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"Sem o 'não' da FCT não estaria onde estou hoje"
Rafael Mangana · quarta, 2 de fevereiro de 2022 · @@y8Xxv Entrou na UBI em 2007 pela porta de Ciências Farmacêuticas, mas acabou por se licenciar e tirar mestrado em Biotecnologia. Patrícia Pereira Aguilar abraçou depois o desafio de sair do país e é atualmente cientista em Viena, cidade onde se doutorou e onde é também mentora de alunos de doutoramento, mestrado e licenciatura. |
Patrícia Pereira Aguilar |
22079 visitas Urbi et Orbi: Porquê Biotecnologia e porquê na UBI? Patrícia Pereira Aguilar: Na verdade, a escolha inicial não foi Biotecnologia, os meus primeiros dois anos de universidade foram em Ciências Farmacêuticas. Na altura a escolha foi um pouco aleatória, eu só sabia que queria algo ligado à ciência, e as disciplinas pareciam interessantes. Passado dois anos, numa entrevista para uma bolsa de investigação um professor perguntou-me: "porque é que estás em Farmacêuticas e não em Biotecnologia?" (que ainda não existia na UBI quando eu entrei). E eu não soube responder, porque na verdade o que eu gostava no curso de Farmacêuticas era a parte da Biotecnologia. E depois dessa reunião e de alguma pesquisa decidi mudar de curso. A UBI, foi porque eu não estava pronta para sair da minha zona de conforto. Nessa altura eu nem sequer sonhava em mudar de cidade, quanto mais de país.
U@O: Revelou-se acertada essa mudança? PPA: Completamente. Adorei o curso, fiz licenciatura e mestrado em Biotecnologia na UBI e ainda cheguei a iniciar o doutoramento lá (em Bioquímica), mas acabei por não conseguir a bolsa da FCT e tive a oportunidade de concorrer à posição de doutoramento que acabei por aceitar aqui em Viena.
U@O: Como está a correr a experiência? PPA: Já cá estou desde Setembro de 2015, acabei o doutoramento o ano passado em fevereiro e fiquei a trabalhar por cá. Adoro a cidade e o ambiente de trabalho também. Ao início foi desafiante, falar inglês o tempo todo e lidar com tudo em alemão, que eu comecei a aprender em Portugal dois meses antes da mudança, mas não sabia falar e não entendia quase nada. Hoje já me sinto integrada, mas a minha casa será sempre em Portugal. Acabei por conhecer aqui o meu marido (alemão), mas temos vontade de um dia mais tarde viver em Portugal.
U@O: Como tem sido o seu percurso profissional desde que saiu da UBI até aos dias de hoje? PPA: Licenciei-me e tirei o mestrado em Biotecnologia na UBI, depois o doutoramento fiz na BOKU (University of Natural Resources and Life Sciences, Vienna), num programa chamado BioTop (International PhD program in protein biotechnology). Ainda antes de acabar o doutoramento fui contratada pela ACIB (Austrian Centre of Industrial Biotechnology ), onde ainda trabalho. Comecei como staff, depois postdoc e agora cientista desde janeiro deste ano. Trabalho em três projetos, dois dos quais sou a coordenadora. Sou ainda mentora de alunos de doutoramento, mestrado e licenciatura, acompanho as teses deles e o trabalho no laboratório. O trabalho que faço é na área de vacinas, o que hoje em dia é ainda mais fascinante.
