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“O meu maior desafio é criar um projeto para o cliente e não para mim”
Sara Monteiro · quarta, 17 de mar?o de 2021 · UBI Organizado pelo NAUBI, o Moviment.A é o maior evento organizado por estudantes de Arquitetura no país e tem por objetivo “a promoção da aquisição de competências”, bem como “despertar apetências, interesses, sentido crítico e o exercício da expressão criativa dos alunos de Arquitetura da UBI e de quaisquer participantes”. Esta edição contou com 17 oradores, cujas apresentações foram distribuídas durante cinco dias. |
Terminal rodoviário de Castelo Branco, elaborado pelo atelier “Risco”. |
22017 visitas Na passada quarta-feira, dia 10, ocorreu mais uma sessão do 18º Ciclo de Conferências de Arquitetura, Arte e Design intitulado Moviment.A, com a presença do arquiteto Miguel Saraiva do atelier "Saraiva + Associados" e o arquiteto Tomás Salgado do atelier "Risco". Miguel Saraiva, criador e chefe arquiteto do atelier "Saraiva + Associados", bem como autor e coautor das obras é, também, "quase um diretor criativo que obriga um seguimento de uma determinada linguagem e forma de estar na arquitetura" criando "um padrão de qualidade em diferentes áreas, da parte conceptual à parte técnica". Formado em 1995, o arquiteto confessa: "O tempo passa a correr porque quando nós gostamos desta atividade, ela toma conta da nossa vida". No ano seguinte, fundou o atelier, com sede em Lisboa, trabalhando como "mais um arquiteto no mercado, e isso teve imensos riscos", acarretando um "esforço enorme". "Ser autodidata foi inevitável" numa decisão que é pouco comum, pois Miguel Saraiva não passou pelos estágios habituais de trabalhar, em primeiro lugar, num "grande gabinete de arquitetura, nem para um grande arquiteto de referência nacional ou internacional". Miguel confessa que teve "sorte" em ter ganho alguns concursos onde teve oportunidade de desenhar aquilo em que acreditava, captando desta forma alguns clientes "e isso foi importante porque deu, não só uma motivação extra porque trabalhava para mim, tendo um pensamento próprio desde muito novo, por vezes inconsciente e, de certa forma, selvagem, mas também foi crucial para a consolidação do 'Saraiva + Associados' ao longo dos anos". Atualmente, no atelier conta com cerca de 150 pessoas a trabalhar a seu lado, "quase todos arquitetos" e apenas fazem arquitetura dentro de casa: "não fazemos especialidades, apenas arquitetura". A coordenação dos projetos é realizada de forma externa, isto porque a tendência das estruturas de arquitetura, quando elas crescem, é começarem a somar outras áreas de atuação, as quais o arquiteto não domina, a não ser de uma forma empírica. "O meu foco é o desenho e o desenvolvimento da arquitetura", remata. Em relação ao nível de encomendas, o setor "sofre variações muito grandes, devido aos ciclos de economia" e isso é refletido nos contratos que o arquiteto tem, quer seja de cariz privado ou público. Em 2008, 2011 e 2012 houve ausência total de pedidos, tendo um impacto direto na atividade de 80 trabalhadores, levando à decisão de investir na abertura de ateliers fora do território nacional (hoje estão sediados em 11 países e quatro continentes). Referindo que "90 por cento das encomendas são privadas", Miguel Saraiva destacou os seguintes projetos na conferência: a sede da Polícia Judiciária em Lisboa; o Hospital Beatriz Ângelo em Loures; os escritórios Ocean Towers em Luanda; o Forte Bank Headquarters, no Cazaquistão; o colégio Park International School em Alfragide; os escritórios Savile Office Building em Bogotá, Colômbia e a Casa Nova Lima, em Minas Gerais, Brasil. Em fase de contrução habitacional está o Infinity Tower, em Lisboa. Relativamente à mão de obra, o arquiteto afirma que a mão de obra portuguesa é “muito qualificada” e merece todo o respeito, todavia, “é muito mal renumerada e muito pouco respeitada”. No ranking "WA100" (World Architecture), o atelier "Saraiva + Associados" ganhou o 10º lugar de maior gabinete de arquitetura de sustentabilidade e o 87º maior gabinete de arquitetura a nível mundial.
