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"Projetos desta dimensão temos que ter a certeza que não vão falhar"
Rafael Mangana · quarta, 10 de mar?o de 2021 · @@y8Xxv O nome de Florbela Costa ganhou algum mediatismo no passado mês de fevereiro, por ter participado na preparação de motores do Ingenuity, o helicóptero da missão a Marte. Formada em Engenharia Aeronáutica pela UBI, trabalha atualmente numa empresa suíça da área e mantém a humildade dos tempos em que "camaradagem" era a palavra forte nos corredores da Faculdade de Engenharia. |
Florbela Costa |
22022 visitas Urbi et Orbi: Porquê Engenharia Aeronáutica e porquê na UBI? Florbela Costa: Na altura eu queria ter entrado na Força Aérea para Engenharia Aeronáutica. Fiz a candidatura, fiquei em quarto lugar, mas só havia duas vagas. Decidi então estudar Aeronáutica na UBI, porque era a única universidade de Portugal que oferecia o curso, que era a minha paixão. A minha ideia era depois de tirar o curso ir para a Força Aérea diretamente para Tenente. Isso depois não aconteceu, acabei por ir trabalhar para o CEiiA (Centre of Engineering and Product Development), porque surgiu esta oportunidade fantástica de trabalhar no projeto da Embraer, e ali estive durante cinco anos e meio e não estou nada arrependida. Foi a melhor decisão que podia ter tomado, tanto a universidade como o trabalho.
U@O: Podemos dizer que valeu a pena aquele quarto lugar? FC: Sim, exatamente. Hoje não trocaria o meu percurso por nada.
U@O: O que recorda dos tempos da UBI? FC: Recordo a camaradagem. Eu acho que o espírito na UBI era fantástico, foi das coisas que mais me marcaram. Nós, que estávamos em Aeronáutica, vínhamos de todos os lados de Portugal continental e ilhas, e as pessoas que estavam neste curso tinham paixão e queriam mesmo cá estar e a Universidade da Beira Interior era o sítio indicado para se estudar esta área. Então, a camaradagem era muito grande e é, sem dúvida, das melhores memórias que tenho.
U@O: Por se localizar numa cidade pequena, pode a UBI ter esta vantagem na construção de laços entre as pessoas? FC: Sim, sem dúvida. As turmas eram mais pequenas e mesmo a camaradagem entre os diferentes cursos se fazia sentir. Acho que a UBI ganha muito por estar inserida numa cidade pequena. No fundo, cria-se uma espécie de família e sentimo-nos em casa.
U@O: Como tem sido o seu percurso profissional desde que saiu da UBI até hoje? FC: Penso que apresentei a minha tese de mestrado a 18 de novembro de 2011 e a 23 de novembro comecei a trabalhar no CEiiA, nesta oportunidade fantástica, onde estive, como já disse, cinco anos e meio. Praticamente um ano foi no Brasil, diretamente nas instalações da Embraer. Depois, em 2017, vim para a Maxon, na Suíça, onde trabalho desde então.
U@O: É, atualmente, a gestora técnica responsável pela preparação dos motores que controlam a inclinação das pás do helicóptero que recentemente aterrou em Marte. Como se sente por fazer parte deste projeto? FC: Sinto-me uma privilegiada. Tive muita sorte nas minhas escolhas profissionais, tanto o CEiia como agora a Maxon deram-me oportunidades fantásticas. Todos os colegas que conheci que trabalhavam no CEiiA pensavam o mesmo, que a oportunidade que tivemos por ali trabalhar foi uma oportunidade fantástica, e foi devido ao consórcio português que tal foi possível. Eu acho que essas iniciativas são muito importantes para os engenheiros portugueses terem esta aprendizagem dentro do país e terem estas oportunidades fantásticas para trabalhar. Em relação a este projeto de Marte, penso que fui mesmo sortuda. O trabalho que comecei na Maxon era de gestora de projeto para Aerospace, ou seja, comecei com projetos para aeronáutica e para o Espaço - neste caso, para Marte - e desde o início do ano passado que só estou dedicada a projetos para o Espaço. Mas sinto que foi mesmo sorte, poderia estar a fazer projetos para Aeronáutica, que a minha empresa também faz. Mas mostrei interesse em projetos para o espaço e neste momento só me dedico a esse tipo de projetos.
U@O: Que tipo de desafios se apresentam num projeto desta envergadura? FC: Desde logo, a documentação requerida para este tipo de projeto é totalmente diferente, o nível de testes também são muito mais exigentes. São requisitos mais elevados do que para a aviação. Tivemos a equipa toda a trabalhar neste projeto e projetos destas dimensão temos que ter a certeza que não vão falhar, porque depois não é possível ir lá e substituir o motor. Nesse sentido, temos que fazer muitos testes - neste caso em concreto, fizemos testes de vibração, testes de choque, ciclos de temperatura, testes de humidade - para garantir que as condições extremas que os motores vão ter em Marte não os vão prejudicar e para ter a certeza que vão atuar quando pedido.
U@O: O que se sente quando se vê o aparelho aterrar em Marte? FC: Estávamos todos a cruzar os dedos para ter a certeza que ia correr tudo bem. A equipa estava toda numa reunião online a ver ao vivo a NASA a aterrar o rover e o helicóptero. Foi suster a respiração durante aqueles últimos minutos, foram momentos de extrema alegria para todos nós.
U@O: Que papel sente que teve a UBI neste percurso de sucesso? FC: Foi muito importante. Eu acho que a Universidade da Beira Interior prepara muito bem os seus engenheiros. Tenho outros colegas meus, que também tiraram Engenharia Aeronáutica na UBI, que se encontram aqui na Suíça a trabalhar na área, outros que se encontram noutros países da Europa, também em Portugal, e todos eles se deram muito bem, todos eles têm trabalhos muito bons na área e acho que isso é muito devido à nossa formação académica. Mesmo ao nível do mercado de trabalho no estrangeiro, tenho a certeza que já vêem com outros olhos os engenheiros portugueses.
U@O: Que conselhos poderia deixar a um atual aluno de Engenharia Aeronáutica da UBI para vingar nesta área? FC: Dir-lhe-ia, em primeiro lugar, para nunca desistir dos seus sonhos, mas que tenha noção que para conseguir chegar lá é preciso trabalhar, é preciso estudar, é preciso mostrar que está interessado e que quer chegar longe. Depois, é preciso lutar, é um desafio atrás do outro e mostrar aquilo que é capaz.
Nome: Florbela Costa Naturalidade: Trappes (França) Curso: Engenharia Aeronáutica Ano de entrada na UBI: 2006 Filme preferido: “Les misérables” Livro preferido: “A new earth”, de Eckhart Tolle Hobbies: Correr, jogar ténis, fazer mergulho, trekking |
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