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Grandfather’s House nos "Sons à Sexta"
Ricardo Morais · quarta, 7 de mar?o de 2018 · Da casa do avô para o palco da Moagem. Os Grandfather’s House são os artistas que seguem nos “Sons à Sexta”, já no próximo dia 09 de março. O Urbi et Orbi e a Rádio Universitária da Beira Interior estiveram à conversa com a vocalista da banda, Rita Sampaio, sobre um projeto que começou a solo mas que no último álbum está repleto de colaborações. |
21997 visitas Urbi@Orbi: Como é que surgem os Grandfather’s House? Rita Sampaio: O projeto surgiu pelo Tiago, o atual guitarrista, o Tiago Sampaio. Na altura a intenção dele era começar com um projeto a solo, no fomato one man band, e na verdade foi assim que se desenrolou. Basicamente ele formou o projeto, e foi assim que se manteve durante algum tempo, com essa formação, e só depois é que me juntei a ele nas vozes, a convite do Tiago, que é meu irmão. Portanto, a nossa relação musical é forte, já temos conversas, influências, e acho que isso foi muito importante também no inicio. E depois entretanto entrou o João Vítor, para a bateria, as coisas evoluíram rapidamente, até posso dizer dessa maneira, tendo em conta que nós não estávamos realmente à espera do que é que podia acontecer, as decisões que tomámos e os elementos que entraram, foram decisões que achámos naturais e necessárias para que o projeto também pudesse crescer. O João entrou connosco já depois da edição do EP “Skeleton”, entretanto compusemos juntos o primeiro longa duração, que foi o “Slow Move”, que saiu em 2016, se não me engano, e entretanto com o novo álbum, o “Diving”, que foi editado apenas o ano passado, é esse álbum que estamos a apresentar neste momento, entrou também o Nuno Gonçalves para as teclas. E pronto, mantemo-nos assim nessa formação até agora. Entretanto o João Vítor saiu, saiu da bateria, e entrou a Ana João, que está connosco neste momento. U@O: Que importância é que tem a casa do avô no percurso dos Grandfather’s House? É só no nome? Podemos dizer que a banda tem um grande cunho familiar, pelo local onde começou, mas também pelo laço que une a Rita e o Tiago? Há influências familiares na constituição da banda? RS: Eu creio que não, porque realmente nós não tivemos assim muita influência através de parentes, nem os nossos pais, não era assim uma coisa muito presente cá em casa, a música em si. Eu comecei a ouvir música foi por mim, nem foi muito pelo irmão, que é mais velho, mas comecei a ouvir um bocado e a descobrir basicamente. As primeiras influencias que tive foram muito o rock dos anos 60, 70, foram o primeiro contacto que eu tive com a música. E o Tiago depois também começou a ouvir por ele, e depois começámos a interagir mais um com o outro e a mostrar coisas que nos interessavam um ao outro. A nível familiar só temos um tio que toca guitarra e é grande fã de Zeca Afonso, mas é o único caso. U@O: Primeiro era só o Tiago, depois juntou-se a Rita. Quando eram só os dois sentiam que faltava alguma coisa ao projeto? Como é que se dá a entrada do João Vítor? RS: Eu acho que foi um bocado um processo natural, porque lá está, se reparares entrou um elemento quase por CD, e sentimos sempre essa necessidade, sei lá, de evoluir, de crescer, também para podermos dar mais ao vivo, para podermos dar mais em disco também. Penso que foi uma necessidade, foi algo natural, nada muito premeditado. U@O: Quais é que são as referências ou influências musicais dos Grandfather’s House? RS: O Tiago por acaso é muito influenciado pelo Blues, no inicio, lá está, como começou com o projeto como one man band, ele tinha como influencia muito o Blues, Delta Blues, o Blues mesmo dos primórdios por assim dizer, e depois tudo o que é influenciado pelo Blues, sei lá, “Jack White”, “White Stripes”. “White Stripes” eram uma grande influência para nós no inicio, por exemplo. Depois acho que cada um evoluiu para um caminho diferente. Eu agora, falei-te daquelas influências, mas que agora não estão nada presentes na forma como eu vejo a música, quer dizer, no fundo estão subconscientemente, são sempre muito importantes porque são as primeiras coisas que eu comecei a ouvir e me introduziram no mundo da música. Mas, entretanto, já evoluí para ouvir outras coisas, sei lá, coisas mais eletrónicas, por exemplo, que no inicio não tinha tanto essa abertura, mas depois a tua visão vai mudando um bocado, o que é bom, porque também te dá a possibilidade de evoluíres como músico, penso eu. U@O: De que forma é que essas influências estão presentes nas músicas dos Grandfather’s House? RS: A propósito dessa pergunta eu posso fazer uma referência ao método de composição do último álbum, que vai de encontro ao que me perguntaste, porque nós decidimos fazer uma