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"Ainda hoje tenho muitos dos princípios que me foram passados na UBI"
Rafael Mangana · quarta, 11 de abril de 2018 · @@y8Xxv Entre a paixão pela canoagem e o curso, venceu o curso e em 1998 ingressava em Ciências do Desporto na UBI. Depois de um percurso sempre associado à sua área de formação, João Mascarenhas é, desde 2013, treinador de todos os escalões de triatlo do Benfica. |
João Mascarenhas |
21983 visitas Urbi et Orbi: Porquê Ciências do Desporto e porquê na UBI? João Mascarenhas: Por acaso foi uma decisão radical na minha vida porque eu praticava canoagem na altura e tinha até algum sucesso, portanto vir estudar para a Covilhã punha um ponto final na minha carreira nessa altura. Portanto, não foi nada do meu agrado a entrada, mas ao fim de um mês já nem pensei mais em termos desportivos, fiz uma opção pela minha carreira profissional por aquilo que eu encontrei aqui, tanto no curso como na universidade. Falando do meu curso mais especificamente, penso que na altura estávamos na vanguarda, estávamos muito à frente daquilo que se fazia no resto do país, em especial na abordagem à Educação Física. E estávamos exatamente a terminar com o conceito da Educação Física e encarar a pessoa como uma pessoa humana e isso fez-me apaixonar não só por aquilo que é a minha profissão hoje em dia como também pelo curso porque sabia que noutro local não teria o tipo de aprendizagens que tive aqui.
U@O: Disse-me que veio contrariado mas que bastou apenas um mês para ficar convencido. Há alguma coisa de especial na UBI? JM: Eu tinha estado um ano em Engenharia Informática em Lisboa e é completamente diferente. A vida de um estudante cá é completamente diferente pelas amizades que se criam, pela camaradagem, por toda a partilha que nós temos aqui, mesmo a facilidade de irmos a casa uns dos outros, não só para o convívio mas também para estudar, isso é completamente diferente de um grande centro e, no meu entender, para melhor. Todo esse ambiente foi muito bom. Aliado a isso, ter também uma mais-valia da componente cientifica que aqui encontrei. Eu só estava contrariado porque não podia continuar a praticar o desporto que queria.
U@O: Mas acabou por compensar ter que abdicar da canoagem? JM: Sim, não me arrependo de nada.
U@O: O que recorda dos tempos da UBI? JM: Só coisas boas. Ainda agora pondero procurar um trabalho a médio prazo aqui na região porque passei a adorar aqui toda a zona, o ambiente da serra, que às vezes moramos fora e acabamos por não dar grande valor, temos o estigma com as grandes cidades de Lisboa e do Porto, que também são muito bonitas, mas isto aqui é muito bonito, tem uma riqueza enorme em termos naturais e em termos de vida que encaixa perfeitamente com a minha maneira de ser. Portanto, recordo muito os tempos passados na serra, em termos académicos eu penso que Coimbra talvez consiga ter uma vida académica que nós temos mas penso que Lisboa não tem o mesmo ambiente, não tem o mesmo carisma que nós temos. Depois fui presidente do Núcleo de Alunos de Desporto, ainda uns anos valentes, o que também movimentou muito a minha dinâmica na terra.
U@O: Como tem sido o seu percurso profissional desde que acabou o curso na UBI? JM: Eu comecei como treinador relativamente cedo, tinha ainda 16 anos e como praticava numa equipa de canoagem pequenina, fui ali promovido a treinador. Ainda durante o curso fui sempre trabalhando e estudando em várias coisas relacionadas com o desporto, não só no ensino como no treino, e quando terminei, em 2002, ingressei na Câmara Municipal da Chamusca onde ainda hoje sou Técnico Superior de Desporto. Continuei a minha carreira de treinador, na altura mais virado para a canoagem, mas quando estive cá a estudar comecei a praticar triatlo e acabei por ter ali uma proposta de trabalho em 2003 que teve logo muito sucesso, tive logo cerca de dez atletas nas seleções nacionais, como treinador de triatlo no Clube de Natação do Cartaxo. Fui continuando a minha vida sempre ligado ao triatlo, depois com outro projeto na Golegã, onde também tivemos um conjunto de atletas nas seleções e em 2013 ingressei no Sport Lisboa e Benfica, onde ainda estou como técnico de triatlo de todos os escalões. Este ano temos mais um técnico em termos dos escalões de formação, em termos de escalões absolutos sou o único treinador, apesar de termos alguns atletas enquadrados no Centro de Alto Rendimento e, portanto, treinam com os treinadores de lá. O meu papel passa pela coordenação toda da equipa para além do enquadramento técnico.
U@O: Ou seja, alguém que vem estudar para a UBI e que depois chega a treinador de triatlo do Benfica, um dos principais clubes nacionais, é sinal que ao tirarmos um curso numa universidade mais pequena é possível vingar. JM: Sem dúvida. Na altura éramos um curso de vanguarda, ainda hoje tenho muitos dos princípios que me foram passados na UBI, sinto que fazem diferença, sinto que são novidade para as pessoas e sinto que fazem diferença na minha prática profissional, especialmente nos escalões de formação em que um pai está a investir o tempo do seu filho, está a investir o seu dinheiro. É um aspeto de formação humana, não estamos ali a formar campeões com 10 ou 12 anos, estamos a formar pessoas, e aquilo que me foi transmitido aqui faz muita diferença, sinto que as pessoas gostam da mensagem, gostam da abordagem e isso, sem dúvida, aprendi aqui na UBI.
U@O: Que conselhos pode deixar a um aluno da UBI de Ciências do Desporto para que possa vingar profissionalmente? JM: Eu diria que é não ter medo de nada. Eu tenho trabalhado um pouco por todo o mundo e sinto que nós portugueses somos um bocadinho indisciplinados, por assim dizer, temos alguma falta de método, mas somos pessoas com uma criatividade, com uma facilidade de ler em termos humanos outras pessoas muito grandes e isso é uma grande mais-valia na área desportiva porque o que nós temos que fazer é condicionar os comportamentos e de os gerir. Penso que um bom conselho para um finalista é, de facto, não ter medo e informar-se muito. Eu ainda hoje tenho que estudar muito, também foi uma coisa que me foi aqui ensinada no curso, foi que o curso não acaba no fim, ali começamos e o estudo tem que ser diário, porque senão somos completamente cilindrados. Mas é não ter medo, não ter nenhum complexo de inferioridade relativamente a ninguém no mundo todo, porque não há razão nenhuma para isso.
Perfil: Nome: João Mascarenhas Naturalidade: Entroncamento Curso: Ciências do Desporto Ano de entrada na UBI: 1998 Filme preferido: “We Bought a Zoo” Livro preferido: “A Cidadela” de A.J. Cronin Hobbies: Desporto, leitura, fotografia, viajar
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