Num tempo em que a água ganha uma importância crescente, todos os processos para a sua poupança e correcta utilização são bem acolhidos pela sociedade. As novas tecnologias conduziram a práticas que até aqui não faziam parte do processo normal da utilização deste bem. Exemplo disso é o da reutilização das águas residuais.
Há já algum tempo que existem várias técnicas para dar novas utilizações às águas que resultam do processo de depuração feito pelas estações de tratamento, vulgarmente conhecidas como Etar’s. A introdução destas na rega de campos agrícolas ou de outras práticas, o reforço de aquíferos e até a correcção química dos solos. Técnicas que se vulgarizaram em países “onde a água é um bem escasso”, começa por apontar António Albuquerque. Docente no Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura da UBI e investigador na área há já vários anos, é agora co-autor do primeiro manual técnico sobre a reutilização.
Um livro que começou a ser produzido a partir de um protocolo entre a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos e o Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, representado pela professora Maria Helena Marecos. Foi com esta docente que António Albuquerque iniciou as suas investigações na área da reutilização, no Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Passados vários anos, surgiu o convite da docente Lisboa para o investigador da UBI integrara também a obra.
“Reutilização de Águas Residuais” é o primeiro manual escrito em português, sobre esta área. Um livro técnico que será distribuído em Portugal, Espanha e nos países de língua oficial portuguesa. Esta publicação “fala sobre sistemas de reutilização de águas residuais, em vários domínios e também serve para investigação, devido ao facto de não existir nenhum livro desta natureza escrito em português”.
O docente da UBI refere que existem muitas publicações sobre águas, tratamento destas, águas subterrâneas e outras. Mas uma publicação “que fale de tudo o que esteja relacionado com sistemas de águas residuais e pluviais, tudo o que é recolhido numa estação de tratamento, não existia”. Esta nova publicação vai ajudar a criar novas formas de aproveitamento das águas residuais. O docente da UBI refere que “normalmente, as águas residuais, depois de tratadas, são descarregadas em rios”. Neste documento, são avançadas soluções para mudar esse panorama. “No fundo é trazer para Portugal uma prática que já é feita nos Estados Unidos da América e nos países nórdicos que passa por reutilizar as águas tratadas nas etar’s”, esclarece. Esta publicação aponta agora algumas maneiras disso ser feito e dá também a conhecer algumas das aplicações dessas águas.
Algumas das soluções avançadas por estes dois docentes que agora editam o livro, estão já a ser aplicadas em Portugal, em locais muito específicos. No caso do Algarve, “são conhecidos campos de golfe que apostaram nas técnicas de reutilização de águas residuais”. “Isto por força da lei, até porque, essas estruturas que são objecto de estudo de impacto ambiental e só foram aprovados mediante a instalação de equipamentos que utilizassem na rega, água retirada de etar’s, depois de devidamente tratada”, acrescenta António Albuquerque.
Por se tratar de uma primeira publicação deste género, em língua portuguesa, “temos também tido contactos de vários países de expressão portuguesa, como Angola, Brasil, Cabo Verde e outros”. Os técnicos e as entidades desses países têm mostrado muito interesse nas soluções agora apontadas, até porque, “a reutilização de águas ganha ainda mais importância em locais onde a água é escassa”.
Todavia, o docente da UBI refere que Portugal está no bom caminho. Pese embora o facto de não existirem muitos projectos ainda em funcionamento, tal não se deve à falta de sensibilidade para a área, mas sim de um manual com estas características. “Não existia um documento orientador dos procedimentos ou normas nesta área. Muitos profissionais queriam fazer os seus projectos e não tinham esse documento guia que lhes desse uma perspectiva da legislação e da regulamentação”, reitera o co-autor desta obra. Um guia técnico, produzido nas universidades, que veio colmatar esse défice. Os autores referem também que o aparecimento deste estudo vai apresentar benefícios ambientais, económicos e sociais.