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Um café e um livro, por favor
Sara Rodrigues · quarta, 5 de dezembro de 2018 · A Biografia de José Saramago pelo olhar de Joaquim Vieira no Café Literário |
Joaquim Vieira e Nuno Francisco |
22019 visitas “José Saramago: Rota de Vida”, foi o livro que esteve em análise no último Café Literário. A Casa das Muralhas foi o espaço que juntou o jornalista e autor da obra Joaquim Vieira, numa sessão aberta ao público. O livro traça um percurso de Saramago desconhecido aos olhos do grande público. Uma figura ilustre da cultura literária portuguesa retratada pelo olhar do jornalista e escritor Joaquim Vieira, que se debruça sobre a intensa atividade criativa e linguística que Saramago expressava nas suas obras, como também sobre o lado mais privado e pessoal do mesmo. Vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 1998, a distinguir não só Portugal como também a Literatura Portuguesa a nível mundial, Saramago conquistou um estatuto ímpar na história da cultura portuguesa. Joaquim Vieira retrata o trilho obscuro que Saramago percorreu até ser galardoado com prémio, atentando nas origens mais precárias e humildes do escritor português. Vieira considera que se tratou de uma figura que se manteve na obscuridade até à data. “Saramago era um marginal, ele jogava fora de campo. Era um escritor diferente, e por isso, as pessoas não acreditavam nele. Contudo, foi ele que nos premiou com o Nobel da Literatura, ainda assim Saramago não tinha planos para o ganhar, antes disso, Saramago foi muitas coisas”. Desde a sua vida nos recônditos ribatejanos, Saramago fez toda a sua formação intelectual como autodidata. Como editor do jornal Diário de Notícias, Saramago foi afastado da profissão após o golpe militar de 25 de novembro, por ser um ativista comunista. Um ano após a Revolução dos cravos em Portugal, José Saramago dedica-se à escrita. A sua obra “Levantado do Chão” é menos conhecida no seu percurso enquanto escritor, ainda assim, Joaquim Viera exalta a ideia que foi este o livro que “levantou do chão” Saramago e o lançou para o mundo da literatura. O autor da obra revela ainda a sua proximidade com o escritor Português. Enquanto Jornalista, formado em Paris, dedicando-se à vertente da Investigação, Joaquim Vieira teve um percurso influente no Jornalismo Português. Como diretor adjunto do Jornal Expresso, foi ele quem convidou Saramago para escrever crónicas no jornal: “Tudo o que Saramago é, está nas suas crónicas”, conta. Já nessa altura, o jornalista confessa que acreditava que Saramago era um candidato distinto a ganhar o Nobel da Literatura: “Os livros de Saramago ocupam um lugar insubstituível na cultura portuguesa. São um novo capítulo na história da nossa literatura, têm um peso tremendo pela maneira que estão escritos e pelos temas reais que abordam. Eu acredito que existe uma literatura antes de Saramago, e depois de Saramago.” Joaquim Vieira acredita no jornalismo como “uma atividade nobre de serviço público”. Iniciou o seu trabalho com pesquisas de caráter histórico para o jornal Expresso, e lançou-se posteriormente na escrita com fotobiografias de figuras ilustres da política e cultura portuguesa. Trabalhos foto biográficos de Salazar, Almada Negreiros e Amália Rodrigues, são um conjunto de projetos que marcaram o seu percurso, pois segundo Joaquim Vieira “a escrita conserva-se mais tempo. No Jornalismo, a notícia perde-se com o passar dos dias e horas”. Mais tarde, dedicando-se somente a escrever trabalhos biográficos, considera que a Biografia “é uma forma mais fácil de apresentar ao leitor estas figuras com um peso histórico na cultura portuguesa”. Convidado por editoras a escrever biografias de figuras portuguesas importantes, Joaquim Vieira não produziu biografias autorizadas. As suas obras assentam nos factos e realidades de personalidades ilustres, ocultas do público. O seu papel enquanto jornalista de investigação é expresso nas suas obras: “Eu trago para os livros que escrevo a bagagem que o jornalismo me deu, tudo aquilo que não transparece para o público, pois a posição do jornalista é investigar e procurar saber tudo de cada matéria. O desafio está em não estudar os factos políticos, mas sim o meio literário e a sua forma de expressar a natureza humana.” Ainda assim Joaquim Vieira é considerado um dos nomes incontornáveis no género biográfico da atualidade por diversos jornalistas e escritores. Nuno Francisco, diretor do Jornal do Fundão e docente na UBI foi o moderador da sessão, apontando que “a investigação que Vieira faz, é essencial e notável no seu trabalho. De facto, hoje é um dos nomes incontornáveis do Jornalismo e do trabalho biográfico que é feito neste país”. O diretor do Jornal do Fundão atenta ainda na importância da história que Joaquim Vieira traz à ribalta sobre a vida de José Saramago, antes de ter recebido o prémio Nobel da literatura: “A maior parte só realmente conheceu Saramago em 1998, quando ganhou o prémio nobel. Joaquim traz um percurso complexo, de um homem complexo. Eu julgava conhecer Saramago, há pontos que revelam um trabalho de investigação minucioso e de mérito, por parte de Joaquim Vieira”, defendeu. |
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