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Festival de cinema na UBI exibiu filme internacionalmente premiado
Kayalu da Silva · quarta, 6 de abril de 2022 · Último dia de festival na UBI evidência as discussões sociais do cinema brasileiro contemporâneo. |
22015 visitas “Está tudo parado. Faz quatro ou cinco anos que as produções cinematográficas brasileiras caíram de produção”, revelou a realizadora brasileira, Caroline Leoni, destaque da última sessão do ciclo de exibições de cinema do Brasil, Inquietude. Realizado entre nos dias 10, 17, 24 e 31 de março, o festival em seu último dia exibiu o filme internacionalmente premiado, “Pela Janela”, e ao final, propôs a discussão e debate do mesmo, com a presença da cineasta e investigadora da Universidade da Beira Interior (UBI) Melanie Pereira. A história de “Pela Janela” se dedica a acompanhar a personagem Rosália em um momento de crise e transformação, após ser demitida da fábrica onde trabalhou por décadas. As transformações de uma viagem solitária e os acasos e semelhanças de diferentes perspectivas, serviram de inspiração para a realizadora e guionista, Caroline Leoni, na construção da longa-metragem: “Esse filme nasceu de um encontro após uma viagem do Brasil para Argentina na qual eu voltei de ônibus. E nesta viagem eu conheci uma mulher, muito mais velha que eu, que estava viajando pela primeira vez. Enquanto eu também estava nesse processo de viajar sozinha, a senhora argentina também vivia este processo. Este detalhe de ser quase inacessível para a idade dela e uma mulher é difícil experimentar uma viagem assim. Nessa posição de viajar e olhar para si, fora do seu lugar usual, é o que nos ligou durante a viagem. Depois da viagem eu escrevi o argumento principal do roteiro e comecei a trabalhar.” Segundo a diretora, o filme foi também a oportunidade de realizar seu desejo de expressar-se sobre o papel da mulher, ou o corpo feminino num espaço de trabalho e de uma viagem como expansão de fronteiras. “A sutileza vem de que uma viagem pode reverberar vários anos a seguir. Os processos humanos são muito mais lentos do que o cinema propõe e eu acho que a lentidão e minúcia na transformação é bonita de se ver no sentido para gerar uma empatia e conexão. Porque é assim que eu vivo é assim que eu sinto uma mudança”. Caroline continua a afirmar que a característica mais humana e ligada à realidade é um dos principais elementos na construção artística: “Eu acredito nesse tipo de cinema. Tenho dificuldade de achar no cinema pessoas que eu me relacione na vida real. O debate também aproveitou e tocou na temática da instabilidade política brasileira, presente desde 2017, principalmente depois do processo de impeachment e com o agravamento da crise econômica devido à pandemia de Coronavírus. Neste cenário, a produção audiovisual, em especial a Agência Nacional de Cinema do Brasil (ANCINE) também sofreu medidas controladoras e restritivas do governo brasileiro, como indica a diretora: “O dinheiro existe só que ele está congelado por conta das ações do Bolsonaro ao extinguir os órgãos de regulamentação de cinema. Num processo de destruição artística, não foi só uma postergação ou esquecimento, foi um movimento de ativamente destruir toda coisa ligada à cultura e arte no país, como uma política de governo”. Ao descrever o que considera uma total inércia do governo brasileiro em relação à indústria audiovisual brasileira, Caroline também aponta para o lado financeiro que o cinema pode gerar na economia nacional: “É praticamente uma empresa que você está gerindo. É uma indústria que movimenta muito dinheiro, e o retorno é enorme para o país. É uma indústria como qualquer outra”. O investigador de doutoramento em Media Artes na UBI e responsável pela curadoria e mediação dos debates, Nathan Costa, indicou como foram suas prerrogativas para a criação deste ciclo: “Eu queria mostrar a direção que o cinema brasileiro está percorrendo durante este período de crise econômica”. “Pela Janela” é um filme lançado em 2017, de coprodução entre Brasil e Argentina. A partir de seu lançamento, a produção chamou a atenção dos críticos e audiência, que lhe resultou, em seu ano de estreia, a premiação do Festival de Cinema de Roterdão, na Holanda, além da exibição em outros circuitos e festivais de cinema internacionais. Divididos em quatro sessões durante o mês de março, o ciclo de cinema Inquietude exibiu um total de duas médias-metragens, dez curtas-metragens e uma longa-metragem. Todos com a característica de transportar ao público a ética e desenvolvimento social do cenário audiovisual contemporâneo brasileiro. |
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