe-lhe ver qual o seu contributo para esse plano. Isto é, o que é que se pode fazer na faculdade que melhore e que vá de encontro às metas apontadas pela equipa reitoral.
Esse é um desafio extremamente importante sobretudo numa faculdade que no passado foi centrada em angariar alunos, trabalhar para alunos, fazer cursos, dar aulas; parâmetros em que os docentes estiveram sobrecarregados com os aspectos da docência, do ensino. Hoje, as novas leis do Estatuto da Carreira Docente, saídas em Setembro do ano passado, fazem a abertura clara e internacional das universidades portuguesas. Isto é, eu posso ter aqui um número significativo de docentes, mas quando abrir um concurso para um lugar, este tem de ser nacional e internacional e para ele podem concorrer pessoas que estão com um grau de doutoramento tirado em qualquer outra universidade e também concorrer. Quando se abrir o concurso, a vaga deste poderá não ser para uma pessoa que já esteja a trabalhar aqui na casa. Isto é uma responsabilidade acrescida porque, como vamos ter de abrir vagas, vamos ter de relevar a consciência de que as exigências ao nível do pessoal que neste momento colabora connosco, vão ser maiores.
Se quisermos fazer comparações, por exemplo, com a indústria têxtil, vemos que esta desde os anos 60 que foi recebendo subsídios e foi vivendo assim, até que hoje estão duas ou três empresas que se aguentaram e mesmo assim, com uma grande dificuldade. Mas aguentaram-se porque não estiveram só a contar com o dinheiro de fundos públicos. A universidade vive sobretudo de fundos públicos. É o Orçamento de Estado que suporta a universidade, mas esta também já tem as suas receitas próprias que representam uma fatia razoável.
Só é possível aumentar as receitas próprias, só é possível aumentar a credibilidade da faculdade e da instituição se nós tivermos produção científica, se tivermos professores doutores associados, catedráticos, mas com publicação científica reconhecida internacionalmente que faça com que outros, alunos, outros professores e outras universidades olhem para a UBI com outros olhos. Esta já não é só uma universidade onde se ensina, mas é uma universidade onde se ensina e se investiga. Este é o grande desafio dos próximos anos, o da afirmação da sua qualidade nacional e internacional.
Urbi@Orbi – De entre os objectivos globais e as ambições do seu projecto destaco um ponto, “marcar um momento de inflexão num quadro de inércia colectiva”…
Pedro Guedes de Carvalho – [Ver Resposta] – Como até agora a pressão competitiva era, um pouco interna, apenas; conhecíamos os outros competidores, eram os colegas do lado; e por isso era possível saber até que ponto é que podíamos andar mais depressa ou mais devagar. Criou-se então uma certa inércia, porque quando se olhava para o lado, não se sentia a necessidade ou a pressão de andar a publicar mais ou a investigar de melhor forma.
Quando nós abrimos as portas à comunidade internacional, sentimos a necessidade de inflectir ou então vamos morrer. Daí ter dito no meu projecto de candidatura que devemos estar atentos, sabemos que isto vai acontecer e então temos de mudar. Para além disto tudo sei também que temos potencial para o conseguir. Se não acreditasse no potencial que aqui temos nem sequer me candidatava. Na minha leitura, as pessoas estavam um pouco “adormecidas”. Esta é a minha análise e posso também estar enganado. Daqui a uns anos a história irá dizer se sim ou se não, mas acho que não me vou enganar.
À semelhança da história que é estudada pelos economistas, e fazendo uma analogia com a universidade, as indústrias que morreram, morreram por não terem visto a tempo as mudanças necessárias que deveria ter introduzido nas suas actividades e deixaram-se ir um pouco naquela inércia que levou ao desaparecimento.
“Está a decorrer uma mudança geracional”
“No futuro será a universidade a desafiar a comunidade”