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Defendida primeira tese de doutoramento em Media Artes
Rafael Mangana · quarta, 13 de janeiro de 2021 · @@y8Xxv Trabalho de investigação pioneiro da autoria de Tiago Fernandes foi aprovado por unanimidade. |
As provas de doutoramento puderam ser acompanhadas online |
22002 visitas "Escutar as paisagens: experiências sensoriais subjectivas e ressignificadas" é o nome da primeira tese de doutoramento em Media Artes defendida na Universidade da Beira Interior. O trabalho foi aprovado por unanimidade esta terça-feira, 12 de janeiro, numa prova que decorreu na Sala dos Atos da Reitoria da UBI e que também pôde ser acompanhada online. Tiago Fernandes, autor da tese e docente da Faculdade de Artes e Letras (FAL) da UBI, explica que “o trabalho resultou de uma investigação desenvolvida ao longo dos últimos três anos e que assenta essencialmente nas obras artísticas 'Retroinstalação' e 'Entre tempos'. O que pretendo é refletir acerca do conceito de paisagem, não apenas no sentido visual, mas no sentido sonoro, propondo uma re-hierarquização dos sentidos. No fundo, as paisagens podem ser ressignificadas e, de alguma maneira, subjetivas. Dependendo da herança acústica das pessoas, as paisagens vão sendo reformuladas”. O autor defende, assim, que a escuta não é meramente auditiva, mas multissensorial, já que apela a todos os sentidos na observação de uma paisagem. “As paisagens sonoras e os territórios sonoros são sempre uma experiência sensorial, dependendo sempre da subjetividade de cada pessoa, tendo em conta as diferentes referências acústicas, religiosas, sociais ou políticas, afetivas, demográficas, entre outras” são as principais conclusões do trabalho apresentado. Tiago Fernandes é licenciado e mestre em Cinema pela UBI. Para além de ser atualmente docente da FAL, é Diretor de Som para Cinema e Televisão. Nesse sentido, “foi muito importante este doutoramento ter surgido na UBI, porque a minha experiência é eminentemente prática, sendo que se trata de um trabalho que é desenvolvido não a partir de uma pesquisa clássica, mas é uma mistura entre a prática e a teoria, o que é fundamental. A UBI está a ser também pioneira neste aspeto”, considera o autor. Trata-se, de resto, de um dos primeiros cursos em Portugal onde se pode desenvolver um doutoramento a partir de uma prática artística, alargando, assim, o espectro científico. “A partir daqui há muita coisa que pode ser feita, não apenas no som para Cinema, mas no âmbito do som em geral, ao nível da sua preponderância e valorização em relação a outras áreas. Pelo menos no meu caso, o trabalho vai ser aproveitado para continuar a investigar dentro desta área”, revela Tiago Fernandes. A tese, cujo orientador foi o docente da FAL Paulo Cunha, teve como arguentes Mirian Tavares (Universidade do Algarve) e Maria Rita Sixto (Facultad de Belas Artes da Universitat del País Vasco-Euskal Herriko Unibertsitatea). Os docentes da UBI Paulo Serra (presidente do júri), Francisco Paiva, Luís Nogueira e Paulo Cunha, bem como, Sérgio Emanuel Dias Branco (Universidade de Coimbra) e Filipa Raposo do Amaral (Universidade de Lisboa), compuseram o júri definido para as provas. Para o diretor do curso, “esta defesa tem um carácter simbólico, na medida em que o doutoramento em Media Artes foi o primeiro no país e é uma área de convergência de diferentes formações de índole artística que a Universidade da Beira Interior oferece, promovendo esta confluência entre o Cinema, o Design, as Artes Visuais, mas também outras áreas conexas, como a Arquitetura e até as artes performativas”. Francisco Paiva sublinha que o carácter teórico-prático da tese de Tiago Fernandes “é também muito próximo da ideia que nós tínhamos quando lançámos o curso para a circunscrição de um campo epistemológico carente de tradição académica, não só em Portugal”. O docente da FAL esclarece que esta “é uma área que em termos de tradição internacional terá cerca de 40/50 anos, coincidindo com o advento da videoarte, mas em Portugal não estava ainda inscrita nesta matriz académica e nesse aspeto para nós Universidade da Beira Interior e, fundamentalmente, para o jovem departamento de Artes e para o grupo de Artes do LabCom é um marco”. Por outro lado, “inaugura um campo de estudo, é uma tese que fica de referência, na medida em que circunscreve também uma linha de investigação, um campo de trabalho do qual o Tiago é o maior especialista, porque a ideia, do ponto de vista do reconhecimento das competências adquiridas e também desta chancela que a universidade lhe dá para se constituir enquanto investigador autónomo e constituir também uma área de fronteira entre o Design Multimédia, o Cinema, e na qual a UBI deposita também grande expetativa, porque a componente sonora é absolutamente inalienável da Arte Contemporânea”, considera o diretor do curso de Media Artes. “Foi muito importante contar também com um júri de especialistas, com uma grande componente internacional, que validou também um pouco esta nossa pretensão desde o ponto de vista académico e também pelo reconhecimento que a universidade começa a ter junto dos seus pares. E para nós também foi muito grato verificar que o trabalho que vamos fazendo nos seminários, workshops e atividades conexas depois se rebatem neste trabalho que tem uma substância científica inquestionável”, sublinha Francisco Paiva. “Tínhamos muitos cursos de primeiro e segundo ciclos, e este doutoramento vem dar alguma legitimidade, na medida em que os doutoramentos estão cada vez mais vinculados à investigação e não tanto ao ensino. Mas é isso que permite depois, também, atualizar e qualificar o corpo docente que assegure o primeiro e segundo ciclos”, remata o docente da FAL.
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