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Além da Serra da Estrela: a Covilhã como mais do que um destino de neve
Clarissa Pion · quarta, 26 de agosto de 2020 · Situada na encosta da Serra, a cidade da Covilhã tem-se vindo a desenvolver muito para além do tradicional destino de inverno associado à neve e ao ponto mais alto de Portugal Continental. Impulsionada pela Universidade da Beira Interior, a cidade oferece aos visitantes um misto de natureza, cultura e tradição. |
22022 visitas O turismo na Covilhã é nacional e internacionalmente reconhecido há muitos anos pela presença da Serra da Estrela, no topo da qual se encontra o ponto de maior altitude de Portugal continental. A atração turística pela neve desta montanha é tal que, conforme dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), estima-se que o local receba mais de 1 milhão de visitantes por ano. Contudo, apesar de por muito tempo ter sido uma cidade com um turismo mais regional e voltado para a neve, a Covilhã apresenta características históricas, gastronómicas e arquitetónicas que potencializam o seu turismo. Andar pelas ruas da Covilhã é tomar nota de uma herança cultural e arquitetónica diversificada e singular. As suas fábricas antigas com as suas chaminés imponentes e demais estruturas de apoio, impõem-se pela individualidade de um legado industrial. Muitas igrejas revelam detalhes artísticos, como a Igreja de Santa Maria. A cidade também possui valores deixados por judeus que se instalaram-se na região após a Reconquista, abrindo o leque de contactos comerciais, fomentando o artesanato e a indústria dos lanifícios, muito renomada no século XVI. As visitas aos museus da Cidade Neve são o encontro dos visitantes com os marcos principais da história da mais clássica indústria portuguesa, a qual é retornada para a produção de lanifícios, que perduram ao longo dos anos. No tempo de Marquês de Pombal, em 1794, a indústria de lanifícios foi reforçada com a instalação da Real Fábrica de Panos, que ficava junto à Ribeira da Goldra, onde os seus teares, tintureiras e tecedeiras trabalhavam horas a fio, enriquecendo a história desta terra transfronteiriça até os dias de hoje. A Cidade Neve já foi um dos maiores centros industriais de Portugal. Hoje restam cerca de 12 fábricas de lanifícios em funcionamento. A Covilhã enquanto cidade pode até não usufruir de certos equipamentos, como um grande monumento a exemplo de uma catedral, mas a sua implementação na encosta confere-lhe características particulares, principalmente na zona histórica desta cidade, que servem como uma alternativa para o que é a neve da Serra da Estrela. Nesta cidade, é tudo a subir ou tudo a descer, sendo possível observar pelos caminhos a existência de edifícios emblemáticos que distinguem a arquitetura nesta zona da Covilhã, como a Ponte Pedonal. Em 2017, a brasileira Sandra Leão esteve na Covilhã pela primeira vez, a destacar a paisagem vibrante das montanhas cobertas por neve e a “sensação de paz que toda a cidade transmite”. De acordo com Sandra, o principal motivo para vir conhecer a cidade não foi só o facto de a filha estar estudando na Universidade da Beira Interior, mas sobretudo “desvendar o interior de Portugal”. Em sua opinião, a Covilhã é o lugar ideal para aqueles que buscam a tranquilidade dos campos, ao mesmo tempo que também proporciona diversão e “agitação” à noite, “tanto para os estudantes quanto para os mais velhos”. Os melhores momentos que destaca ter tido na cidade estão relacionados com a gastronomia e a natureza, sendo os de maior relevância: os sabores da Serra da Estrela, com o Queijo da Serra sendo bastante apreciado; e o contacto com paisagens naturais, as quais a brasileira diz ter ficado “horas seguidas observando” através, sobretudo, do Miradouro das Portas do Sol. Ainda segundo Sandra Leão, apesar da beleza da Serra da Estrela, o que mais lhe chamou a atenção na Cidade Neve foi o “ar bucólico que ela passa às pessoas” e o sossego que sentiu enquanto estava hospedada nesta cidade.
Muito mais do que a neve Natural da Covilhã, o arquiteto Pedro Seixo Rodrigues, de 42 anos, reconhece esta ligação permanente da cidade à questão da neve. Embora que, para Pedro, a Serra da Estrela deveria ser conhecida pelo “incrível potencial que tem a nível de suas particularidades ao longo de todo ano”. Segundo o covilhanense, na Serra da Estrela é possível distinguir as quatro estações do ano, e em cada uma destas estações podem ser aproveitadas as várias possibilidades que têm. “Por exemplo, se no inverno acaba por ser mais complicado às vezes fazer percursos pedestres, as pessoas acabam por passar menos tempo na Serra, na primavera e no verão, e mesmo até no outono, estas particularidades alteram-se bastante. Nós no verão conseguimos fazer bastante caminhadas. Há tanta luz no dia que dá para fazer uma caminhada até às 21 horas”, destaca o arquiteto. Ainda para Pedro Seixo Rodrigues, não só a associação das diversas particularidades da Serra da Estrela ajudam o turismo na Covilhã, como também o seu património cultural, como a intervenção da arte urbana, realizada no âmbito do Festival Wool, a qual homenageia o passado histórico desta cidade.
