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Comunicar com pessoas com deficiência: empatia é o essencial
Inês Ferreira · quarta, 11 de abril de 2018 · @@y8Xxv Psicóloga clínica partilhou dicas e apontou erros a evitar na comunicação com pessoas com deficiência. Experiências de vida foram testemunhadas por portadoras de problemas. |
A psicóloga clínica Inês Soares (à esquerda) acompanhada de Sílvia, cliente da APPACDM (à direita). |
21984 visitas “O mundo que hoje está adaptado a nós, no futuro pode não estar e, por isso, devemos trabalhar para um mundo que seja de todos”, defendeu Inês Soares, psicóloga clínica na Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) da Covilhã, durante a palestra “Comunicação com pessoas com deficiência”, que aconteceu no dia 4 de abril, na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior. Inserida na XI Edição do Hospital Faz de Conta (HFC), um dos maiores projetos do Núcleo de Estudantes de Medicina (MedUBI), a iniciativa foi aberta a toda a comunidade ubiana e visou esclarecer os alunos sobre a melhor forma de evitar erros quando se comunica com pessoas com deficiência. Na sessão estiveram também presentes duas utentes da APPACDM, Inês e Sílvia, que intervieram durante a palestra para darem exemplos de situações que viveram e onde as atitudes por parte de outros não foram as mais adequadas. “Existem medos completamente absurdos, resultantes de uma má comunicação ou de uma má explicação”, explicou a psicóloga Inês Soares, quando clarificava os modos de atuação corretos para se interagir com pessoas com deficiência. “A deficiência é vista como um fenómeno social”, referiu, explicando que existem várias “barreiras que limitam a integração destas pessoas na sociedade”. “O meu sonho é ser professora e ser igual aos outros”, declarou Sílvia, portadora de uma doença neuro degenerativa. Antes de ir para a APPACDM “andava em casa de joelhos”. Hoje, apesar de a doença se ter agravado, Sílvia melhorou em muitos outros aspectos. Consegue andar em pé e está a concluir o 9º ano de escolaridade. “As barreiras são menores e a Sílvia consegue ter hoje mais competências do que tinha quando a doença estava no início”, explicou a psicóloga Inês Soares. A psicóloga clínica descreveu como é trabalhar diariamente com a deficiência, acompanhando os utentes em diversas atividades, como ir ao médico ou ao dentista. E explicou que “para além da doença, é preciso conhecer os seus gostos e a sua maneira de ser e é aí que está a chave para a comunicação”. Inês Soares considera que a empatia é o fator essencial e que “o impacto daquilo que dizemos num determinado dia pode fazer toda a diferença na vida daquela pessoa”, para melhor ou para pior. Durante a palestra, a psicóloga, auxiliada por Sílvia e Inês, foi ressaltando os principais aspetos a ter em conta quando comunicamos com pessoas com deficiência, exemplificando situações onde devem ser tidas em conta algumas ações. Alguns exemplos são falar à mesma altura que uma pessoa em cadeira de rodas, ser mais paciente ou saber adaptar a comunicação a um deficiente visual ou auditivo. Para além das dicas e esclarecimentos, Inês Soares partilhou vários episódios de clientes da APPACDM, em que a comunicação não foi bem trabalhada, nomeadamente nas idas ao médico. Sílvia não gosta de ir às consultas, porque os médicos não falam com ela, mas sim com os pais, e acha que, por vezes, isso acontece por “haver o medo de não saber como falar”. A trabalhar na instituição há cerca de dois anos, Inês Soares afirma que a experiência tem tido um grande impacto na sua vida e que aprendeu a relativizar e a simplificar coisas que outrora a preocupavam demasiado: “Um problema para nós, deixa de o ser no dia em que temos contacto com uma pessoa que teve um infância normal e que, de um momento para o outro, começou a desenvolver uma doença que lhe vai retirando a autonomia”. A psicóloga clínica afirma que se tornou numa pessoa “muito mais preocupada com a inclusão do que era anteriormente” e alerta para o facto de ninguém estar livre de um episódio que altere a sua vida por completo. “Não estamos livres de nada”, conclui Inês Soares. |
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