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"E se parássemos de sobreviver?": um livro que questiona o tempo
Francisco Nascimento · quarta, 7 de novembro de 2018 · André Barata apresentou um pequeno livro com reflexões filosóficas e a comunidade marcou presença em plateia sobrelotada. |
António Fidalgo, reitor da UBI, apresentou o livro à comunidade |
22008 visitas “E se parássemos de sobreviver?” é a mais recente obra de André Barata, professor na Universidade da Beira Interior há 16 anos. A sede da Coolabora, um centro de ação social na Covilhã, encheu para a apresentação deste livro, que aborda a “ditadura do tempo” e questiona a forma como a sociedade vive nos dias de hoje. O evento decorreu no passado dia 30 de outubro, com a apresentação do livro por António Fidalgo, reitor da UBI. Formado em Filosofia, André Barata assume-se como “pensador de esquerda”, embora reconheça que esta sua obra “não é um livro marxista”. Ao longo das 108 páginas, dividídas por 16 capítulos, o professor atenta que “vivemos num tempo em que não temos tempo”, onde o direito de viver o passado, presente e futuro foi retirado. Acredita no sucesso de “E se parássemos de sobreviver?”, até porque “é um tema que toca a todas as pessoas”. Depois de Lisboa, foi a vez da Covilhã receber a apresentação desta obra. André Barata enaltece o facto de estar na cidade da sua universidade, sendo a Coolabora a sua “segunda casa” na Covilhã, onde se relaciona com projetos de intervenção social. Para escrever o livro, André Barata baseou-se nas experiências enquanto docente de uma universidade, não esquecendo a sua atividade permanente nas redes sociais, e as inquietações da sociedade, refere. A certa altura, um reforço de cadeiras foi necessário para que toda a plateia se pudesse sentar. A adesão do público reforça a ideia do autor, que considera o seu livro como “filosofia popular”, na medida em que pretende chegar a todas as pessoas. Reconhece que é uma obra densa, mas acessível, aludindo aos esforços que fez nesse sentido. Ao longo da obra, o filósofo admite uma “greve ao tempo”. Segundo André Barata, o tempo que se vive em comunidade foi preparado de forma a criar desigualdades e acumulação de riquezas. Ou seja, este é “um tempo perfeitamente ajustado ao capitalismo”, indica. O professor considera que a sociedade tem o direito de lutar por outro tempo, introduzindo roturas e dissipações. Admirador confesso das redes sociais, onde partilha e debate os seus conhecimentos, o autor não olha para estes espaços como públicos. Comparando as redes sociais a centros comerciais, Barata encara a atualidade como uma montra: efémera e de interesse escasso, necessitando de uma renovação permanente. Na sua opinião, a argumentação e a troca de ideias no Facebook têm “a validade de um iogurte”. “Passado uns dias já ninguém se lembra”, admite. Para o professor, o espaço público e a ideia de verdade possuem um tempo mais alargado relativamente às redes sociais. “Devemos lutar por redes sociais capazes de responder às necessidades do espaço público”, sugere. Do lado da plateia, o evento aguçou o apetite àqueles que ainda não tiveram oportunidade de ler o livro, como foi o caso de Ana Bogalheiro. A espectadora considera que o tema da obra é bastante atual, pois “a vida é cada vez mais uma corrida, sempre contra o tempo”. Acrescenta que o tempo passou a ser uma unidade de medida, estando as pessoas “muito presas a ela”. Ana Bogalheiro considera que deveria ser dado mais espaço a livros como o de André Barata, que reflete sobre “questões essenciais e atuais”. Partilhando várias ideias do autor, considera ser necessário que apareçam mais reflexões acerca de temas pouco analisados, mesmo que não partilhem das mesmas ideologias e visões, pois é necessário que se debata e reflita sobre as questões do dia-a-dia. Ana Bogalheiro enalteceu a partilha existente ao longo da apresentação, acreditando que muitas pessoas deixaram o espaço a refletir sobre as questões que o autor levanta ao longo do livro. Uma ditadura do tempo, presente até na apresentação da obra. O tempo passou, e as perguntas e respostas habituais tiveram de ficar para uma próxima ocasião. |
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