Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Futuro do Brasil discutido na UBI
Francisco Nascimento · quarta, 10 de outubro de 2018 · UBI Estudantes portugueses e brasileiros juntaram-se para ouvir e debater a crise instalada no país descoberto por Pedro Álvares Cabral. Prevê-se que a extrema-direita tome o poder na sequência das eleições. |
Ivo Theis considera que a democracia no Brasil pode estar em causa |
21969 visitas Em período de eleições no Brasil, a Universidade da Beira Interior (UBI) recebeu o professor e economista brasileiro, Ivo Theis. Num seminário sob o tema "Eleições Presidenciais no Brasil: impactos económicos e políticos", o docente da Universidade de Blumenau analisou o momento que o seu país atravessa, bem como os casos de justiça pendentes em terras de Vera Cruz. O evento decorreu no passado dia 4 de outubro, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Aludindo à estreita relação que a UBI tem com diversas universidades do Brasil, Ivo Theis considera que o convite que recebeu para esta palestra, demonstra que os professores e alunos da UBI têm um grande interesse pelo que se passa no país irmão. Num tempo bastante complicado em termos económicos e políticos, o professor afirma que “fica muito satisfeito e reconfortado por ver essa preocupação pelo Brasil”, um povo que tem muitas semelhanças com os portugueses. O economista brasileiro está certo de que a justiça "tem uma grande responsabilidade em todo este imbróglio", uma vez que "pune uns e iliba outros, pelas mesmas razões". Como exemplo, Theis explica que Lula da Silva foi preso sem que se tenham apresentado evidências do crime de que é acusado, em ano de eleições. O processo "Lava Jato", em que Lula da Silva é incriminado, iniciou-se em 2014 com o intuito de resolver a corrupção no país. Contudo, Theis indica que "só foram acusados políticos de um certo sector", sendo os conservadores "ilibados de qualquer acusação". Para além disto, os grupos mediáticos, como a comunicação social, têm uma grande influência na opinião pública brasileira. Ao longo dos últimos anos, têm sido lançadas um grande número de fake news, muitas delas com ligações aos partidos políticos, afirma. De forma a enfrentar este tipo de problemas, Theis atenta como necessário colocar os media sob controlo social. Não significa acabar com a liberdade de imprensa, mas sim que noticias verdadeiras e de qualidade possam chegar à população, para que "não haja produção de mentiras que passam a representar a verdade", declara. Já sobre a possibilidade de um candidato de extrema-direita ganhar as eleições, no caso Jair Bolsonaro, o economista vê-a como algo preocupante, lembrando que será algo inédito no Brasil. Contudo, compreende a situação, devido à conjuntura complexa, que favorece o candidato do Partido Social Liberal. Segundo Ivo Theis, a grande incógnita é perceber se a população vai contribuir na sua maioria para a vitória de Bolsonaro. Na sua opinião, na segunda volta, é importante que o candidato Fernando Haddad consiga agregar a maior parte do eleitorado, acolhendo as inquietações das diferentes partes da sociedade. Para o economista, isso significará uma "saída política, não sendo violenta e extrema". Do lado da faculdade, esta foi uma oportunidade de abordar a crise brasileira com uma figura que tem vivido os acontecimentos na primeira pessoa, num momento em que há um certo pendor para aceitar candidaturas extremistas. Embora o seminário fosse dirigido aos alunos de Economia e Ciência Política e Relações Internacionais, estiveram presentes bastantes estudantes brasileiros de outras áreas. António Matos, docente no departamento de Gestão e Economia, destaca o enorme contingente brasileiro a estudar na UBI, afirmando que a sessão foi também pensada para eles, numa perspetiva de "aproximação entre povos". O docente olha para as eleições brasileiras com alguma preocupação, esperando que sirvam de alerta nalgum conflito político que venha a surgir em Portugal ou na Europa. António Matos espera que se fortaleça a democracia e não um "regresso ao passado". Já Vitoria Delmondes, aluna brasileira de Ciência Política e Relações Internacionais da UBI, congratula-se com a vinda de Ivo Theis à universidade para falar de um tema particularmente importante. Este assunto serve também para "alargar o pensamento aos portugueses", para quem não conhece a realidade vivida atualmente no Brasil, assegura. A aluna chegou do Brasil há pouco tempo, e identifica uma grande crise no país, que presume será ampliada com a vitória de Jair Bolsonaro, devido às ideias radicais e relações próximas que o candidato tem com o regime militar. Delmondes afirma que ainda não entendeu como é que um candidato alvo de piadas no início da campanha, hoje aparece como o provável presidente brasileiro. A aluna compara a situação com o caso que se viveu nos Estados Unidos da América, com a presidência de Donald Trump, apoiado pelas grandes corporações do país. "O mesmo acontece no Brasil, onde as pessoas pedem uma mudança", contudo, na visão da aluna, "não se está a ir pelo caminho correto". Recorde-se que a primeira volta das eleições se realizou no passado dia 7 de outubro, estando a segunda volta, entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, marcada para o dia 28 deste mês. |
Artigos relacionados:
GeoURBI:
|