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É preciso coragem para debater o lenocínio
Eunice Parreira · quarta, 6 de abril de 2022 · Coragem é a palavra de ordem no debate de temas sensíveis e pouco difundidos, como é o caso do lenocínio. Um crime no qual alguém lucra com o tráfico sexual ou prostituição de outra pessoa contra a sua vontade. |
Da esquerda para a direita: Hélder Henriques, Regina Gouveia, João Ribeiro da Cruz e João Moura. |
22009 visitas Muitas vezes confundido com a prostituição, o lenocínio é na realidade uma exploração sexual forçada de alguém, e também um tema real e pouco discutido. Para alertar e prevenir este crime, João Ribeiro da Cruz escreveu o livro “Lenocínio VS Prostituição - A visão dos magistrados e polícias”. A obra, apresentada na passada sexta-feira na Biblioteca Municipal da Covilhã, reúne diferentes perspetivas e experiências de magistrados e polícias, as principais figuras do sistema de justiça criminal. A apresentação do livro contou com a presença do autor, da vereadora da cultura da Câmara da Covilhã, Regina Gouveia, do profissional da esquadra da PSP da Covilhã, Hélder Henriques, e do comandante do posto territorial da GNR de Teixoso, João Moura. “Tendemos a ignorar o problema e esperar que ele desapareça por si”, afirmou João Moura, que referiu ainda que as forças de segurança enfrentam o estigma de não ajudar as vítimas, o que as leva a intimidarem-se perante as autoridades policiais. Considerando que, nos últimos dez anos, menos de metade dos casos de lenocínio chegaram aos tribunais portugueses de primeira instância, João Ribeiro da Cruz, autor do livro, mestre em criminologia, membro da polícia criminal da GNR, e formador em variadas áreas, defende que para a vítima é crucial o primeiro contacto com as entidades de apoio. No “primeiro atendimento, seja na PSP, seja na GNR, seja na PJ, seja no hospital, seja no centro de saúde, muitas vezes a sensibilidade fica aquém”, confessa o autor. Ao longo da apresentação foi também debatido que a atual crise humanitária na Ucrânia pode potenciar mais vítimas de tráfico humano e, consequentemente, vítimas de lenocínio. “Se denunciarmos mais, às vezes, com pequenos gestos, como ligar à polícia, é o princípio do êxito para salvarmos ali uma pessoa”, explicou João Ribeiro da Cruz, que enfatizou a importância da denúncia, ainda que a vítima não seja familiar, amigo ou filho. As receitas das obras vendidas nesta apresentação, assim como nas restantes já realizadas, vão contribuir para a criação de um Grupo de Ajuda Mútua das Vítimas de Violência Doméstica e Exploração Sexual. Uma organização descentralizada que pretende fomentar a partilha de experiências e técnicas de superação de trauma. Sem colocar de lado a ajuda profissional, o autor da obra defende que “é preciso estas vítimas terem um espaço onde possam falar”, para que sintam que não estão sozinhas. O evento contou ainda com um momento musical do Quarteto de Saxofones da EPABI. Os participantes fizeram um minuto de silêncio pelo agente da PSP Fábio Guerra, vítima mortal de agressão, e também pela paz na Ucrânia. |
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