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Viagem por memórias Urbianas
Susana Gomes · quarta, 19 de fevereiro de 2020 · @@y8Xxv
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Susana Gomes* |
21984 visitas Quando comecei a escrever para o Urbi, o jornal tinha acabado de dizer as suas primeiras palavras. Teria, possivelmente, 2 ou 3 anos na altura e eu, com 20, aprendi a melhor comunicar graças a ele. O Urbi trouxe-me a minha primeira experiência jornalística e as primeiras aventuras de reportagens, entrevistas, notícias, numa dinâmica que me fascinou de imediato e que ainda hoje se mantém. Recordo-me do entusiasmo que senti quando fiz uma das minhas primeiras entrevistas. O Fernando Tordo ia apresentar um livro e dar um espetáculo no Teatro Cine e eu tive a oportunidade e o privilégio de falar com ele. O nervosismo rapidamente deu lugar à excitação, e dei por mim a querer saber tudo, não só do que acabara de acontecer, mas também sobre a carreira e sobre a sua vida, o que o move e o que o inspira. Rapidamente percebi que estava despertar em mim a curiosidade e a necessidade de conhecimento, a sede de sabedoria, de querer sempre saber mais e mais. É algo que todos nós devemos ter sempre, e apesar do jornalismo. É importante termos este lado curioso e estimulá-lo, ir à procura do detalhe, daquele pormenor que torna uma história memorável. Quando fazemos uma viagem, por exemplo, devemos absorver toda a experiência, indo atrás da história e da cultura do povo que acabámos de conhecer. É esta vivência numa experiencia 360 que faz com que aquela célebre frase “voltamos mais ricos depois de cada viagem” faça sentido. É com esta necessidade de saber que tantas das nossas capacidades se desenvolvem. Ainda que a vida nos leve por caminhos fora do jornalismo, sei que hoje me tornei uma pessoa diferente graças a estes primeiros passos. A curiosidade e necessidade de explorar todos os temas, de saber mais sobre o que nos envolve, sobre o que acontece, sobre o que lemos, vemos, ouvimos. Costumo brincar dizendo que devemos todos manter aquela ingenuidade de criança e fazer todas as perguntas que nos vierem à cabeça, pois só assim conseguimos ser mais completos e ter todas as peças do puzzle e as nossas opiniões bem fundamentadas. Hoje sei que mantive este lado intacto muito graças ao Urbi, que me deu a liberdade de fazer todas as perguntas, de viver as primeiras experiências mais incríveis que ainda hoje guardo. Desde as conversas com quem tanto admirava, à iluminação de luzes de natal, peças de teatro, palestras sobre cultura, psicologia e humor. Depois da entrevista ao Fernando Tordo, recordo-me de ter feito algumas peças sobre Teatro, que era algo que me suscitava particular interesse. Sendo uma peça de teatro algo tão subjetivo de avaliar, tornava-se um verdadeiro desafio mas, justamente por isso, gostava tanto. Fazia a minha leitura e depois desconstruía tudo com os intervenientes da mesma. Lembro-me de me sentir tão orgulhosa por perceber que batia certo com aquilo que pensava e absorvia do que tinha visto. Escrevi sobre concertos de artistas que admirava (lembro-me de entrevistar Fonzie, Toranja, Fingertips, entre outros). Conheci e falei com um ídolo que ainda hoje admiro (talvez cada vez mais) . Ricardo Araújo Pereira. A primeira vez, numa “Mesa Redonda” sobre Cultura, onde também estava presente Pedro Mexia, a segunda, já com os seus companheiros de “Gato Fedorento”, a abordarem um tema que muito me é querido: o Humor, e a terceira, após a peça de Gato Fedorento no Teatro Cine. Foram experiências marcantes e que guardarei com tanto carinho. Sempre que me recordo destes tempos, é inevitável o sorriso. Há uma imagem que guardo sobre esta altura: antes de cada peça, guardava numa malinha o meu gravador e máquina fotográfica e recordo-me de pegar em ambos com um sentido de responsabilidade enorme. Com o tal nervosismo e entusiasmo e sempre sabendo que tinha que fazer