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Ciganos relatam preconceitos sofridos em Portugal
Juliana Reigosa · quarta, 28 de mar?o de 2018 · Durante evento na UBI, membros da etnia cigana apontaram dificuldades em viver no país e analisaram evolução nos costumes e tradições. |
No Dia Internacional contra a Discriminação Racial, ciganos marcam presença em encontro no MedUBI. |
21991 visitas No Dia Internacional contra a Discriminação Racial, celebrado em 21 de março, membros da etnia cigana estiveram na Faculdade de Ciências da Saúde (FCS) da Universidade da Beira Interior (UBI) para o encontro “MedTalks: Como Somos Iguais”. O evento, promovido pelo Núcleo de Estudantes de Medicina (MedUBI), teve como objetivo entender como os ciganos se sentem diante do preconceito, além de aprofundar os conhecimentos sobre a realidade e os costumes deste grupo étnico. Segundo dados de 2017 do Alto Comissariado para as Migrações (ACM), a comunidade cigana em Portugal é de 37 mil pessoas, o que representa cerca de 0,3% da população do país. Para a coordenadora do Departamento de Saúde e Ação Social do MedUBI, Susana Viana, a discriminação contra este grupo étnico incide, inclusive, no campo da saúde. “Principalmente como médicos, podemos tentar mudar um bocado desta realidade”, alerta. Segundo a estudante de Medicina, “apesar do tema continuar a ser importante em qualquer dia, a ideia do encontro é marcar a data e mostrar como somos iguais”. O evento contou com a presença de quatro portugueses de etnia cigana: Manuel Cardoso, Jessé Fernandes, Davi Vicente e António Vicente. Durante uma hora e meia, os membros da comunidade cigana responderam a questões de estudantes e aproveitaram para combater a imagem negativa associada ao cigano, visto por muitos como “trapaceiro e ladrão”, segundo os próprios relataram. “É muito difícil ser cigano em Portugal”, afirmou Manuel Cardoso, referindo-se tanto a aspetos económicos como sociais e culturais. “Hoje vivemos com a ajuda do Estado, que dá um valor para sobrevivermos. Também não temos grandes estudos. E sofremos muito preconceito. A vida aqui ainda não é como queremos”, considerou Cardoso. Jessé Fernandes completou a ideia: “Em determinados sítios, somos muito discriminados. Por exemplo, em hospitais e restaurantes”. De acordo com o convidado, hoje em dia há pessoas com mentalidade um pouco mais aberta em relação a outros povos, mas ainda existe muito preconceito. “As pessoas não dizem, mas os olhares denunciam”, concluiu. Durante o encontro, António Vicente relatou um episódio de preconceito que sofreu quando foi procurar emprego num estabelecimento de restauração. “Disseram que eu não teria trabalho atrás de um balcão porque ia causar mal-estar entre as pessoas. Por ser cigano, na opinião deles, isso quer dizer que sou fechado”, explicou. Além de se abordar o preconceito, o encontro foi aproveitado para os representantes da comunidade cigana falarem sobre costumes. Davi Vicente lembrou que, “como em qualquer povo, as tradições evoluem”. Citou o exemplo do casamento dentro da comunidade, que antigamente durava 15 dias. “Atualmente é um dia de festa, quando há casamento, já que praticamente não se faz mais isso”, constatou. Já Jessé Fernandes analisou uma mudança nos hábitos do grupo étnico ao longo do tempo: “Há alguns anos, o cigano andava a cavalo e estava sempre a viajar. Hoje temos casas, carros, como qualquer outra pessoa”. Ainda de acordo com Fernandes, o equilíbrio entre as tradições e a evolução é baseado no pensamento de cada um. Antigamente, quando um pai morria, o filho tinha de ficar sem cortar a barba durante dois anos, como sinal de luto. “Hoje, isso já não é uma regra. Se a pessoa achar por bem não fazer isso, pode vestir só uma roupa preta durante o tempo que achar necessário, pois já é normal”, ressaltou. |
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