José Vaz há 35 anos que vende peixe na “praça” da Covilhã. Herdou a profissão e a banca do seu pai e faz do comércio o seu ganha-pão. Mas os dias que actualmente se passam não são boas pescas. O mar dos clientes parece estar revolto e a grande tempestade parece ter começado com a primeira deslocalização do mercado.
O testemunho deste comerciante foi apenas mais um dos que se ouviram no passado sábado, na Sala dos Continentes, na sede do PCP. Esta força política promoveu um debate sobre o futuro desta estrutura central da cidade. Um debate que pretendia essencialmente, dar ideias e soluções “para um problema que foi criado pela Câmara da Covilhã”, adiantou Vítor Reis Silva.
Depois de algumas “obras de fachada”, em 1999, o destino do mercado ficou incerto. Isto porque, “na altura dizia-se que havia um mercado para servir a Covilhã”, mas depois a situação alterou-se e as políticas camarárias “levaram ao fim do mercado”. Para o deputado comunista, na Assembleia Municipal da Covilhã, “esta questão está ligada aos interesses de uma empresa”. Recorde-se que uma parte do mercado tinha sido transformada em parque de estacionamento. Dos três pisos dedicados ao comércio de produtos agrícolas, roupas, carnes, peixes e diversos artigos, apenas ficaram dois. Posteriormente, com o anúncio da instalação de um call center no terceiro piso, apenas o espaço intermédio e uma zona exterior ficaram destinadas aos comerciantes.
Uma decisão camarária “onde ninguém foi ouvido e mais uma prova de que esta câmara PSD subordinou os interesses públicos, a privados”. Vítor Reis Silva sublinha que “este é um problema que tem de ser resolvido e não devemos concordar com a saída do mercado do local onde se encontra”.
Ainda assim, esta é uma opinião que não parece ser partilha por todos. Luís Garra prefere ter uma opinião “mais apoiada na razão, do que no coração”. Segundo o militante comunista, o espaço carece de condições para ali estar a funcionar um mercado à escala da Covilhã, e por isso mesmo “é necessário verificar todas as soluções, se será mais vantajoso recuperar o edifício, ou pelo contrário, construir um novo”.
Jorge Fael e Marco Gabriel acreditam também que esta é uma questão “mais alargada, que tem também a ver com as políticas de ocupação do espaço da zona central da Covilhã”. Políticas que têm estado “a favor do despovoamento de toda esta área”. Durante o debate foi notória uma certa diferença nas posições dos vários elementos do PCP. Para mais tarde fica agendada uma posição oficial do partido sobre as soluções apontadas para o mercado.
Promover um concurso de ideias, analisar as intervenções pedidas pela ASAE e analisar as diferentes soluções para um novo mercado são algumas das bases para a discussão. Quem não precisa de mais debates são precisamente os comerciantes que garantem “com a saída do mercado do lugar onde está, é a morte do comércio tradicional na Covilhã”.