Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Sem pressas, dois temas, uma conversa
Diana Serra Garcia · quarta, 16 de maio de 2018 · Moda e Arte Urbana foram os temas escolhidos para a 2º Edição do evento Conversa 100 Pressa. Um diálogo em tom informal que tem como objetivo a divulgação de ideias e partilha de experiências e conhecimentos. |
A mesa da conversa: à esquerda Pedro Rodrigues; ao centro Ivo Rocha Silva e à direita Miguel Gigante. |
21993 visitas A organização do evento é da Fábrica dos Idealistas, do At Covilhã e do Paço 100 Pressa, local escolhido para a realização da iniciativa, que já vai na segunda edição. Miguel Gigante, designer de moda, e Pedro Rodrigues, arquiteto e fotógrafo, protagonizaram esta iniciativa sobre Moda e Arte Urbana, na noite de 11 de junho. Simone Reis, produtora cultural e participante do público, conta que veio a esta iniciativa “porque queria entender um pouco mais da cultura que existe aqui na Covilhã” e acrescentou ainda que “qualquer iniciativa que consiga reunir pessoas que possam debater um tema e engradecer a cultura é sempre um bom evento e muito importante para a sociedade”. Miguel Gigante é o responsável pelo Atelier de Burel criado na Covilhã em 2008 e foi o convidado na temática da moda. Desde criança que conhece a atividade do burel e foi desde os 19 anos que começou a trabalhar na área que sempre o interessou, sendo atualmente designer de moda. O criador escolheu a prática da lã pela proximidade dos materiais e também pela influência do território, que é a sua casa. O ritmo alucinante da moda era algo que o designer nunca gostou. “Decidi enveredar por esta área do burel porque na moda o ritmo é muito stressante, enquanto trabalhar a lã necessita de um ritmo mais calmo”, explicou. O atelier do qual é responsável foi um grande sucesso inicialmente e vendeu muito vestuário nas feiras de artesanato por onde passou de norte a sul de Portugal. “Muitas das vezes as inscrições para os expositores nas feiras já tinham terminado, mas quando dizia no que consistia o meu trabalho, que trabalhava o burel, isso despertava as pessoas e conseguia ter expositor mesmo fora do prazo das inscrições”, comentou. Miguel Gigante explicou que hoje em dia o seu trabalho é mais vocacionado para os turistas porque são eles têm poder económico para a compra deste tipo de produto, relativamente caro, e porque valorizam este tipo de património. “Eu costumo dizer que vendo território porque estou dez minutos com a minha cliente a falar da peça de roupa e depois estou meia hora a falar de onde venho”, contou. Atualmente o designer de moda está mais ligado a projetos do New Hand Lab, espaço coletivo de criação e inovação artística na Covilhã. Miguel Gigante considera que é hoje mais difícil progredir a nível individual devido à falta de apoios e à necessidade de mais investimentos na área. Na área da arte urbana, o convidado foi Pedro Rodrigues, criador do Festival Wool, o mais antigo festival de arte urbana em Portugal. Foi aos 15 anos que começou a trabalhar na área, quando a arte de pintar as paredes ainda era ilegal. O Wool é um projeto que usa muito a temática da indústria têxtil e dos lanifícios nas diversas intervenções em paredes degradadas no centro histórico da cidade, recriando a identidade da Covilhã. Muitos dos trabalhos foram realizados por artistas portugueses de arte urbana reconhecidos internacionalmente, como Vhils, Bordalo e Plutónio. Pedro Rodrigues comentou que “existem cada vez mais artistas a irem para fora e que acabam por fazer toda a sua carreira no exterior devido à falta de empresas e financiamento”. O organizador do Wool acrescentou ainda que “o facto de ser um festival numa cidade pequena do interior do país leva a que muitos artistas não aceitem vir cá porque a competição com outras cidades maiores é muito grande”. Ao contrário de antigamente, a arte urbana está cada vez a ganhar mais notoriedade e a ter maior recetividade por parte da população. O número de festivais tem crescido e as redes sociais ajudaram muito na difusão dos trabalhos realizados. Porém, segundo Pedro Rodrigues, ainda há um grande preconceito por parte da população, que continua a ver a arte urbana como ilegal e que não a entende como um tipo de intervenção que pretende passar uma mensagem. O criador deu um feedback bastante positivo do festival e informou que a edição do Wool 2018 vai realizar-se de 2 a 10 de junho e contará com quatro artistas, dois nacionais e dois internacionais, além de workshops e roteiros de arte urbana. Um evento que juntou duas temáticas desiguais, mas que ao mesmo tempo se unem pela ligação à indústria têxtil e dos lanifícios, atividade vincada ao carácter da cidade da Covilhã. |
Palavras-chave/Tags:
Artigos relacionados:
GeoURBI:
|