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“Engolir Sapos” e preconceitos no Teatro Municipal da Covilhã
João Pedro Antunes · quarta, 23 de mar?o de 2022 · Peça de teatro toca no preconceito para com a comunidade cigana de forma dramática, cómica, direta. |
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O Teatro Municipal da Covilhã recebeu no passado sábado o espetáculo teatral “Engolir Sapos”, apresentado pela Amarelo Silvestre, companhia de teatro criada em 2009 em Canas de Senhorim, no município de Nelas. A encenação ficou a cargo de Rafaela Santos.
A peça entra num dos principais objetivos da companhia: produzir teatro semi-urbano e crítico da sociedade em que se insere. No caso de “Engolir Sapos”, o destaque vai para o preconceito à comunidade cigana, especialmente representado pelos sapos de loiça enquanto objeto que representa preconceito. Estes sapos são regularmente postos à porta de alguns estabelecimentos para evitar que cidadãos de etnia cigana entrem, por representar azar na sua cultura.
A peça entra também nos principais objetivos do Teatro Municipal da Covilhã. Rui Sena, diretor artístico do instituição, afirmou, em declarações ao Urbi et Orbi, que “fazia todo o sentido trazer esta peça, de forma a desmistificar as crenças e preconceitos de uma maneira frontal”. “O trabalho que o Teatro Municipal da Covilhã tem feito insere-se em grandes questões e problemáticas que se põem à Humanidade”, explica Sena, para quem “este trabalho [“Engolir Sapos”] se insere precisamente num desígnio mais geral que é apresentar situações que resolvam problemas, ou que pelo menos os questionem”.
A história desta narrativa teatral contém apenas duas personagens em cena: filha (interpretada por Amélia Giestas) e pai (interpretado por Ricardo Vaz Trindade). Estas duas figuras entram em diversas discussões, muitas vezes misturando a comédia com o drama e com o tema sério que envolve a narrativa. Rui Sena refere-se à relação pai-filha como “a situação mais hilariante da peça”, por se tratar de “situações pelas quais quase todos nós passámos, de uma maneira ou outra”, tornando então o espetáculo em algo “mais perceptível”.
Além da sua origem teatral, esta peça aborda também alguns aspectos cinematográficos, utilizando uma câmara para capturar ao vivo partes do espetáculo, destacando objetos ou as próprias personagens em alguns momentos e usufruindo de técnicas de cinema. Ademais, a obra também tem dois momentos específicos em que quebra a quarta parede (termo utilizado para interações inesperadas e diretas entre a narrativa e a audiência), apontando a câmara para o público, de forma a que a audiência entre numa autorreflexão acerca destes mesmos preconceitos étnicos.
Quando questionado acerca da forma como o público, tanto os mais pequenos como os graúdos, terão recebido a mensagem, Rui Sena diz: “Se conseguirmos pôr em debate o problema da resistência para com toda uma comunidade pela própria sociedade, isso já é por si ótimo”. “Por outro lado, também não tenho a expectativa de mais do que contribuir para que esses estigmas acabem”, admite o diretor artístico. “Creio que as crenças que se foram avolumando por anos e anos não vão desaparecer de um momento para o outro. Penso que a sociedade está sempre em transformação e que a arte tem sido por si um factor que tem contribuído para essa transformação e para que a sociedade seja cada vez mais justa”, conclui Rui Sena.
Após “Engolir Sapos”, alguns dos espetáculos que se destacam num futuro próximo na agenda do Teatro Municipal da Covilhã são a peça de teatro “Os Filhos do Mal” (da companhia Hotel Europa, 26 de março), a vinda do músico barcelense Homem em Catarse (31 de março) e a celebração do 25 de abril com Sérgio Godinho (22 de abril).
Fotografia: José Alfredo
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