O turismo sob o olhar da Câmara Municipal O responsável pelo setor de turismo na Câmara Municipal da Covilhã, Vitor Pinho, salienta a busca activa por parte da autarquia para promover ao longo do ano vários acontecimentos culturais. O autarca enfatiza a viabilidade de visitas guiadas para que os turistas possam conhecer a história e a cultura da Cidade Neve, como o “Programa Descobrir a Covilhã”, o qual permite a realização de visitas guiadas e gratuitas pelas zonas históricas da cidade para grupos com mais de 10 pessoas. Vitor Pinho também observa os trabalhos da Câmara Municipal em parceria com outras instituições, como a Universidade da Beira Interior e o Museu de Lanifícios, e atividades que acrescem o património natural e industrial como formas de promover a instalação de novas oportunidades nesta cidade. Uma destas oportunidades encontra-se no momento no projeto de criação de sete novas rotas de pedestres ao longo do concelho da Covilhã, o qual está em fase de conclusão, e sendo uma das rotas iniciadas na estação de comboios da Covilhã, na qual o turista quando chega da estação tem ao seu dispor um roteiro devidamente sinalizado. Segundo Vitor Pinho, através das várias entidades competentes do turismo da Covilhã, como o Turismo do Centro e os próprios postos de turismo da Covilhã, localizados próximo a faculdade de Engenharias da Universidade da Beira Interior e no pelourinho, são desenvolvidos diversos programas para atrair mais turistas à Cidade Neve. Os últimos dados disponíveis do INE mostram que a Covilhã teve 165 mil hóspedes e 276 mil dormidas em 2018/2019, o que equivale a uma média de 1.7 dias de passagem dos turistas nesta cidade. Embora que estes valores divulgados pelo INE sejam percebidos por Vitor Pinho como bons, “dentro dos limites e da média do turismo do centro”, uma vez que a Covilhã está a par da zona do litoral de Portugal, o responsável pelo setor de turismo destaca o esforço da Câmara Municipal da Covilhã para que estes números aumentem. Ainda que os dados também confirmem um proveito de 15 milhões de euros para o turismo da Cidade Neve. A partir da crise do coronavírus que afetou o turismo em todos os países, devido ao fecho dos aeroportos e às restrições nas viagens interurbanas e regionais em Portugal, Vitor Pinho considera que os números de hospedagens e dormidas na Covilhã serão bem menores este ano com relação aos anos anteriores. Contudo, com o retorno gradativo à “normalidade” da situação, o autarca sublinha que a Câmara Municipal juntamente com outros parceiros já está a trabalhar para que possam “conquistar os turistas novamente”. Além disso, o responsável pelo setor de turismo da Câmara Municipal observa factores vantajosos da Cidade Neve em meio ao cenário pandémico. Com as mudanças climáticas, a neve é cada vez mais concentrada numa pequena parcela do ano e, conforme os anos passam, isto pode afetar o que é hoje o principal atrativo turístico da Covilhã. Contudo, a complementaridade da oferta urbana e rural, a diversidade de actividades, o seu passado histórico, o acesso a um ambiente natural notável, entre outros aspectos contribuem para que o turismo cresça e faça a Cidade Neve sobressair no mapa. Diversos lugares que valorizam esta complementaridade podem ser citados como razões para afirmar a Covilhã como mais do que um destino de neve.
