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O poder internacional da língua portuguesa em discussão na UBI
J. Machado dos Santos · quarta, 10 de abril de 2019 · UBI ‘Falar (em) Português e sobre Português: reflexões sobre o passado e o presente da língua’ foi o título da apresentação, que fez parte das Conferências Doutorais em Comunicação. |
A conferência foi dirigida aos estudantes de Doutorado na àrea da Comunicação |
21975 visitas 'A língua é uma ferramenta económica' foi um dos pontos apresentados por Maria do Céu Brás da Fonseca, professora da Universidade de Évora e doutorada em linguística, que proferiu a conferência que decorreu na Faculdade de Artes e Letras da Universidade da Beira Interior (UBI), no dia 5 de abril. A apresentação focou-se na utilização da língua portuguesa nos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e no estado do seu poder internacional. Seguindo o princípio de que quantos mais falantes, maior a valorização internacional da língua, e tendo em conta outros fatores como o índice de penetração da internet, prémios Nobel da Literatura, e número de traduções, Maria do Céu Brás da Fonseca argumenta que o potencial económico pode ser medido. A linguista aponta como exemplo o teórico barómetro de Calvet, ferramenta de dois investigadores franceses que analisa estes e outros dados para classificar o poder das línguas. Sobre o potencial português apresenta o exemplo da relação com a China. 'A China elegeu a aprendizagem do português como objetivo estratégico. Hoje o português é de facto um valioso ativo do ponto de vista internacional', refere. Por outro lado, tendo em conta o número de falantes de português, a professora universitária afirma que estamos perante uma manifesta ausência da língua no campo científico. 'A divulgação em português do conhecimento científico nacional é fundamental. Uma língua não deixa nunca de ser uma língua menor se não tiver capacidade de se impor do ponto de vista científico. Hoje o mundo académico está anglicizado. Uma língua de prestígio tem necessariamente que ser uma língua que sirva para transmitir literatura, música, cinema, mas também conhecimento científico'. O ponto de situação da língua lusa em Angola, Moçambique, Macau e Goa foi relatado através de testemunhos em vídeo de quatro estudantes de mestrado e doutoramento inseridos no contexto cultural de cada país. Segundo os depoimentos apresentados, estes integrantes da Comunidade de Países de Língua Portuguesa têm diferentes níveis de adesão à língua portuguesa pela população e problemas distintos. Enquanto em Angola e Moçambique o português é a língua oficial, existe um choque entre o português ensinado nas escolas e utilizado institucionalmente e o que é realmente falado pela população. Em Goa a maioria dos falantes de português fazem parte da população acima dos 60 anos, que aprenderam a língua durante o período da ocupação portuguesa. Em Macau, onde o português ainda está acordado como uma das línguas oficiais por 50 anos após a devolução do território à China, a aprendizagem da língua ainda é praticada em força, impulsionada também pela sua função como ferramenta de negócios. Maria do Céu Brás da Fonseca traça a diferença entre Angola e Moçambique. 'Em ambos os países estamos a falar do português como língua nacional, mas o número de falantes de português em Angola é substancialmente superior ao número de falantes que o usam em Moçambique como língua primeira', destaca. No entanto, segundo a professora universitária, o papel da língua é de igual importância. 'O português foi adotado como língua oficial [de Moçambique] na altura da independência do país, em 1974. E porquê? Porque provavelmente, ainda que seja uma língua que não é veicular, que não é ainda usada pela maioria da população, ainda assim, é uma língua que permite alguma unidade entre os moçambicanos, fruto deste multilinguismo e multiculturalismo'. Quanto às diferenças entre o português europeu padrão ensinado nas escolas, e aquele que a população reproduz diariamente, a linguista ressalta que é importante estudá-las para poder estabelecer uma norma diferente, como a que existe no Brasil. 'O que se está a notar é que quer em Angola quer em Moçambique estão a constituir-se também normas, ou seja particularidades linguísticas, fonéticas, morfológicas, sintáticas… O que interessa é fazermos um estudo descritivo da norma europeia, da norma angolana e da norma moçambicana'. As Conferências Doutorais em Comunicação iniciadas a 22 de fevereiro decorrem até 7 de junho, às sextas-feiras, na Sala dos Conselhos da Faculdade de Artes e Letras da UBI. |
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