coisa diferente. No primeiro longa duração nós tocávamos os três, eu o João e o Tiago, agora já na composição do segundo longa duração, o “Diving”, estivemos com o Nuno também na sala a compor, e quisemos fazer uma coisa diferente, e então propusemo-nos a que cada um levasse um disco, que gostasse ou que se identificasse, ou que estivesse a ouvir mais naquela altura, independentemente do critério. E então foi muito bom, foi engraçado porque nós tínhamos ensaios, ensaios para compor o disco, e eram metade a tocar e a fazer por temas e assim, porque todas as músicas do álbum foram conseguidas em ensaio, nenhuma delas foi uma ideia que cada um de nós levou para a sala de ensaios, foi sempre juntos que conseguimos chegar a algum lado. E pronto, metade do ensaio era a ouvir os discos e a discutir ideias, foi muito engraçado e acho que foi enriquecedor, também para nos conhecermos melhor acho eu, foi importante para dar a conhecer a cada um de nós o ponto de vista individual, foi muito giro. U@O: Que estilo de música é que podemos dizer que é o dos Grandfather’s House? Pop Rock and Blues? RS: É assim, essa pergunta é sempre muito difícil para mim. É muito difícil não só para a música dos outros, mas acima de tudo para a minha música eu ter essa capacidade de a conseguir rotular, ou sei lá, colocar dentro de uma caixa. Não sei, eu sempre me influenciei muito pelo rock, neste disco também ouvia muito trip hop, pop também, as coisas vão mudando muito e de certa maneira também depende sempre muito da nossa opinião, dos quatro neste caso. Não te sei responder exatamente a essa pergunta, mas penso que rock, não sei, pop rock, penso que por aí. Tendo em conta as letras, não sei, eu acho que acima de tudo têm conteúdo, pelo menos eu tentei com que tivessem, mas dentro do estilo, não sei até que ponto é que podem influenciar. U@O: O nome dos trabalhos, “Skeleton” em 2014, “Slow Move” em 2016 e “Diving”, em 2017, acabam por retratar o caminho de crescimento dos Grandfather’s House? RS: Sim, sim, completamente. Eu acho que sim, o “Skeleton” é o mais óbvio, penso eu, porque foi mesmo nesse sentido que foi escolhido o nome do EP. Porque nós na altura que estávamos a gravar o EP até tínhamos chegado a pensar, o nosso produtor tinha dado a ideia de gravarmos com banda, contratarmos músicos, mas nós naquele momento achámos que queríamos de facto registar, lá está, aquela formação, aquele rock muito cru, muito próprio daquela altura que éramos só os dois, e por isso escolhemos dar esse nome ao EP, e ainda hoje faz sentido, acho que sim. Eu penso que sim, que esse é o mais flagrante e é o que fez mais sentido para nós. Acho que os outros dois, o “Slow Move” e o “Diving”, acho que têm mais a ver com o conceito do álbum em si, mais com as letras, se calhar, e com aquilo que elas falam e que a música transmite, do que propriamente uma conexão com a formação da banda e da sua evolução. U@O: “Skeleton”, “Slow Move” e “Diving”. O que é que une e o que é que distingue os três trabalhos? RS: Por acaso nunca pensei nas coisas nessa perspetiva. Eu penso que são uma evolução, eu acho que cada trabalho complementa o seguinte, no sentido que marca muito uma evolução, por isso não penso que se podem separar, acho que isso não faz sentido, acho que o que faz mais sentido para mim é que realmente haja algo que os una porque olho para eles como uma continuação uns dos outros. U@O: O vosso último álbum, o Diving, conta com a participação do Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta) na voz, do Nuno Gonçalves (Bonnie and Clydes) nos teclados e do Mário Afonso no saxofone. Como é que surgiram estas colaborações? Este é um disco diferente dos anteriores em termos de estilo? RS: O disco surgiu de uma residência artística no “GNRation”, que é um espaço em Braga, é um espaço de concertos, residências artísticas, laboratórios, é um espaço criativo e que ultimamente tem apoiado as bandas locais, com esta série de trabalhos, que é o trabalho da casa, que foi onde nós incluímos o “Diving”, e toda a ideia surgiu, toda a ideia do disco, com a ambição de fazer algo diferente. Também tivemos colaborações a nível de vídeo, dos visuais, o que complementou o espetáculo de forma diferente e claro que enriqueceu o espetáculo, e a intenção era sempre, sei lá, eu sempre adorei e sempre ambicionei trabalhar com pessoas diferentes, não só fora dos Grandfather’s House, mas também dentro dos Grandfather’s House, porque acho que só pode enriquecer um projeto. Então, por exemplo com o Adolfo, já o conhecemos há algum tempo, ele já acompanhava o trabalho da banda, e já tinha manifestado, enfim, que gostava muito, já tinha manifestado em relação ao “Slow Move”, e então nós pensámos em convidá-lo. E assim foi também com o Mário no