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“Café Memória Faz-se à Estrada” e chega à Covilhã
J. Machado dos Santos · quarta, 15 de maio de 2019 · A iniciativa que pretende sensibilizar para doenças mentalmente debilitantes como o Alzheimer veio ao encontro de jovens estudantes universitários de psicologia e do ensino profissional na área dos cuidados. |
Mesas dispostas de forma a lembrar um café e um pequeno lanche contribuíram para um ambiente descontraído. |
21981 visitas A sessão realizou-se na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade da Beira Interior (UBI) no dia 9 de maio, e foi dinamizada por Catarina Alvarez e Isabel Sousa, psicólogas da organização Alzheimer Portugal. Depois de uma ronda de apresentação animada e um lanche, os participantes foram incentivados a envolver-se numa troca de ideias informal sobre as problemáticas de demências que afetam a memória e limitam as capacidades de autonomia. A doença de Alzheimer foi apresentada como a mais prevalente entre estas demências que afetam os processos cognitivos, em particular as funções executivas de tomada de decisão, planeamento e a capacidade de encadear uma sequência de ações. As psicólogas abordaram os efeitos das demências na vida dos doentes, que perdem gradualmente a sua autonomia, e na dos cuidadores, que muitas vezes não têm informação suficiente e apoio. Catarina Alvarez explica que os psicólogos têm um papel muito importante: “Não só vão ter que ajudar a pessoa com demência a lidar com a sua ansiedade, com os seus sintomas depressivos, com as suas limitações, e numa fase mais adiantada da doença a fazer uma intervenção cognitiva”, mas é tão importante fazer intervenção com a pessoa com demência como com o cuidador. “O trajeto é longo, passa por várias fases, o cuidador tem que estar permanentemente a adaptar-se a cada nova fase, e em algumas, mais agudas, o cuidador não precisa apenas de informação e formação, mas vai também precisar de apoio psicológico’, considera a profissional. O maior fator de risco apresentado é inevitável, porque é a idade. Catarina Alvarez aponta os números: “No caso da doença de alzheimer [a probabilidade desta se desenvolver] vai duplicar de 5 em 5 anos a partir dos 65 anos. Quando chegamos aos 90 anos temos uma taxa de prevalência de 40 a 45%”. No entanto, são aconselhados vários comportamentos de prevenção como a estimulação cognitiva, uma alimentação equilibrada e saudável, uma vida social ativa, exercício físico e a manutenção de um padrão de sono suficiente e regular, enquanto outros como beber álcool, fumar tabaco, consumir drogas e ter um estilo de vida sedentário que leve à obesidade podem contribuir para os fatores de risco. A psicóloga acrescenta ainda uma recomendação em forma de máxima: “Tudo o que faz bem ao coração, faz bem ao cérebro, e tudo o que faz mal ao coração, faz mal ao cérebro”. O contributo da hereditariedade genética é também muito importante, mas segundo Catarina Alvarez, “na esmagadora maioria dos casos na doença de alzheimer, essa não é a causa do desencadear da doença. Normalmente quando há um fator genético associado ao início da doença, esta começa mais cedo. Os sintomas da doença apresentam-se antes dos 65 anos”. Foi ainda abordado o estigma associado à doença de alzheimer, criado pela degradação gradual sem cura e do medo de uma morte da identidade própria antes da morte física. “É a visão negativa da perda de autonomia, e portanto, eu vou gerar dependência do outro, eu vou ser um fardo para o outro; da perda gradual, digamos que é sempre a descer, vou perdendo funções e mais funções; e depois, chegados aqui é a perda do eu”, explica Catarina Alvarez. Isabel Malaca Alexandre, psicóloga da Mutualista Covilhanense, organização que foi parte da parceria que trouxe o Café Memória à Covilhã, defende que este tipo de eventos ajuda a combater o medo trazido pelo doença: “Muitas vezes o medo gera que não se procure informação, e não se procurando informação, não se sabe como intervir. Estes espaços mais informais tiram realmente esse peso, ajudam uma pessoa a ser informada e a saber como agir, sentir-se mais eficazes também na forma como lidar, e mais seguros através da partilha, da reflexão conjunta, de perceber que há outras pessoas que também sentem os mesmos problemas, as mesmas dúvidas”. A disseminação de informação na comunidade é um ponto chave para Rosa Marina Afonso, docente da UBI e coordenadora do Projeto MentHA (Mental Health and Aging): “Quando vamos diretamente às pessoas na comunidade, aos cuidadores das pessoas que têm demência, há muita falta de informação sobre a doença, os recursos, o tipo de ajudas, o tipo de sintomas, o que se pode fazer. E este tipo de ações é fundamental porque passa esse tipo de conhecimentos. Além disso com este tipo de ação pretende-se atingir o alvo que vêm ao “Café Memória”, mas também que eles levem essa informação, neste contexto mais informal e, portanto, que a possam transmitir também, reproduzir e replicar depois em contextos informais”. A presença dos jovens e futuros profissionais da área é considerado um privilégio para Catarina Alvarez: “Ter a oportunidade de falar com jovens, designadamente com jovens estudantes que já têm um bocadinho este olhar para a saúde e para o apoio ao próximo, poder-lhes falar sobre um tema que é tão crucial, que é cada vez mais relevante do ponto de vista de saúde e do ponto de vista social, é uma oportunidade ímpar. Estar aqui num contexto académico e poder conversar com estes jovens é uma hipótese de criar mudança, e é aquilo que nós queremos, arranjar o maior número de agentes de mudança”. A Mutualista Covilhanense, o Departamento de Psicologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UBI e a Câmara Municipal da Covilhã, que esteve representada com a presença da vereadora Maria Regina Gomes Gouveia, foram as entidades locais que trouxeram o “Café Memória Faz-se à Estrada” à Covilhã. O “Café Memória” é uma iniciativa promovida pela Associação Alzheimer Portugal e pela empresa Sonae Sierra, que começou em 2013, com a abertura dos Cafés Memória de Lisboa-Colombo e de Cascais, e que hoje já conta com 19 espaços. Catarina Alvarez explica o projeto: “O café memória tem uma missão que é dupla. Por um lado aquilo que nós queremos fazer é quebrar o isolamento em que muitas pessoas com demência e os seus cuidadores se encontram, e por isso convidamo-los a uma vez por mês virem ter connosco e participar na sessão, mas queremos também uma outra coisa, que é chamar mais a atenção da sociedade para este tema, pôr o tema em cima da mesa, discuti-lo de forma aberta para contribuir para diminuir o estigma e o preconceito associado ao tema. Nós achamos que esta é uma forma informal e no contexto da comunidade de trabalhar o contexto das demências que ainda tem muito que ser trabalhado em Portugal”. O “Café Memória Faz-se à Estrada” é uma vertente que traz este conceito através do País de forma itinerante. A próxima sessão realiza-se em Alcoutim, no Hotel D’Alcoutim a 28 de maio. |
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