Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
"A UBI foi uma experiência muito marcante"
Rafael Mangana · quarta, 4 de novembro de 2020 · @@y8Xxv O destino parecia encaminhá-la para as áreas das Ciências, mas a sua forma de ser fez da Comunicação o caminho natural a seguir. Ana Camboa entrou na UBI em 2006 e não esquece a instituição e a cidade que a ajudaram a formar como pessoa e profissional. |
Ana Camboa |
22107 visitas Urbi et Orbi: Porquê Ciências da Comunicação e porquê na UBI? Ana Camboa: Costumo dizer que acabou por ser o curso a escolher-me. Em termos de percurso académico, vinha da área das Ciências, mas a Comunicação sempre foi algo bem entranhado no meu código genético. De forma inconsciente sempre a incluí no meu dia-a-dia em muitas atividades, fosse na escola ou em lazer. O lado difícil foi mesmo esse: escolher. Para uma pessoa com muita paixões torna-se um verdadeiro dilema fazer uma opção. Tal como muitos jovens, tinha traçado um plano para a minha vida profissional que, a longo prazo, foi sofrendo mutações. A Comunicação é aquele mundo que engloba um pouco de cada esfera e que nos permite, ao mesmo tempo, estar em convívio com várias paixões. Para quem gosta do contacto com os outros, de ter uma palavra a dizer, de fazer a diferença, de dar voz a quem muitas vezes passa despercebido; para quem gosta de contar ou dar a conhecer histórias e o rosto por detrás delas, para quem gosta de viver atualizado, de esmiuçar os temas da sociedade e para quem gosta de se sentir desafiado todos os dias, a Comunicação é um bom começo. É um curso abrangente e que nos abre portas para várias áreas profissionais diferentes. A UBI foi a minha primeira opção. Não conhecia a universidade, mas tinha uma prima a estudar há três anos na Covilhã e, por motivos familiares, acabou por ser a opção mais viável dado o contexto da altura. Confesso que não era esse o projeto inicial de quem já tinha sonhado desde pequena com o ingresso na faculdade. Sendo do Norte, sempre fez parte dos meus projetos ficar num polo universitário mais perto de casa. Como se costuma dizer, "a vida acontece". As circunstâncias mudam... e temos de nos adaptar.
U@O: Valeu a pena a escolha? AC: Valeu muito a pena. O meu primeiro semestre foi incrível. A adaptação à Universidade foi muito fácil. Era tudo novidade e aquela sede e ânsia de explorar "o novo" camufla tudo o resto. Depois as coisas complicaram-se... A saudade começou a falar cada vez mais alto e esse foi o fator mais difícil de combater. "Estar longe" não foi fácil. Mas o curso de Ciências de Comunicação é muito completo. Apesar de todas as cadeiras teóricas características do curso, a vertente prática é, sem dúvida, uma mais-valia. O material e os laboratórios que têm às disposição dos alunos devem mesmo ser aproveitados. A UBI é uma referência a esse nível. A cidade é ótima para estudar, é uma cidade serena, segura, vive muito dos estudantes e para eles. Sendo uma cidade pequena, conseguimos estar envolvidos no espírito universitário e sempre com estudantes dos mais diversos cursos. E estar longe de casa (pela primeira vez) foi desafiante e enriquecedor.
U@O: E o que recorda desses tempos de UBI? AC: Tudo! Foi uma experiência muito marcante. Desde o primeiro dia das matrículas, os ensaios para a latada, o dia da latada em si (em que ficámos em 4º lugar, mas era como se tivesse sido o 3º, porque Medicina "não conta"). Subi ao palco para cantar o "discurso" e foi uma sensação que não se esquece. Viveu-se um espírito de equipa fantástico e perdemos a voz de tanto cantar com alma e orgulho. O batismo (vamos deixar o nome de "caloira" de parte)... Impossível esquecer as serenatas, a milícia do "mel" (a mais temida)... os jantares de curso, as visitas à Serra da Estrela, onde fazíamos "sku" com sacos de plástico! Os serões no "bairro alto". As aulas de Semiótica também são difíceis de esquecer e a figura incontornável e marcante do professor António Fidalgo. Não posso deixar de parte o professor João Canavilhas e a influência que tem no percurso de todos os alunos. E quando digo que é tudo, é mesmo tudo. Já se passaram muitos anos, mas existem memórias muito frescas.
U@O: E sente que essas vivências, dentro e fora da sala de aula, a moldaram de alguma forma e depois influenciaram o seu percurso? AC: Sem dúvida. No meu caso, que escolhi a vertente "televisão", além das regras e aspetos básicos de um repórter perante as câmaras, sabia editar vídeo, sabia trabalhar com as câmaras, compreender os planos de imagem... Percebi que era um conhecimento (e até experiência) mais completo e abrangente - e que acabou por ser valorizado mais tarde pelos primeiros locais onde ingressei profissionalmente. Ainda hoje aplico vários conceitos que aprendi na universidade e que nunca mais esqueci. Num contexto laboral em que se exige cada vez mais que os jornalistas sejam polivalentes, sinto que a UBI me deu uma boa bagagem para dar os primeiros passos. O trabalho em equipa, o lidar com a divergência de opiniões, com personalidades tão distintas, a aceitação pela diferença, o confronto com situações de crise, com o imprevisto, a frustração... tudo isso foi trabalhado, moldado e aperfeiçoado nesse contexto universitário.
