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Diamante em bruto e ainda por ser explorado
Aline Grupillo · quarta, 1 de setembro de 2021 · Na encosta da Serra da Argemela, a 25km do centro da Covilhã, as Minas da Recheira, abandonadas havia 50 anos, foram transformadas em um dos mais interessantes complexos de turismo mineiro, ambiental e rural da região. O Urbi visitou o local que propõe uma viagem no tempo, com utensílios usados à época da mineração. |
Uma das galerias das Minas da Recheira |
22007 visitas Às margens do Zêzere, o topo da montanha reserva uma vista privilegiada para a Serra da Estrela. Apesar da beleza e da sensação de tranquilidade que o lugar pernite sentir, não era a paisagem o que mais atraía as pessoas para a freguesia do Barco, no concelho da Covilhã, na década de 1960. Aqui existiu uma das mais ativas áreas de extração de minério da Cova da Beira. Das Minas da Recheira ou Minas do Alemão eram retirados o volfrâmio (Volframite) e o estanho (Cassiterite), fundamentais para o abastecimento da indústria bélica durante a 2ª Guerra Mundial e não só. As memórias da época não mentem. Nas minas, trabalharam homens, mulheres e crianças. Famílias inteiras dependiam da atividade económica gerada com a mineração. Enquanto eles, literalmente, partiam pedras, elas as carregaram para o exterior nas chamadas vagonetas. No interior da rocha aberta com picaretas e martelos, os mineradores trabalhavam por horas seguidas, perdiam a noção do tempo a entalhar os filões de quartzo. Um trabalho duro e pesado que marcou gerações de mineiros com doenças respiratórias graves, a principal delas, a silicose. A atividade nas Minas da Recheira foram paralisadas em 1971, mas após 50 anos de abandono este complexo está a ser recuperado com uma proposta completamente diferente, pelas mãos de empresários de Portugal, Brasil e Alemanha que pretendem transformar o lugar em um dos pontos turísticos mais interessantes da região. Os visitantes são convidados a uma verdadeira “viagem no tempo” em que equipam-se “como mineiros”, com coletes e capacetes. Recebem uma aula sobre os minérios e sua utilidade e partem para uma visita a 50 metros abaixo do solo. Segundo o engenheiro Luís António, Diretor Geral do empreendimento, a requalificação das minas para o turismo já dura seis anos e deve exigir o investimento global de cerca de 4 milhões de euros. No interior das montanhas, as luzes de led guiam os turistas pelos caminhos abertos na rocha e por onde 200 mineiros retiravam o chamado “ouro negro”, devido a cor do volfrâmio. “Inicialmente, o objetivo era fazer a reconversão das casas dos antigos mineiros em alojamento, mas depressa conseguimos perceber que tinha potencial dentro dessas minas abandonadas. Os investidores sempre acreditaram que era possível recuperar a cultura, o património vivo e de emoção destas terras”. Desde que foi aberto ao turismo mineiro, ambiental e rural, o espaço já recebeu milhares de visitantes e foi o cenário escolhido por uma série televisiva produzida pela RTP1. A extensão das várias galerias mineiras são de vários km. No seu interior, perde-se a noção do tempo, mas o passeio pelas partes mais interessantes, sob o ponto de vista geológico, didático, lúdico, educativo, pedagógico e científico demora cerca de uma hora. O programa mais simples inclui a visita a um pequeno Centro de Interpretação Mineiro e a galeria mineira nº 1, mas há pacotes para todos os gostos, bolsos e vontade de explorar. Um deles, permite observar mais galerias, um lago, pontes, torvas-mineiras, além de experimentar o uso do gasómetro antigo, única fonte de energia nas minas. Animais de estimação também podem ir junto com os donos. A família de Vila Nova de Famalicão escolheu a Beira Interior como destino para as férias e foi por acaso que descobriu o turismo mineiro. “Tivemos a sorte de apanhar um grupo simpático para fazer uma viagem no tempo. Só de imaginar a dificuldade que as pessoas tiveram na altura, já dá peso”, contou a turista Graça Farias ao fim do percurso. Completar anos em uma mina não estava nos planos do empresário Felipe Garcia, mas descobriu o passeio no dia do aniversário e decidiu experimentar. “Foi uma experiência muito, muito interessante ver com o que as pessoas trabalhavam, tinham que lutar para extrair o minério, com pouca luz e com poucas condições. Fica um enriquecimento próprio e o reconhecimento que hoje temos muita sorte, temos quase tudo e não aproveitamos nada”. De acordo com o diretor, as Minas da Recheira têm projetos para expansão e melhorias das instalações, como a construção de piscinas, jacuzzi e um restaurante.
Ex-libris das Minas da Recheira A 180 metros do início da montanha e mais de 50 metros de profundidade, sem qualquer incidência de luz, repousam quase 5 mil garrafas de espumantes e pipas de vinho. Trata-se de um método inédito e raro em Portugal, referente aos estágio da maturação, amadurecimento e envelhecimento das bebidas, que são mantidas a uma temperatura natural e constante de 12°. O diretor Luís António explica que as condições da própria rocha permitem a fermentação ideal dos vinhos sem que seja necessária qualquer tecnologia associada. O vinho é testado e monitorado de uma forma permanente pelos enólogos, para saber a evolução dos aromas e sabores, mas também a consistência, estrutura, textura e potencial de envelhecimento das bebidas. Dependendo do pacote escolhido, a visita guiada inclui a prova das bebidas e produtos da região como o queijo da Serra da Estrela.
Serviço Visitas: Todos os dias Horário: 10h e às 13h e a partir das 15h. As visitas são feitas mediante agendamento prévio através do telefone +351 912275075 e +351 910535645, ou pelo e-mail minas.recheira@gmail.com Localização: Utilize a app Waze |
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