Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Marionetas, tradição e novidade
Ana Sofia Ribeiro · quarta, 14 de novembro de 2018 · A cidade da Covilhã recebeu a 37ª edição do Festival de Teatro, organizado pelo Teatro das Beiras, entre os dias 3 e 10 de Novembro. Pensado para os mais novos, e com apenas três peças para adultos e um musical, o Festival esgotou bilhetes logo no primeiro dia e encerrou com a 100ª produção do Teatro das Beiras: “Do princípio ao fim”. |
A peça "Casa dos Ventos" coloca em cena marionetas como personagens principais. |
21992 visitas O Festival de Teatro da Covilhã contou este ano com uma programação que exibiu onze apresentações cénicas, oito das quais destinadas ao público infanto-juvenil. Propostas que se enquadrem no Plano Nacional de Leitura ou que transmitam ensinamentos importantes dirigidos à infância e juventude têm sido uma contínua preocupação da organização, aposta que tem recebido uma “resposta positiva” por parte das escolas, motivo pelo qual a presente edição do Festival contou com a adesão de cerca de 700 crianças. A produção “Casa dos Ventos”, da companhia profissional Teatro e Marionetas de Mandrágora, foi uma das peças que encheu o Auditório Teatro das Beiras no dia 8 de Novembro. Com direção artística de Filipa Mesquita e direção plástica de enVide neFelibata, a peça atraiu, em especial, um público jovem de idade escolar, indo ao encontro do objetivo principal que tem orientado a escolha da maioria dos espetáculos que compõem este Festival. “Casa dos Ventos” coloca em cena algumas questões – “Pode uma pessoa ser uma casa? Necessita uma casa de paredes? Pode uma casa ser um local, uma língua, um país…?”. Nesse sentido, e através de uma linguagem simbólica e metafórica e do património tradicional na figura das marionetas, a narrativa dramatúrgica vai-se desenvolvendo ao longo de uma viagem empreendida pelas duas personagens principais, uma velha que carrega o seu moinho às costas e uma criança que a segue, e que pelo caminho se deixa atrair pela cidade, desviando-se. A velha percorre, então, todo esse espaço citadino, caraterizado como “opressivo”, à procura da criança que acaba por regressar ao moinho, onde reencontra a velha desfalecida. A peça coloca em evidente contraste os dois espaços nos quais decorre essa digressão: o espaço rural e o espaço urbano. Pelo caminho, Alba e Maria reinventam memórias e tradições numa tentativa de contruir com elas um futuro próprio num mundo em transformação. A viagem em busca de uma “nova colina” explora a ideia da velocidade do mundo em mudança, da necessidade de adaptação à ideia de aldeia global e de nela encontrar um espaço para o “moinho de vento”, metáfora para uma identidade própria, para as maneiras próprias do viver de cada um, onde seja possível coabitar com a urbe tecnológica. Para além de um iluminado moinho de vento, no palco esteve também em destaque todo um trabalho de desenho de cor por entre a meia-luz da interpretação, levado a cabo por Paulo Neto e Filipe Jesus, acompanhado por músicas que não fugiram à marca do tradicional e que ficaram a cargo de Fernando Mota e Rui Rebelo. Pela primeira vez no Teatro das Beiras, a companhia Teatro e Marionetas de Mandrágora ofereceu ao público mais jovem um cenário que explora em pleno as potencialidades plásticas e estéticas deste elemento principal, as marionetas, em relação cénica íntima com o ator. |
Palavras-chave/Tags:
Artigos relacionados:
GeoURBI:
|