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Desafios do jornalismo de investigação
Vera Alves · quarta, 15 de dezembro de 2021 · @@y8Xxv O Jornalismo investigativo foi o foco de uma conferência promovida pela Universidade da Beira Interior (UBI) a 23 de novembro. Palestrantes convidados falaram sobre métodos, tendências e desafios de um jornalismo muito elogiado, mas pouco praticado. |
22026 visitas Carla Baptista, docente na Universidade Nova, conta que para o jornalismo de investigação “o importante é ter mais agenda investigativa, mais adequação do “storytelling” à problemática, mais narrativa aberta versus a narcisista de hoje; mais ambiente redatorial com menos redundância e mais foco e mais sentido; mais originalidade nas formas de articulação com o público; mais resistência às desfigurações, ética e do próprio campo jornalístico; mais aliança com o público”. Filipe Teles, jornalista do “Setenta e Quatro”, projeto digital de jornalismo livre apelou a que “os vários jornalistas de investigação criem um tipo de aliança, e assim cruzem competências, gerações, perspetivas, que permitam contrariar a prática individualista de direito autoral característica ainda das redações de hoje. Partilhar histórias, ferramentas, debater, e até aliar-se com a academia.” Marta Sánchez Esparza, jornalista e membro da direção da “Associación de Periodistas de Investigación” (API) considerou que “não se pode falar sobre o jornalismo espanhol, sem falar nos últimos 9 anos, associando-o ao fenómeno da bolha imobiliária ocorrida no país. Verificou-se uma crescente preocupação dos espanhóis com a sensação de corrupção e falta de transparência, com igual crescimento nas “portadas”, as manchetes espanholas. E esta consciência social, de necessidade de transparência, foi gerada pelos jornalistas espanhóis”, defendeu. Pedro Coelho, jornalista da SIC, afirma que “não podemos pensar que o jornalismo de investigação em Portugal tem futuro, a pensar apenas nas plataformas alternativas. Ainda temos necessariamente de contar com os media tradicionais”. E lança um desafio aos jornalistas, o de criar alianças. Avança que “já há a proposta de criação de um consórcio de jornalistas de investigação em Portugal, à nossa escala, claro, que permita ultrapassar os efeitos da competição. Nós somos um mercado pequeno, onde todos se conhecem. E por ser pequeno, em competição, não vamos lá. Sozinhos, não vamos a lado nenhum”. “A expressão do jornalismo de investigação, em Portugal, é absolutamente residual”, acrescenta, e concorda com Ricardo Carvalheiro, docente da UBI e moderador do evento, ao dizer que “é muito elogiado, mas pouco praticado”. “Juntos vamos longe” é mesmo a máxima do palestrante, que visa o estabelecer de parcerias entre media e jornalistas tradicionais, incorporando dinâmicas de “Inteligência Artificial”(IA). “A ideia do jornalista solitário, que fica a um canto da redação, já está ultrapassada. O trabalho jornalístico precisa muito do pensamento, da reflexão, da componente académica. Não apenas no tratamento da matéria, mas também na distribuição da mensagem”, remata. Pedro Miguel Santos, jornalista e diretor do projeto de jornalismo independente “Fumaça”, encerrou o painel da manhã defendendo que “o nosso jornalismo não está a definhar, está a crescer. Nós não temos publicidade, não temos conteúdos patrocinados por empresas, não temos ‘paywalls’ ou ‘conteúdos premium’, porque o jornalismo é um bem público e deve estar acessível a toda a gente. A ideia é que quem acredita no que nós fazemos, possa todos os meses contribuir, conjuntamente com bolsas obtidas, para que quem não possa, tenha acesso”. Aqui, público distingue-se de assinante. A “Comunidade Fumaça”, é disso exemplo, com uma série de eventos, clubes de discussão e “Newsletters” específicos para a comunidade e quem a apoie.
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