Preservação da herança cultural e histórica
Museu de Lanifícios O Museu de Lanifícios (MUSLAN) é um projeto da Universidade da Beira Interior (UBI), a qual teve uma proposta clara para a contribuição e a salvaguarda do património da indústria dos lanifícios e da lã. Este museu recuperou as áreas de tinturaria da Real Fábrica de Panos, uma manufactura do Estado criada e inaugurada por provisão de D. José I, em 26 de junho de 1764. O local permaneceu como manufactura de lanifícios até 1885, por conta do Estado e de empresários privados. A partir de 1888, a Câmara Municipal da Covilhã cedeu o edifício para instalação do Regimento de Infantaria 21, seguido do Batalhão de Caçadores 2, que o ocupou até 1959. Foi a partir de 1975 que o Instituto Politécnico da Covilhã se instalou no edifício e, após a restauração da Real Fábrica de Panos , fundou-se o Museu dos Lanifícios em 1989, sendo somente inaugurado em 30 de abril de 1992, e aberto ao público em 1996. A memória do local como a central do quartel deu nome a um dos sítios da UBI, conhecido como “parada”, por ter sido precisamente a parada do quartel. A divisão do MUSLAN é feita hoje de maneira polinuclear, constituindo-se de três núcleos: Real Fábrica de Panos, Real Fábrica da Veiga e Râmolas de Sol. O primeiro núcleo foca no período de manufactura têxtil, no qual o visitante percebe a tinturaria do século XVIII, e também é neste núcleo que a Real Fábrica de Panos preserva e reconstitui a indústria de lanifícios. No segundo núcleo, o visitante pode observar como se deu o período da industrialização ao longo da história da Covilhã, no qual se encontram diversos equipamentos que tendem a revelar as evoluções tecnológicas de importância na indústria têxtil. Já o terceiro núcleo, centraliza-se na produção de lã. O acervo cultural deste espaço museológico abrange e diversifica-se em vários polos da região da Covilhã e da Serra da Estrela, o qual inclui edifícios, monumentos, dispositivos, fundos de fábrica, documentos distintos e históricos e uma coleção vasta de têxteis, que foram fabricados em ambas destas regiões. Segundo Rita Salvado, responsável pela direção do MUSLAN, a presença deste museu contribui não somente para a salvaguarda de uma das “produções industriais mais relevantes da cidade”, como também para tomar nota do desenvolvimento do homem e da sociedade. “A Covilhã tem acompanhado toda a transformação e revolução das indústrias de lanifícios e da produção da lã. Se no passado este saber e técnicas desenvolvidas e aperfeiçoadas estava muito assente numa geografia, como voltadas para o pastoreio ou para o acesso a matéria prima, ao longo da história, esta indústria dependeu muito da vontade humana, da aprendizagem, do conhecimento e da abertura de um mundo global. Portanto, é uma prova de grande desenvolvimento, de grande conhecimento e que continua como um setor activo nos dias de hoje, como um motor económico da região”, complementa Rita Salvado. A importância da presença deste museu pode ainda ser observada na produção de máscaras para prevenir o contágio do novo coronavírus. Os materiais têxteis, tecidos e não-tecidos, afirmam-se como matérias relevantes e que podem fazer a diferença na luta contra o COVID-19. “A indústria de lanifícios contribui para o nosso bem-estar, nosso conforto, não só no vestuário ao produzir agasalhos, mas também como vemos actualmente o material têxtil tem mesmo uma proteção ao vírus, através da máscara, que pode impedir o contágio”, explica Rita Salvado. Além disso, com exceção da estrutura instalada, o MUSLAN convida através da “Rota da Lã” a descobrir a história da indústria dos lanifícios e da lã presente ao longo de toda a Covilhã. Esta rota contribui para a valorização do património cultural e histórico destas indústrias, a mostrar todo o seu percurso de produção, desde o pastoreio até o resultado industrial. O Museu de Lanifícios foi reaberto ao público no dia 18 de maio e funciona das 10 horas até às 13 horas, reabrindo às 14 horas e encerrando-se às 18 horas, estando fechado para visitas apenas às segunda-feiras.
Museu de Arte Sacra Inaugurado a 20 de outubro de 2011, o início da visita ao Museu de Arte Sacra é marcado simbolicamente por uma oliveira. O edifício que alberga este museu é datado de 1921, projetado por Raúl Lino, sendo que serviu inicialmente como residência a Maria José Alçada, que o ofereceu à cidade na condição de ali funcionarem serviços de cariz cultural. A partir da colaboração do Bispo da Diocese, D. Manuel da Rocha Felício e dos párocos das igrejas do concelho da Covilhã, foi permitido ao museu a reunião de diversas peças religiosas. Com uma área de exposição de 850 metros quadrados, o Museu de Arte Sacra está dividido por dois edifícios, cuja visita é percorrida por sete seções, as quais se referem aos sete sacramentos propostos pela igreja católica: baptismo, confirmação, matrimónio, ordem, penitência, Eucaristia e unção dos enfermos. Cada seção possui uma parte das mais de 600 peças que constituem o acervo deste espaço museológico. Este acervo cultural abrange um período que vai desde o século XII ao século XX, no qual as peças que se destacam são as coleções de pintura, escultura, ourivesaria, paramentaria, imagens sacras, metais, relicários e altares. Um dos aspectos relevantes do Museu de Arte Sacra é a grande dimensão de certas peças, pouco comum em museus europeus, e que se distinguem neste museu. Por exemplo, na escadaria central, é possível observar uma escultura de Cristo crucificado, do século XVIII, com dimensões de 2,20m x 1,85m. No seu espólio também destacam-se várias peças relacionadas a história da Covilhã, como a imagem de Cristo Deposto oferecido no século XVI por João Fernandes Alvares Cabral ao Convento de São Francisco. Além das salas de exposição permanente, o Museu de Arte Sacra tem uma sala de exposições temporárias, um jardim interior e uma loja de venda ao público. Também há uma capela dentro da área deste museu, que recria o ambiente religioso comum a esculturas presente no seu acervo. O Museu de Arte Sacra encontra-se fechado temporariamente devido à pandemia de Covid-19, mas em dias comuns funciona de terça aos domingos, das 10 horas às 18 horas, e localiza-se na Avenida Frei Heitor Pinto, número 9.
