Um grupo de professores da Universidade da Beira Interior (UBI) associou-se para responder ao isolamento e à limitação de visitas nos lares de idosos criando "As conversas da quarentena", uma serie de palestras dirigidas à população dos lares sobre vários aspetos da ciência  que cada um domina.

O sistema de contacto é semelhante ao de uma sala de aula virtual, permitindo a troca de experiências ao longo e no fim das conversas, numa troca de partilhas entre orador e ouvintes.

“O projeto surgiu numa conversa em grupo com a professora Ana Paula Duarte, o professor João Correia e o professor Paulo Osório, entre outros. Depois, cada um chamou outros e criou-se um grupo que se organizou e que fez a proposta a um grupo de lares, para ver se funcionava e se valia a pena”, explica Assunção Vaz Patto, docente da Faculdade de Ciências da Saúde (FCS) da UBI e dinamizadora da iniciativa.

“Está a correr muito bem. A adesão tem sido muito positiva e continua a ocorrer. Alguns lares não conseguem aceder por limitações de tempo e organização, mas os que têm aderido gostam e voltam outra vez”, conta a docente da Faculdade de Ciências da Saúde.

Assunção Vaz Patto acredita que “depois da divulgação da iniciativa seguramente que ficará maior”, sendo que o projeto visa “lares de idosos em confinamento, que não têm visitas de familiares. A ideia seria tentar minimizar o isolamento e dar um bocadinho de apoio”.

Quanto ao futuro do projeto, o organizadora garante que será para continuar a desenvolver, “enquanto os lares estiverem em confinamento seguramente. Em fases de maior normalidade, passará pela opinião dos colegas e por uma decisão em grupo e também pela disponibilidade dos lares. No entanto, e a nível pessoal, penso ser uma forma de cooperação entre a universidade e a comunidade que mereceria um seguimento”, sublinha.

A primeira palestra foi ministrada pela docente da FCS da UBI, Ana Paula Duarte, no dia 20 de abril, com o tema “As plantas na Saúde”. Seguiram-se os docentes Paulo Osório (Faculdade de Artes e Letras-FAL), no dia 23, com o tema “Estimular a Linguagem em Pessoas Idosas”; e Sandra Soares (Faculdade de Ciências), no dia 27, que falou sobre " A qualidade de vida na Idade Maior".

“Nestes tempos excepcionais que atravessamos devemos juntar esforços para tentar ser útil de alguma forma. A responsabilidade social da Universidade também passa por aqui, por aquilo que nós enquanto seus membros, podemos fazer pela sociedade que nos rodeia. Surgiu esta ideia de fazermos umas conversas com os utentes dos lares e avançámos”, explica a primeira palestrante. “Eu fui falar sobre plantas na saúde, e pareceu-me que foi bem recebido, até porque é uma área que eles têm algum conhecimento. Tentei mostrar o aspeto mais científico das plantas medicinais, sempre com cuidado para não usar uma linguagem muito técnica, para não perder ouvintes”, refere Ana Paula Duarte. Estiveram presentes três lares, com vários utentes em cada, e no fim fizeram questões e comentários. Foi muito gratificante verificar que durante aquele tempo as pessoas estiveram distraídas desta situação e no fim podemos ter alguma interação, o que faz a diferença”, defende a docente da FCS.

Duas das instituições que têm marcado presença em todas as conversas já realizadas são o Lar de S. José (Covilhã) e a Residência Sénior Don António (Peraboa). Andreia Sousa, psicóloga do Lar de S. José, tem acompanhado de perto as “conversas da quarentena” e assegura que “no geral todos os utentes gostam e ficam sempre muito interessados nas temáticas abordadas, fazendo até várias questões porque são temas que são do agrado deles”. Andreia Sousa revela que “têm assistido 30 ou 40 utentes às palestras e estão sempre muito atentos”. O cenário é idêntico na Residência Sénior Don António, onde “o feedback é muito positivo”, garante a Diretora Técnica. “Nós já temos por hábito receber convidados externos uma ou duas vezes por mês que vêm falar de diversos temas e devido à situação atual tivemos que suspender essas visitas”, refere Filipa Nicolau. “Os temas têm sido muito interessantes e é importante os utentes manterem o contacto com o exterior e não só com os colaboradores aqui da Residência Sénior. Também acaba por ser uma mais valia, nesse sentido. Tem sido muito positivo”, considera a responsável.

A próxima “conversa da quarentena” é já esta quinta-feira, 30 de abril. O docente da FAL, João Carlos Correia, aborda “O papel da informação no combate ao Coronavírus”. As sessões prosseguem pelo menos até ao próximo dia 1 de junho, estando já agendadas mais nove datas: 4 de maio ("Isto das alergias é para todos ou é só para alguns?" – Luís Taborda Barata, FCS); 7 de maio (“O açúcar, amigo ou inimigo?” – Isabel Ismael – Fac. Ciências); 11 de maio (Rosa Marina Afonso – FCSH); 14 de maio (José Rosa – FAL); 18 de maio (“Mais do que doentes, somos pessoas: a importância de cuidados de saúde humanizados” – Amélia Augusto – FCSH); 21 de maio (Rosário Calado – Fac. Engenharia); 25 de maio (Emília Amaral – Fac. Ciências); 28 de maio (Daniel Marinho – FCSH); 1 de junho (Luís Passarinha – FCS).

Os docentes da UBI que se queiram juntar ao projeto podem fazê-lo. Basta entrarem com contacto com a organização e “são todos muito bem vindos”, até porque “a lista ainda está em criação e sempre a ser alargada”, explica Assunção Vaz Patto.