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Para lá da linha do horizonte
Catarina G. Moura · quarta, 19 de fevereiro de 2020 · @@y8Xxv
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Catarina G. Moura |
21980 visitas Talvez porque também o Urbi tenha nascido num lugar cuja paisagem é integralmente desenhada por montanhas, celebrar-lhe estes 20 anos de vida reflecte, para mim, o milagre que a própria UBI é. Contra todas as probabilidades e vaticínios, sobrevive, vinga e persevera. Cresce. Na Covilhã, como em tantos outros lugares do Interior do país, para qualquer lado que nos voltemos, mais próximos ou mais distantes, verdes ou monolíticos, são sempre esses blocos de belíssima, mas também implacável opacidade que nos travam o horizonte. É possível que a geografia e as pessoas se reflictam especularmente — e se estas gentes que aqui vivem se fizeram de reconhecida resiliência e engenho, estariam também expostas ao risco do que pode significar, geração após geração, a impossibilidade (traduzida no sentir e no pensar) de ver mais longe. Talvez por isso, são muitos os que, ainda hoje, insistem em olhar para o Interior como um limite e uma condição que, a todos os níveis, nos confina e reduz, atribuindo a esse horizonte fechado a inevitabilidade de uma “vista (e, por extensão, de uma vida) curta”. Outros, no entanto, percebem que, se a Interioridade geográfica é ainda, em certa medida, um facto, a Interioridade mental, a existir, teria mais de opção que de condição. Longe de encerrar os que o habitam, este espaço é exemplo permanente de abertura e incentivo à ousadia de sonhar para lá dos seus limites naturais, sobretudo nesta era de desmaterialização de obstáculos à ligação, ao acesso, à circulação e à comunicação que as duas décadas de existência do Urbi reflectem em pleno. Recordo Miguel Torga e a razão pela qual escolheu como pseudónimo essa urze campestre que, aparentemente frágil, tem em si a capacidade de sobreviver nas fragas da montanha e resistir às exigências climáticas mais agrestes. Há lugares assim, que nos testam — e, dependendo da nossa sensibilidade ao seu complexo meio ambiente, ou vingamos e florescemos, ou definhamos, encontrando o fim. Para mim, o Urbi é essa história de sobrevivência improvável, essa planta aparentemente frágil que nasceu porque alguém sonhou, com ele, olhar para lá da linha do horizonte — e porque, depois, foram efectivamente muitas as pessoas que partilharam esse sonho e lutaram por ele, criando condições para que o jornal pudesse estar on-line todas as semanas como no primeiro dia, mantendo-se quando tantos outros não o lograram e continuando a constituir um laboratório que não apenas ensina aqueles que, no início do seu percurso, vêem no Jornalismo o caminho a seguir, mas também permite acompanhar e explorar as transformações que esta área tem vindo a viver em função da expansão, mutação e exigências do território digital. Ter sido a primeira chefe de redacção do Urbi oferece-me, talvez, uma perspectiva única quando olho para estas duas décadas no seu conjunto. Feito o balanço, são essas pessoas que por ele passaram e que para ele contribuíram o que recordo com mais saudade e, sem sombra de dúvida, o que destacaria de mais positivo. Estão todos — estamos todos — de parabéns.
* Catarina G. Moura é docente da FAL-UBI e primeira chefe de redação do Urbi et Orbi |
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