bem, sempre mais e sempre melhor. Não queria falhar e queria estar sempre com todos os sentidos alerta para poder trazer o máximo de informação que conseguisse. Passaram 17 anos desde que colaborei pela primeira vez com o Urbi e, apesar de não me conseguir lembrar de todas as peças que fiz, ao escrever este texto o tempo recuou e tantas me vieram à memória. Sempre considerei a escrita algo muito solitário e individual. Cada um tem um estilo muito próprio e é preciso alguma solidão para por nas páginas em branco aquilo que ouvimos e vimos, mas é isso que a torna tão especial. Talvez aqui entre a tal responsabilidade, mas também o por tudo no papel com coerência, não falhando o mais importante e cingindo-nos ao crucial, porque as palavras são limitadas. Temos que escolher bem o que tem mais impacto e traduzi-lo para que todos o entendam da melhor forma, sem artifícios e com total pureza. A escrita é especial porque acaba por ser sempre individual. Seja qual for o teor, a forma como se escreve é sempre única. É como se fosse uma peça de arte irrepetível, porque ninguém consegue igualar o estilo de ninguém, apenas aproximar-se, o que não é, de todo, a mesma coisa. Por tudo isto, o Urbi sempre foi tão especial para mim. Porque me impulsionou a estimular a minha curiosidade. Porque me orientou para fazer as perguntas certas. Porque me fez ir sempre à procura de quem podia dar a realidade mais genuína, a cada peça. Porque me permitiu conhecer pessoas que me deram muito e outras que hoje admiro ainda mais. Porque que me fez rir, chorar, emocionar, arrepiar, nunca julgando e dando liberdade para não só escrever mas também sentir. Porque me fez descobrir mais sobre a importância e responsabilidade de fazer sempre um bom trabalho.
O Fernando Tordo disse, naquela tarde, que a apresentação na Covilhã era muito especial e que a Covilhã estava presente também naquele livro, uma vez que passava aí algumas férias com o seu Pai e guardava boas recordações desse tempo. O livro falava de memórias e de um período algo ruidoso na vida de cada um: a transição da infância para a juventude. Sobretudo, o livro assumia-se como um manual de experiências para os mais novos. E aqui faz-se uma ponte algo curiosa para as experiências que o Urbi me permitiu viver. A verdade é que a cada peça que é feita, é mais uma experiência que vivemos e que podemos passar a mais e mais pessoas, através da escrita. O Urbi é a voz de tantas e tantas experiências que marcam quem as vive e que devem ser passadas para que vivam além de quem as descreve. Sei que as palavras escritas se tornam intemporais, se estiverem bem guardadas. Vejo o Urbi como esse agregador. Que não só guarda as palavras de quem deu os primeiros passos na escrita a seu lado, mas também acompanhou o seu crescimento e desenvolvimento. Tudo pode estar diferente hoje, 20 anos depois, para todos aqueles que se cruzaram com o Urbi mas com certeza que há coisas que se mantêm intactas: o carinho pelo Urbi e o agradecimento por aquilo que nos deu, nos primeiros anos de curso, onde os sonhos são tantos. O Urbi ajudou a alimentar esses sonhos e faz hoje parte da nossa vida e do nosso percurso. Parabéns, Urbi e obrigada pelas histórias, memórias, experiências. Que continue sempre a inspirar e a criar bons profissionais e que daqui a mais 20, existam ainda mais histórias para contar de todos nós.
*Susana Gomes começou o seu percurso profissional com um estágio na SIC, onde trabalhou na informação e no programa “Nós Por Cá”. Após o estágio, teve a oportunidade de trabalhar na área de publicidade para os canais temáticos da SIC, ficando mais 2 anos e meio na estação. Em 2009 entrou para o Canal Panda como assistente de programação e em 2013 ingressou na FOX, onde ficou 5 anos e trabalhou os canais FOX e FOX Comedy. Já em 2018 regressou ao Canal Panda, onde é hoje Directora de Programas para os canais Panda e Biggs.
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