"Risco" apresenta projetos
Tomás Salgado, acionista e arquiteto do atelier de arquitetura e desenho urbano "Risco", sediado em Lisboa, conta com Nuno Lourenço, Carlos Cruz e Jorge Estriga na sua equipa desde 1994. Quando foi fundado, em 1974, era apenas um atelier de design gráfico e industrial. Em 1985, Manuel Salgado, pai de Tomás, "tomou conta da sociedade", transformando-a num atelier vocacionado para o urbanismo e arquitetura. O Centro Cultural de Belém (com esta construção, deu-se o pico de crescimento do "Risco"), os espaços públicos da Expo'98 e o Estádio do Dragão são alguns dos projetos de arquitetura mais importantes realizados neste atelier. Na sua apresentação, Tomás Salgado destacou alguns projetos realizados até hoje: Contexto (urbano ou rural): como o Terminal Marítimo da Horta, o Passeio Ribeirinho do Seixal e o campus do Palácio Presidencial Nicolau Lobato (o projeto ganhou um concurso, mas a sua construção não foi avante); Durabilidade: Cidade do Futebol, em Oeiras, bem como os escritórios da Federação Portuguesa de Futebol; Fazer cidade: onde engloba três componentes, como planos de urbanização, espaço público e edifício, apresentando um complexo de escritórios em Lisboa (denominado de "EXEO") e o Quimiparque do Barreiro; Conforto (interior dos edifícios): Cidade do Futebol (relativamente aos tapetes, tecidos, madeira, pedras com tons quentes, texturas lisas ou rugosas) e a ampliação do Hospital da Luz em Oeiras e Lisboa; Serviço: refere-se à facilidade da utilização "quando se consegue evitar que um edifício se torne um tormento para o seu dono e quando se consegue que este tenha um papel estruturante na cidade, servindo instituições sólidas". O arquiteto declara que quando recebe encomendas, o seu atelier assume grandes responsabilidades porque o cliente "deposita muita confiança", fazendo um "grande investimento". Posto isto, é crucial que o projeto corresponda às suas necessidades. Questionado pelo Professor da UBI e moderador da sessão, Jorge Marum, em relação ao conforto referido anteriormente, o arquiteto do atelier "Risco" pensa que o esse aspeto está a ser colocado de parte, para que a "pureza dos edifícios" esteja patente. "A arquitetura, obviamente, também tem modas. Nós assistimos, nos últimos 15 anos em Portugal a uma adesão muito forte por parte das universidades a uma arquitetura muito despojada", quando se formou, em 1994, estava patente uma arquitetura muito minimalista. No que respeita à decoração de interiores, o arquiteto lamenta que os designers dessa área não sejam "acarinhados" em Portugal. A Direção do Núcleo de Estudantes de Arquitetura (NAUBI) sustenta a importância deste evento, onde a "partilha de vivências e perspetivas sobre a prática da arquitetura e atividades diretamente ligadas constitui uma extrema mais-valia para a nossa formação". Nesta edição, decidiram que o foco fosse "a visão que cada um dos próprios oradores tem da profissão". Relativamente a pontos negativos: "surgiram problemas clássicos, como por exemplo pessoas que não conseguiam aceder ao evento online, o que nos levou a ter de mudar o link a meio das conferências e, consequentemente, corrigi-lo em todas as publicações", bem como o máximo de participantes no Zoom ser limitado a 300 pessoas. Todavia, a Direção confessa que este ano tiveram a "fantástica oportunidade de partilhar a experiência de arquitetos do México ou da Bélgica ou de, graças ao poder da imagem, beneficiarmos de uma vista sobre os ateliers dos nossos conterrâneos e as suas valiosas maquetes, uma oportunidade única. O feedback também foi muito positivo e recebemos muitas mensagens a felicitar-nos pelas conferências e por termos conseguido um painel de renome nacional e internacional", concluiu o NAUBI. |
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