Museu do Queijo Inaugurado a 14 de maio de 2011, o Museu do Queijo localiza-se na freguesia de Peraboa, situada a 14 quilómetros da Covilhã. Apesar da distância, a visita ao museu permite conhecer uma homenagem à pastorícia e, sobretudo, um conhecimento profundo acerca dos queijos da região. A partir de uma visita guiada, este museu irá contar a história desde os primórdios do preparo do queijo. O Museu do Queijo busca difundir as tradições, o brado dos campos férteis, os pastores, os rebanhos e as rotas de rebanhos através de Portugal e Espanha - a transumância. A visita torna-se uma verdadeira viagem sensorial tanto à volta do Queijo Serra da Estrela, como pelas planícies da Cova da Beira, que em noutros tempos era conhecida como Vale dos Judeus. O Museu do Queijo também dá a conhecer, numa primeira fase, a fauna e flora no contexto da Serra da Estrela, a exemplo das raças de ovelhas Bordaleira e Churra Mondegueira. Ele apresenta como o clima e as pastagens condicionam o tipo de leite e o produto final, o queijo, a falar das cervunais secas e úmidas da Nave de Santo António, que são protegidas e quase únicas no mundo. O Museu do Queijo encontra-se fechado temporariamente devido a ordens governamentais para a prevenção do contágio do COVID-19. Mas em dias comuns, este museu funciona de terça a domingo, das 10 horas até às 12 horas e 30 minutos, depois volta a reabrir às 14 horas e encerrando-se às 17 horas e 30 minutos.
New Hand Lab O New Hand Lab originou-se de uma das mais antigas fábricas de lanifícios da Covilhã, a fábrica António Estrela, que iniciou a sua elaboração em 1853. Em 2002, as atividades da fábrica foram encerradas, porém, um dos antigos proprietário e funcionário desta fábrica deu início no mesmo ano a um novo projeto no local. Francisco Alfonso integrou ao espaço de 10 mil metros quadrados novas ideias que conversam com as velhas máquinas. O New Hand Lab é hoje um “projeto colaborativo de diferentes artistas”, que procura preservar as memórias da produção de lã na Covilhã, assim como promover a criatividade, a inovação e o empreendedorismo através da concretização de ideias, produtos e iniciativas. São quinze artistas envolvidos no trabalho desta empresa, que diferentemente de outros espaços de cowork, eles estão presentes por convite, “e não por pagarem aluguer”. Esta empresa busca intervir com toda parte cultural da Cidade Neve, a desenvolver projetos na área de design, moda, teatro, cinema, pintura, fotografia, entre outras. Devido ao momento de isolamento social, o New Hand Lab encontra-se fechado para visitas. Mas Francisco Alfonso enfatiza que estão “a trabalhar, reprogramar e a organizar-se” para quando for outra vez aberto ao público, a empresa tenha mais conteúdos culturais e artísticos para apresentar a eles.
Entre azulejos azuis e brancos Considerada uma das mais belas do país, a Igreja de Santa Maria Maior situa-se no coração do centro histórico da Covilhã. Esta igreja era conhecida no passado como a Capela de Santa Maria do Castelo, e a sua construção remonta a meados do século XVI. Sofreu no decorrer dos tempos várias reconstruções, na qual uma delas, datada no século XIX, deu-lhe características barrocas. O actual revestimento azulejar branco e azul, que cobre completamente a fachada, é a principal característica da Igreja de Santa Maria, que chama a atenção de qualquer um que passe por ela. Aplicado em 1940, este revestimento representa a vida da Virgem Maria. Existem 11 altares no interior da igreja, 5 dos quais dedicados a Nossa Senhora, representada em 9 imagens distintas. Além de observar-se também outras imagens de valor religioso, nomeadamente as de São Francisco de Sales e de Santa Teresa de Jesus, assim como a Relíquia do Santo Lenho oferecida por D. Luís à Capela de Santa Cruz. Ao longo da sua história, a Igreja de Santa Maria foi o principal centro da Inquisição portuguesa na Covilhã, sendo o local onde se realizavam os interrogatórios aos judeus secretos, perseguidos naquela altura.
