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UBI acolheu I Encontro Nacional de Jornalistas de Meios Regionais
Alex Martins · quarta, 6 de outubro de 2021 · Pela primeira vez, jornalistas, estudantes e representantes de empresas reunem-se para debater os desafios do jornalismo regional no século XXI. |
O #ENJMR21 é uma iniciativa do Re/media.Lab – Laboratório e Incubadora de Media Regionais |
22050 visitas A Universidade da Beira Interior (UBI) abriu as portas ao primeiro Encontro Nacional de Jornalistas de Meios Regionais, que contou com um número aproximado de 100 pessoas presentes, além de uma média de 250 participantes online, durante os três dias de programação. Ao todo, 10 palestrantes de diferentes áreas do jornalismo foram convidados a discutir temas relacionados às práticas profissionais, à deontologia e à formação dos jornalistas em um momento de grandes transformações impulsionadas pela comunicação no ambiente digital. A necessidade de pensar novos modelos de negócio no setor também esteve no centro do debate. O evento decorreu entre 30 de setembro e 2 de outubro com o tema "Jornalismo nos Meios Regionais no Séc. XXI: Práticas, Deontologia e Formação". Segundo o presidente da Comissão Organizadora, o jornalista e docente da UBI, Nuno Francisco, o propósito do #ENJMR21 era “reunir jornalistas dos media regionais e académicos e debater o estado da arte, e ao mesmo tempo tentar procurar soluções para as questões e desafios que se colocam à profissão”. Nuno Francisco destaca que os desafios no interior de uma redação sempre existiram, mas que a pandemia de Convid-19 agravou os problemas. “Muito mudou nos últimos meses”. Os media regionais se tivessem que adaptar e “fizeram o que podiam”, refere Nuno Francisco, que também atua como diretor de jornalismo no Jornal do Fundão. O docente acrescenta ainda que um dos impactos diretos recaiu nas dificuldades acrescidas de receitas de banca e de recolha de fontes fiáveis, “só informamos se confiarem em nós”. Foi exatamente este o ponto de partida que deu inicio à sessão de abertura do encontro. Nos dias em que foram debatidos os desafios e as soluções, Mário Mesquita, vice-presidente do Conselho Regulador para a Comunicação Social (ERC), salientou que um dos grandes desafios dos meios regionais passa por “incentivar a participação dos cidadãos, fazendo uma ligação entre os órgãos representativos regionais e a população que procura informação, ao mesmo tempo que se defende uma administração aberta com procedimentos claros ao olhar de todos os cidadãos”. Mesquita faz ainda menção ao passado, mais concretamente ao jornalismo dos anos 60, comparando a experiência da censura em Portugal face à realidade do jornalismo no século XXI. “Atualmente, a liberdade de expressão tem de ser ponderada com outros valores, tem de existir alguns limites e critérios sem qualquer forma de censura, apenas regulações necessárias à sociedade. Há liberdade de expressão, mas não toda, porque nunca há toda”, destaca. Como combater o fenómeno das Fake News? Como lidar com o desafio da digitalização? O que representa a velocidade e a quantidade de informação para um jornalismo de presença? Estas oram algumas das questões colocadas pelo público após as sessões, que deram origem aos momentos enriquecedores de debate.
Jornalismo de proximidade e subvalorização dos profissionais “Existe uma subvalorização relativamente aos jornalistas das empresas regionais” refere Joaquim Fidalgo, professor da Universidade do Minho (UM) ao explicar que “um jornalismo de proximidade, ou melhor, um jornalismo regional acaba por ter algumas dificuldades acrescidas relativamente ao jornalismo nacional, sobretudo pelo facto de estarmos mais próximos das pessoas. Existe uma pressão maior sobre os jornalistas, o jornalista regional tem que saber tudo e fazer tudo, em todas as secções e cargos”. Futuro e Jovens foram as palavras que tiveram grande destaque durante os três dias, especialmente quanto a importância da integração dos estudantes em redações locais que é vista como uma mais valia e um benefício mútuo. “Tudo aquilo que a academia promove em geral sobre o jornalismo regional é muito importante porque infelizmente é único, não há muito. Desta forma, os estudantes devem naturalmente aproveitar ao máximo a possibilidade que lhes dão de contactarem com situações, com visões, pessoas e ideias, que de outra maneira talvez não conseguissem. É uma troca de informação mais rica”, salientou João Palmeiro, presidente da Associação Portuguesa de Imprensa (API). Com a transformação tecnológica a ser transversal a todos as sessões, os painéis abordaram no segundo dia questões como a sustentabilidade das empresas e questões laborais, a formação e a deontologia profissional. A professora Ana Isabel Reis, da Universidade do Porto (UP), destacou a importância da componente teórica no plano de estudo dos estudantes, realçando que o papel das universidades é formar jornlaistas e pessoas, não apenas capazes de exercer uma função, mas também de elaborar pensamentos críticos. O acompanhamento dos jovens no seu percurso e posteriormente em estágios curriculares também foi discutido. Sandra Marinho, professora da Universidade do Minho (UM), afirmou que “não é suposto as universidades reproduzirem uma redação. Isso é impossível e pode nem ser desejável, deve sim existir um conjunto de experiências práticas na universidade que contemplem todas as ferramentas necessárias aos estudantes, tudo o que corresponde à componente prática é absolutamente essencial, mas nunca vai ser possível reproduzir uma redução”. No encerramento, o #ENJMR21 contou com a conferência “Cultivating audience trust and community: The experiences of UK local journalists in the coronavirus pandemic”, de Karin Wahl-Jorgensen, professora e investigadora na Universidade de Cardiff, no Reino Unido. Uma ocasião em que apresentou dados de estudos recentes, envolvendo jornalistas de meios regionais naquele país.
Remedia.Lab O Encontro Nacional de Jornalistas de Meios Regionais foi uma iniciativa do Re/media.Lab – Laboratório e Incubadora de Media Regionais, projecto sediado no LabCom – Comunicação e Artes, unidade de investigação da Faculdade de Artes e Letras da UBI. Iniciado em maio de 2018,o projecto decorre até janeiro de 2022 com o cofinanciamento do Centro 2020, Portugal 2020, União Europeia (FEDER) e a Fundação para Ciência e Tecnologia. Nas palavras de João Carlos Correia, Investigador Responsável do Re/media.Lab, hoje mais do que nunca está a ser discutida a questão do jornalismo regional e as razões que aponta estão bem à vista. “O futuro do jornalismo pode até nem ser o jornalismo regional, mas passa de certeza pelo jornalismo regional”, refere. |
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