U@O: Nesse âmbito, que opinião tem acerca das vacinas agora em circulação para combater a Covid-19? Muito se tem debatido, porque saíram para o mercado muito mais depressa que o habitual. Tem opinião formada sobre o tema? PPA: Há vários fatores que explicam o rápido desenvolvimento e chegada ao mercado das vacinas, e também é preciso considerar que estas tecnologias são estudadas há muitos anos. Um dos fatores, é o facto de empresas e governos terem investido muito mais dinheiro do que habitualmente. Outro fator, talvez um dos que mais contribuiu, é que quando se fazem ensaios clínicos para uma vacina nova, as pessoas vacinadas são saudáveis, tanto as que levam a vacina como as que levam o placebo. Depois é preciso esperar até que se perceba se as que levaram o placebo ficam doentes enquanto que as que levaram a vacina estão protegidas. Ora em tempo de pandemia, é muito mais provável e rápido que as pessoas que levaram o placebo sejam infetadas. Os resultados surgem muito mais rápido. Para não falar de que de repente, toda uma comunidade científica (empresas, universidades, centros de investigação) se focou em encontrar soluções. Há decerto mais fatores que contribuíram, estes são só exemplos.
U@O: Numa altura em que alguns especialistas afirmam que mais pandemias podem surgir no futuro, será esta área cada vez mais importante para a sociedade? PPA: Sim, é uma área muito importante. Mas já era antes da Covid. Nós nos países desenvolvidos é que não temos tanta noção, porque temos bons planos de vacinação, mas nos países subdesenvolvidos os desafios são maiores. Para além de se fazer vacinas é preciso fazer vacinas que cheguem a todos.
U@O: No seu caso pessoal, sente que a UBI lhe deu boas ferramentas para poder vingar no mercado de trabalho? É uma universidade bem considerada nestas áreas? PPA: Sem dúvida. A UBI prepara os alunos muito bem. Para além disso eu fiz investigação desde cedo com a Professora Cristina Cabral que tem uma boa rede de contactos internacionais, foi ela que me guiou até à posição de doutoramento para a qual concorri na Áustria (fui escolhida de entre 400 candidatos para as entrevistas, éramos cerca de 30, foram três dias de apresentações e entrevistas com professores. Fui uma dos 14 que foram escolhidos e fiquei com o projeto que queria, foi uma vitória especial logo depois de não ter ganho a bolsa da FCT). Trabalhei no grupo de investigação da professora Cristina Cabral cerca de 6 anos, parte em voluntariado, parte com diversas bolsas. Estarei sempre muito grata por tudo o que ela me ensinou e por todas as portas que ela me abriu.
U@O: E o que mais recorda dos tempos da UBI? PPA: Para ser sincera, a EncantaTuna foi grande parte da minha jornada na UBI e onde conheci as minhas melhores amigas. Tenho imensas saudades e sempre que posso ainda regresso ao “Feitiço” (o nosso festival). Para além de ter sido onde conheci das melhores pessoas da minha vida, que ainda hoje fazem parte dela foi também onde mais cresci em termos pessoais e profissionais.
U@O: O que é que a UBI e a Covilhã têm de tão especial para, passados estes anos, ainda ter vontade de regressar? PPA: A Covilhã é também a minha casa, sou dos Vales do Rio que é uma aldeia do concelho da Covilhã. A UBI deixa saudades, as latadas, as festas, receções ao caloiro, as tempos no laboratório, a tuna.. o coração está cheio de memórias boas.
U@O: Que conselhos deixaria a um aluno atual da UBI para vingar no mercado de trabalho nesta área? PPA: Em primeiro lugar é preciso ser persistente. Apesar de haver excelentes grupos de investigação nesta área em Portugal os fundos são limitados. Mas há muitas oportunidades pelo mundo fora e uma experiência no estrangeiro é transformadora. Se querem mesmo seguir carreira em Biotecnologia, candidatem-se a várias posições, não se limitem à vossa zona de conforto e não desistam. Eu também tive o “não” da FCT, e foi o melhor que me podia ter acontecido, de outra forma não estaria onde estou hoje.
Nome: Patrícia Pereira Aguilar Naturalidade: Vales do Rio (Covilhã) Curso: Biotecnologia Ano de entrada na UBI: 2007 Filme preferido: “Inception” Livro Preferido: “O Principezinho”, de Antoine de Saint-Exupéry Hobbies: cozinhar; crossfit
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