Um museu a céu aberto O nome deste festival nasce de um trocadilho entre Wool, traduzido do inglês para lã, e Wall, que traduz-se para parede, uma vez que toda a produção artística do Festival Wool se vai fazendo ao longo do tempo pelas fachadas e paredes exteriores da Covilhã. É devido a este festival que a face do centro histórico desta cidade tem vindo a alterar-se com obras de arte de requalificação. Organizado pela loja A Tentadora juntamente com a Câmara Municipal da Covilhã, o Festival Wool, através de suas artes, honra o passado industrial dos lanifícios e da lã da Cidade Neve, trazendo para o interior artistas renomados como Vhils, Bordallo II e Ad Fuel. Várias destas criações constam do arquivo Google Art Project, que reúne online alguns dos melhores trabalhos artísticos de diversos países. “Owl Eyes” é uma delas, considerada uma das 25 melhores artes do mundo no ano de 2014, a qual Bordalo II foi responsável pela criação desta arte. Conhecida como “Mocho”, esta arte foi produzida a partir de sucata, na parede de uma casa habitada por estudantes universitários, a fim de apelar ao renascer da sabedoria e da cultura no centro histórico. Através de passeios guiados e pelo mapa “Rota da Arte Urbana”, feito pela Câmara Municipal, os turistas podem conhecer as intervenções artísticas do Festival Wool. Um bom ponto de partida para dar início ao “descobrimento” destas artes é atrás da Câmara Municipal, e em cerca de uma hora e meia pode-se conhecer obras de maiores e menores dimensões, as quais contam a história e o património da Covilhã através de latas e pincéis. Por exemplo, a forma como a lã é evocada na obra de Tamara Alves, “Wild Orphan”, na qual uma mulher de três braços está a tecer as suas próprias roupas, ou a expressão de referências ao fado “Covilhã, Cidade Neve”, de Amália Rodrigues, na intervenção tipográfica dos HalfStudio. As fronteiras do Festival Wool transbordaram para longe da Covilhã com projetos em Coimbra, Abrantes, Figueira da Foz, Cascais, Paris (França) e Djerba (Tunísia). O balanço da organização apontava, em 2015, para um total de 151 intervenções artísticas, envolvendo 43 artistas portugueses e 17 estrangeiros, a compor um museu que fica a céu aberto. O Festival Wool acontece na Covilhã desde 2011, embora não tenha uma periodicidade certa para acontecer, tem sido sempre regular e permanente, tornando a Covilhã mais que um destino de neve.
Espaços verdes O Jardim Público, assim como os outros jardins presentes na Covilhã, contribui para a existência de um espaço natural no meio da zona histórica ou nova desta cidade, permitindo o contacto com a natureza não somente na Serra da Estrela. Ele localiza-se próximo ao centro da cidade, o pelourinho, e foi construído nos antigos terrenos da cerca conventual do extinto convento de São Francisco, tendo sido, nos princípios do século XX, palco de espetáculos de beneficência e local das festas complementares da Feira de São Tiago. Este Jardim foi remodelado em 2001 para proporcionar maiores áreas verdes, assim como foram instaladas, na parte de baixo de cada árvore, pequenas fontes de luz, a fim de destacar este espaço verde. Um renovado espaço infantil, passos de madeira e um pequeno anfiteatro são alguns dos pontos atrativos que compõem o Jardim Público. Ele também é complementado por um quiosque e fica ao redor de vários bares de café.
Jardim do Lago Inserido no programa Polis, o Jardim do Lago localiza-se na zona nova da Covilhã, próximo ao Serra Shopping, e serve de palco para eventos na época de praxe aos calouros. É um espaço verde de grandes dimensões, oferecendo um restaurante, dois bares, percursos pedonais, barcos de recreio, um espelho com queda de água, parque de desportos, um parque infantil e uma ampla zona de estacionamento gratuito. Este Jardim também está complementado com uma piscina-praia que funciona durante os meses de verão, englobando várias atividades para os seus utentes.
Jardim das Artes O Jardim das Artes oferece um espaço interativo, moderno e de lazer. Localizado junto à rua Centro de Artes, próximo do Serra Shopping, ocupa uma área com 18.000 metros quadrados e dispõe de um percurso pedonal de 840 metros quadrados envolvidos por uma vasta zona verde com esculturas, que dá razão ao nome Jardim das Artes. As diversas obras de arte distinguem este espaço verde dos demais, uma vez que se encontram distribuídos por três plataformas vermelhas e separadas por taludes, em cotas de cerca de 5 metros de diferença. Estas obras conferem uma unidade visual às três plataformas, formando um único elemento quando observadas do ponto de entrada principal do recinto. Este jardim é recente, tendo sido inaugurado em 2017 e fez parte do projeto “Requalificação de Espaço Público - Jardim das Artes”, o qual foi avaliado em 1 milhão de euros. Financiado a 60% pela Direção Geral das Autarquias Locais através da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, o Jardim das Artes é um ponto de encontro para todas as gerações, já que foi projetado tendo em conta o maior parque infantil do concelho da Covilhã, um quiosque com esplanada, um centro de atividades físicas para adultos, skate parque e uma área com 400 lugares sentados para atividades culturais.
