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Miguel Real: a homenagem desejada
Francisco Nascimento · quarta, 14 de novembro de 2018 · Escritor e filósofo homenageado em Colóquio Internacional na UBI. Amigos e entusiastas marcaram presença, depois de várias tentativas para organizar o evento. |
Amigos e admiradores do autor marcaram presença no evento |
21974 visitas A Universidade da Beira Interior (UBI) em parceria com diversas entidades, organizou um colóquio internacional de homenagem ao escritor e filósofo Miguel Real. Sob a temática “Literatura, Filosofia, Cultura”, os dias 7 e 8 de novembro pretenderam abordar os 40 anos de carreira do escritor, reunindo um grande número de amigos e admiradores da sua obra. Miguel Real esteve presente no Anfiteatro da Parada ao longo dos dois dias do evento, tendo-se mostrado emocionado e lisonjeado com o carinho demonstrado. O convite para uma homenagem já tinha sido lançado duas vezes pela professora Carla Alexandre Luís. Miguel Real recusou sempre, por entender que “não merecia tal distinção”. À terceira foi de vez, muito por temer pelo seu estado de saúde, admite. O autor não tem dúvidas que “é melhor reunir amigos para falar do que escreveu, em vida”, reforçando que a decisão não comporta nenhum egocentrismo. Uma homenagem que muito o privilegiou, assegurando que se conseguiu reunir um grupo muito coeso, embora não disfarce algum constrangimento por um evento onde é a figura principal. A relação de Miguel Real com a UBI não é recente, tendo participado em vários congressos e colaborado em livros lançados por professores da universidade. O autor considera que a universidade covilhanense “é muito dinâmica e original nas propostas que apresenta”. Relativamente aos alunos, a sua afluência deixou Miguel Real satisfeito, embora reconheça que “no meu tempo os estudantes faziam mais perguntas”. Do lado dos oradores e amigos do escritor, Onésimo Teotónio D’Almeida viajou dos Estados Unidos da América com o único objetivo de estar presente na homenagem a Miguel Real. Professor na Brown University, deixou as aulas para segundo plano e aterrou em Portugal pela admiração que nutre pelo escritor. Para Onésimo, não é comum haver qualidade na obra e consequentemente na pessoa humana, o que “de facto acontece com Miguel Real”, reconhece. Identificando grandeza no ensaio reflexivo e na ficção que o escritor apresenta, Onésimo Teotónio D’Almeida debruçou-se acerca dos assuntos “oportunos e interessantes” dos ensaios, sobre a temática “Portugal no Panoptikon de Miguel Real”. O orador assegura que Miguel Real não “fala de cor”, reconhecendo-lhe ainda uma grande capacidade de escrita. Citando o filósofo Varrão, Onésimo afirma que Real “leu tanto que não se sabe como teve tempo para escrever, e escreveu tanto que não sabe como teve tempo para ler”. O professor considera que a obra de Miguel Real está a ter reconhecimento, até porque “não é normal que se façam estas homenagens em vida”. Congratula-se com a presença do escritor no evento, uma vez que pôde dar o seu ponto de vista em relação aos críticos, e perceber que “é lido, apreciado e admirado”. Segundo Onésimo, o reconhecimento só não é maior porque os portugueses “leem pouco” e não acompanham a velocidade de escrita do autor. No entanto, acredita que com o passar dos anos o reconhecimento será cada vez maior, tendo estas homenagens um papel fundamental. Esta não foi a primeira vez que o professor emigrado na américa se deslocou à UBI, onde tem “bons amigos”, admirando o esforço que “as universidades do interior fazem para sobreviver e se afirmar”, concordando com a descentralização no país. A organização reconhece uma grande qualidade no painel apresentado. No entanto, Annabela Rita admite que os dois dias de evento “não foram suficientes para acolher todos os que gostariam de estar presentes”. Para a organizadora, Miguel Real tem construído uma página na identidade portuguesa da lusofonia, com a sua escrita que alia a investigação à ficção, sendo uma “figura singular no panorama português atual”. Para além disso, trata-se de uma pessoa “humilde e modesta”, refletindo-se no facto de o autor não querer que se fale dele, considera. Annabela Rita compara a escrita de Miguel Real à lírica camoniana, tendo trabalhado várias áreas da literatura. A organizadora reconhece que nem todos os livros são facilmente atendíveis, contudo, vê no escritor uma capacidade de se fazer entender para qualquer faixa etária, “mesmo para os mais novos”. Para lá do evento, a homenagem a Miguel Real culminará com uma publicação prevista para o próximo ano, celebrando o 40º aniversário da distinção com o Prémio Revelação e Ficção, entregue ao autor na sequência da sua primeira obra ficcional, intitulada “d’O Outro e o Mesmo”. |
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