U@O: O mercado de trabalho nesta área reconhece essas ferramentas que a UBI dá aos profissionais que dela saem? AC: Na altura em que ingressei nos primeiros desafios profissionais, a sensação que tive foi que os profissionais ficavam surpreendidos pela "bagagem" e noção técnica que, neste caso, eu ia manifestando. Uma surpresa que vinha quase sempre acompanhada da pergunta: "em que universidade estudaste?". E, embora não tivesse essa noção, a UBI (no que à Comunicação diz respeito) está muito bem cotada pelos profissionais da área. Ao longo do meu percurso profissional, acabei por me cruzar com algumas pessoas que frequentaram a UBI em anos bem diferentes do meu. Por isso, mais do que o mercado de trabalho reconhecer essas ferramentas, acho que é o trabalho dos alunos que a UBI formou que tem falado por si. E acredito que de uma forma mais ou menos influente, a universidade tem responsabilidade nisso.
U@O: Como tem sido o seu percurso profissional desde que saiu da UBI até hoje? AC: Depois de terminar a Universidade, optei por fazer o Mestrado no Porto. Formei-me em Estudos de Media e Jornalismo, na Faculdade de Letras do Porto. Depois fiz o meu primeiro estágio na TVI - Delegação do Porto, entre 2010 e 2011. Entre 2014 e 2015 acabei por abraçar um projeto regional/local que detinha uma série de WebTV's (na zona do Vale do Sousa). Sem dúvida, um projeto muito enriquecedor, onde (com todas as limitações comuns a projetos mais pequenos), era desafiada e posta à prova todos os dias. Trabalhava e cobria uma vasta zona territorial, e assumia todas as funções: repórter, repórter de imagem, fotojornalista, redação de notícias para o jornal. Depois integrei e estive na fundação de um projeto mais nacional: a Global TV. Trabalhei também num canal de desportos motorizados: a MaisMotorTV e ainda numa televisão para as comunidades chinesas em Portugal, a CCTV Portugal que funcionava em articulação com a CCTV chinesa (tudo isto nesse projeto que falava inicialmente). Mais tarde rumei a Lisboa, onde comecei a trabalhar em 2016 n'A BOLA TV e cerca de um ano mais tarde, ingressei na SPORT TV onde estou, hoje em dia, desde 2017.
U@O: Não há muitas mulheres a trabalhar em jornalismo desportivo em Portugal. Foi um acaso, foi a oportunidade? E como tem sido a experiência? AC: Não posso dizer que o jornalismo desportivo, especificamente, tenha sido o objetivo desde sempre. Quando trabalhei nos órgãos de comunicação mais generalistas, o desporto merecia sempre cobertura. Por isso, era um tema que já tratava. Acabou por ser uma oportunidade. A experiência tem sido, de forma geral, boa. Mas nem sempre foi um percurso fácil.
U@O: Que conselhos deixaria a um aluno de Ciências da Comunicação da UBI para vingar nesta área? AC: O maior conselho é ser resiliente, acreditar sempre. O mercado de trabalho é duro, competitivo e é maior a procura do que a oferta. Vão muitas vezes fazer-nos duvidar. Vão levar-nos a crer que não somos bons o suficiente. E muitas vezes não somos. Quando saímos da faculdade não temos a experiência que é exigida, mas se não nos derem a primeira oportunidade essa experiência nunca vai surgir. Penso que hoje em dia os alunos e futuros jornalistas têm à sua disposição uma série de ferramentas que os podem ajudar a marcar pela diferença. Têm de as aproveitar e fazer por se distinguir num mercado tão concorrido. Empenho, criatividade, muita dedicação. Se a qualidade existir acabará por ser reconhecida. E o mundo está a mudar, as diferentes plataformas têm de se reinventar e neste reboliço e turbilhão de mudança são necessárias pessoas que pensem fora da caixa e que tragam algo novo.
Nome: Ana Camboa Naturalidade: Santa Maria da Feira Curso: Ciências da Comunicação Ano de Entrada na UBI: 2006 Filme Preferido: "O clube dos Poetas Mortos" e "O Rapaz do Pijama às Riscas" Livro Preferido: “O meu Pé de Laranja Lima”, de José Mauro de Vasconcelos e "Ensaio sobre a Cegueira", de José Saramago. Hobbies: Fotografar e escrever |
Palavras-chave/Tags:
Artigos relacionados:
GeoURBI:
|