Jardim Monumento à Nossa Senhora da Conceição Localizado próximo da residência principal da Universidade da Beira Interior, o Jardim Monumento a Nossa Senhora da Conceição caracteriza-se pelos seus canteiros relvados e arborizados, caminhos em calçada portuguesa, bancos para repouso e proporciona uma vista ímpar sobre a cidade. No seu centro, encontra-se uma estátua dedicada a Nossa Senhora da Conceição, a qual foi erguida no início do século XX para proteger a cidade e os seus habitantes. Este Jardim também recebe anualmente a cerimónia singular da Benção das Pastas.
Uma arquitetura singular Passear pela Ponte Pedonal, construída 225 metros acima da Ribeira da Carpinteira, e por uma extensão de 52 metros de altura, pode tornar-se um belo percurso com vista privilegiada para a Cova da Beira, de um lado, e avistando-se a Serra da Estrela, do outro. Além dos moradores do bairro de Penedos Altos, dezenas de turistas não resistem a uma selfie neste ponto emblemático da arquitetura da Covilhã. Esta ponte foi projetada tendo em vista a aproximação do antigo bairro dos Penedos Altos ao centro da cidade. O projeto concebido pelo arquitecto João Carrilho da Graça e inaugurado em 2009 ganhou o caráter de atração turística ao ser galardoado pelo seu desenho inovador com o 1º Prémio da Ait Awards, na categoria “Transporte” e o Galardão no VIII Bienal de Iberoamericana Arquitectura e Urbanismo. Além de elevar a cidade da Covilhã a um dos sete destinos mais interessantes do mundo em termos de Design, sendo eleita como uma das “The World’s Coolest Design Destinations”, uma distinção da revista “Travel & Leisure”, em 2011. Entre as obras de João Carrilho da Graça, destacam-se também as intervenções efetuadas no Mosteiro da Flor da Rosa, no Crato, no Museu do Oriente, no Núcleo Museológico do Castelo de São Jorge e no Terminal de Cruzeiros, em Lisboa, assim como no Convento de São Francisco, em Coimbra.
Para bem “forrar” o estômago Após uma longa caminhada pela a Covilhã, a descobrir suas artes urbanas, sua história industrial e sua emblemática arquitetura e natureza, uma boa opção de almoço para recuperar suas forças é a Taberna A Laranjinha, localizada no centro da cidade, logo atrás da Câmara Municipal. Este restaurante fornece aos visitantes refeições tradicionais com um toque de inovação, assim como uma decoração rústica a preceito, a fazer com que os clientes se sintam realmente dentro de uma taberna. A Taberna A Laranjinha remonta dos anos 50, sendo localizada inicialmente na rua conhecida hoje como Saudade. O nome deste restaurante refere-se a um jogo tradicional, o qual os visitantes jogavam semanalmente na taberna. Após ter ficado mais de cinquenta anos fechada, A Taberna A Laranjinha volta a funcionar no ano de 2013, devido a uma homenagem que o neto quis fazer ao avô, o primeiro dono do local, sendo possível observar a sua foto logo acima do bar desta taberna. Contudo, no decorrer deste primeiro ano de reabertura, o espaço passa a ser comandado por uma nova equipe de 8 funcionários. O novo dono da Taberna A Laranjinha, Ricardo Ramos, mudou o conceito tradicional que este restaurante servia aos clientes. Originalmente sendo uma casa de petiscos e de bar, esta taberna passa agora a servir pratos tipicamente regionais, mas sempre inovando na elaboração e apresentação, refrescando a maneira como refeições tradicionais da Covilhã são oferecidas. Apesar de servirem o Pastel de Molho da Covilhã conforme o tradicional demanda, diversos pratos do cardápio conciliam-se entre o tradicionalismo e o toque singular da Taberna A Laranjinha, como a Truta e a Perna de Borrego. O menu oferecido por este restaurante também é caracterizado pela presença de produtos locais da Covilhã, como o Queijo da Serra e o presunto, e os quais podem ser juntamente saboreados no prato “Bife a Pastor”. Os cogumelos da região da Serra da Estrela encontram-se em algumas refeições, como os “Ovos mexidos com cogumelos”. Desta forma, com a inovação de refeições tradicionais, a Taberna A Laranjinha recebeu três estrelas Michelin: no ano de 2018, 2019 e 2020. “Nós trabalhamos com produtos ‘premium’, de muita qualidade, elaboramos uma cozinha diferente da tradicional, e isto nos faz diferente dos outros restaurantes. Não somos tradicionais: na Covilhã a maioria dos restaurantes trabalham muito com a mesma refeição e o ‘prato do dia’, nós mudamos isto, pegamos os produtos locais e tradicionais e transformamo-los, usamos receitas de antigamente, fazendo novas apresentações e elaborações deste conceito”, complementa Ricardo Ramos. O proprietário Ricardo Ramos ainda sublinha que o cenário do novo coronavírus foi “trágico para o restaurante”, uma vez que tiveram que fechar as portas por três meses. Com a reabertura do local no dia 1 de junho, Ricardo Ramos afirma que a Taberna A Laranjinha se encontra numa “fase de recuperação”, tendo que adaptar-se às novas medidas da Direção-Geral de Saúde, mas igualmente “acreditando que a situação vá melhorar conforme o tempo passa”.
Cervejas de todo o mundo Situado na rua do Norte, junto às ruínas da antiga muralha da Covilhã, o North Walls tenta recriar o espírito dos pubs britânicos. Com mais de 50 marcas de cerveja de várias nacionalidades, de fabrico artesanal e industrial, este bar é o ponto de encontro de turistas e estudantes universitários que procuram um bom lugar para se divertir na noite da cidade. O North Walls nasceu de um sonho de um antigo aluno da Universidade da Beira Interior, Edgar Nave, que durante a sua licenciatura desenvolveu um gosto por cerveja após várias viagens ao longo da Europa, uma vez que não apreciava o sabor de cervejas “comuns”, como a Super Bock. Após ter aprendido como produzir cerveja artesanal, conhecer diversas marcas internacionais e licenciar-se em empreendedorismo, Edgar iniciou o projeto de trazer à Covilhã cervejas de todo o mundo. Para além de buscar inovação a nível de oferta de bebidas alcoólicas, o North Walls procura garantir aos clientes novas experiências musicais através de apresentações ao vivo neste pub, geralmente realizadas por artistas estrangeiros, os quais podem mostrar novos estilos de música. Para Edgar Nave, estas novidades que o pub disponibiliza são um diferencial na Covilhã. “O conceito, o ambiente, o espaço em si e a música ao vivo destacam-nos na cidade. Queremos garantir ao nosso cliente que vão aproveitar sempre algo novo no North Walls”, complementa Edgar Nave. A partir das ordens governamentais de encerramento dos bares fechados em meio ao cenário do coronavírus, a solução encontrada por Edgar Nave para a continuidade do negócio foi a venda online das suas cervejas. Uma vez na semana são feitas as entregas aos clientes que encomendam os produtos, através das redes sociais do pub. Além disso, o North Walls também oferece o serviço “take away” por 7,5€, às sextas e aos sábados, entre às 19 horas e 23 horas.
Para levar de lembrança A Tentadora é uma antiga mercearia originalmente inaugurada em 1935, voltada para vendas de produtos diversos. Mas foi no ano de 2013 que o espaço da loja seria restaurado pelo projeto dos actuais donos Pedro Seixo Rodrigues e Elisabet Carceller. Este projeto buscava remodelar o espaço tentando manter ao máximo o design original, de que conservou o chão, o balcão, a balança e a antiga caixa registradora desta loja. O conceito da marca da Tentadora é hoje definido por Elisabet Carceller como “um espaço com diferentes valências”. Por um lado, a loja é um espaço para a produção e venda de artesanato contemporâneo, peças de design de autor e produtos de alimentação gourmet portugueses, a fim de dar destaque aos artesãos e produtores da região. Por outro lado, tendo em setembro de 2015 aberto um espaço de cowork, a loja também trabalha para áreas criativas, produzindo para profissionais e empresas de museografia, arquitetura, fotografia, design gráfico, entre outros. Além de disponibilizar diversos produtos artesanais e regionais que os visitantes podem levar como uma lembrança da Cidade Neve, a Tentadora também contribui como um espaço de dinamização cultural nesta cidade. Nesta loja são oferecidos ao público consumidor programas de exposições, lançamentos de livros, workshops, palestras e projecção de filme, como o “Sortcutz Covilhã”. Os donos e os funcionários da A Tentadora são ainda responsáveis por organizar os dias em que decorre o Festival Wool. Para Elisabet Carceller, A Tentadora é “um projeto muito pessoal”, que começou como uma solução para a ausência de um espaço de trabalho próprio, para tornar-se em algo muito mais abrangente. A vertente cultural que este espaço disponibiliza tanto para os clientes quanto para a Covilhã é, na opinião de Elisabet, “um diferencial dentre outras lojas”. “Penso também que para os clientes, os nossos principais factores diferenciais são a beleza do espaço que recuperamos, a seleção cuidada e variada de produtos e o trato pessoal, personalizado e simpático com que os tentamos atender”, complementa Elisabet Carceller. A Tentadora localiza-se na Rua Alexandre Herculano, número 21, no centro histórico da Covilhã e funciona das 10 horas às 13 horas, e depois das 15 até às 19 horas, encerrando-se aos fins de semana.
Vivendo junto à natureza A Covilhã tem várias praias fluviais ao longo das suas ribeiras, nas quais os turistas podem, além de entrar em contato com uma paisagem natural, desfrutar para mergulhos durante o período de verão. Uma das praias mais visitadas tanto por visitantes quanto por residentes é a Praia do Paul. Terra de fortes tradições agrícolas e culturais, a Vila do Paul adaptou, em 2001, as margens da ribeira que atravessa a localidade, para a sua utilização na época mais quente do ano. A Ribeira do Paul nasce nas Taliscas pela fusão de dois dos principais cursos de água do concelho da Covilhã: Ribeira das Cortes e Unhais da Serra. Descendo as fragas e cerros da cordilheira da Serra da Estrela, a água límpida dá vida à praia fluvial do Paul. Nas imediações da praia fluvial do Paul, encontra-se uma pequena ponte, datada do século V, que dá acesso a uma zona de areia e a uma extensa variedade de rochas, nas quais os visitantes podem estender a sua toalha e aproveitar o sol. Aliás, no período de verão, o acesso à água é facilitado por um local menos profundo na zona do areal. Próximo à área desta praia fluvial também estará disponível um bar com esplanada, uma casa de banho, mesa para merendas, escadas que dão acesso à água e uma área de lazer. Esta praia torna-se um espaço calmo para fugir do estresse cotidiano. Para os mais aventureiros, as rochas servem como “pranchas de mergulho”. Toda a zona é propícia a piqueniques devido à sua abundância em penedos. É importante ressaltar que o local não se encontra vigiado por salva-vidas. Para além da praia fluvial do Paul, o turista pode conhecer a Vila do Paul, a qual é uma região prendada de espaços naturais variados, cobertos de vegetação, que se conciliam com o Vale do Paul e a Ribeira da Caia. Além disso, a Capela do Espírito Santo, a Igreja Matriz e o Museu Etnográfico são alguns locais nos quais os turistas podem tomar nota da história desta vila.
Um olhar sob o horizonte covilhanense A Covilhã dispõe de vários miradouros que promovem uma paisagem ímpar sobre a cidade, e os quais os turistas podem visitar ao longo dos seus percursos. Três destes miradouros localizam-se nas proximidades da zona histórica da cidade e da Universidade da Beira Interior (UBI): o Miradouro Porta dos Sol, Miradouro Marquês D’Ávila e Bolama e Miradouro Nossa Senhora da Conceição. Decorado por duas intervenções artísticas do Festival Wool, o Miradouro Portas do Sol é um ponto de encontro entre aqueles que desejam admirar a paisagem de toda a zona antiga da Covilhã. Deste Miradouro consegue ter-se a noção do domínio da paisagem que o Castelo da Covilhã dispunha, a partir do qual se controlavam os principais acessos à cidade. O Miradouro Marquês D’Ávila e Bolama ou Miradouro da “Minerva”, como já é apelidado pelos covilhanenses por ali ter funcionado a Tipografia Minerva, situa-se no centro da cidade da Covilhã e constitui um importante reforço ao nível das infraestruturas vocacionadas para o turismo. Com uma vista privilegiada da cidade e da Cova da Beira, este miradouro conta com um café-restaurante com esplanada panorâmica, telescópio e estacionamento para 18 viaturas. Situado próximo às residências da UBI, o Miradouro Nossa Senhora da Conceição possui uma vista panorâmica sobre a cidade. Junto a este miradouro está o Jardim Monumento a Nossa Senhora da Conceição, que convida a quem visita este miradouro a uns minutos de descanso e reflexão diante a uma paisagem que transmite beleza e sossego. Neste momento, a Câmara Municipal da Covilhã está encaminhando um projeto para a construção de uma rede de miradouros espalhados pela Serra da Estrela. Conforme explica o responsável pelo setor de turismo da Câmara Municipal, Vitor Pinho, serão cinco miradouros, além dos quatro existentes, que vão estabelecer uma ligação com algum “elemento urbano”, a fim de que os turistas possam desfrutar da paisagem com maior interação.
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