saxofone, que é um músico de Braga, e o Nuno, o Nuno é convidado sim, mas no fundo é mais do que convidado porque ele nos acompanhou em todo o processo de composição, e em todos os ensaios antes das gravações, e por isso está muito mais presente no álbum. U@O: Estão previstas novas colaborações com outros artistas para o futuro? RS: Pois eu realmente não te posso dizer que não, se tivermos em conta o historial da banda, e como temos evoluído, eu não te posso dizer que não, mas também não está previsto nada. Vamos ter o Hélio Mateus e o João Novais, que são as duas pessoas que fizeram os visuais no “GNRation”, vamos tê-los para alguns concertos no futuro, não sei exatamente para quais, ainda estamos a perceber isso. U@O: Foi difícil escolher os singles no “Diving”? RS: Não, por acaso foi a escolha mais fácil que tivemos. O primeiro single foi sem dúvida unânime, “You Got Nothing to Lose”, achámos que era um excelente primeiro single, e depois chegámos a estar indecisos entre..., para mim sempre foi o “Sorrow”, mas acho que para o Tiago e o João, que ainda chegaram a duvidar entre uma e outra música, mas no fundo foi escolha fácil. U@O: “You Got Nothing to Lose”; “Sorrow”; são temas que têm videoclipes realizados pela produtora CASOTA Collective. Como é que surgiu essa parceria e qual a importância dos videoclipes para dar a conhecer os Grandfather’s House? RS: Eu acho que a música não tem de ser só música. Como eu te estava a dizer, um projeto pode ter convidados, como músicos, mas não só músicos, o facto de termos apostado nos visuais ao vivo, pela mesma razão que temos apostado nos vídeos, porque eu acho que o projeto em si só tem a ganhar, só tem para enriquecer um projeto se tu aliares a música, o vídeo, a imagem, a roupa, a moda, sei lá, há montes de formas de enriquecer um projeto, acho que é incrível. E admiro muito os projetos que conseguem andar de mãos dadas com várias áreas e não só cingirem-se à música em si, acho que é muito bonito. U@O: O que é que podemos esperar dos Grandfather’s House no futuro? Há novo trabalho em vista? RS: Um novo trabalho eu penso que para o ano ainda é um bocado cedo. Acho que não estamos a pensar nisso. Vão haver algumas novidades, entretanto, se tudo correr bem, mas tudo a seu tempo. Para já estamos é concentrados em promover este disco, que não tem assim tanto tempo. E pronto, vem aí um verão que espero que corra bem, por isso até lá damos novidades. U@O: Como é que foi a experiência da tour europeia que fizeram em 2016. Está prevista nova tour no estrangeiro para breve? RS: Nós tivemos uma tour europeia há dois anos e voltámos a ter o ano passado, europeia o ano passado foi Espanha e França só, foi mais curta. Por isso com este disco nós estávamos a pensar, não sei, quem sabe, para o fim do ano, tentar fazer as coisas com mais tempo, e passar por mais sítios do que na anterior, vamos ver. U@O: Alguma vez pensaram cantar em português? RS: Sabes que isso não foi uma decisão muito minha, mas ainda bem que assim o foi, ou seja, eu passo a explicar. Como o projeto começou com o Tiago, ele já cantava na altura, e como a ideia dele era, lá está, ele era tão influenciado pelo Blues e muito por aquele estilo norte-americano, dos primórdios dos Blues, lá está, para ele fazia sentido em inglês, e tudo começou assim. Aliás, eu comecei a fazer segundas vozes de letras que ele já tinha e arranjos que ele já tinha, ou seja, todos os primeiros trabalhos que eu comecei a compor no “Skeleton”, naturalmente surgiram em inglês. É assim, sou questionada muitas vezes acerca disso, porque é que não canto em português, porque é que escolhi o inglês, e de facto a forma como tudo começou com Grandfather’s House teve muita influência, até porque é o meu primeiro projeto, é como eu me iniciei no mundo da música, mas realmente é muito natural para mim escrever em inglês. E é isso que eu tento sempre fazer as pessoas entenderem, porque realmente eu tenho muito orgulho na minha língua, o português, muito mesmo, gosto muito de ler, gosto muito de ouvir boas músicas portuguesas, e temos muita coisa boa, mas eu acho que no fundo cada um deve fazer aquilo que sente, que é bom para si. Não vou dizer na sua zona de conforto, porque às vezes é bom sair da zona de conforto, mas penso que cada um é feito e deve trabalhar da forma que se sente mais confortável e que sente que é a sua praia no fundo. U@O: Como é que a Rita Sampaio vê a música que atualmente se faz em Portugal? RS: Eu admiro imenso muitos projetos portugueses, e posso mesmo dizer que são uma grande influência para mim. Não vou estar a enumerar, mas eu respeito muito o trabalho que se tem feito em Portugal, há muitos projetos, não só cantados em português, mas também cantados em inglês, acho que há muita coisa boa cá em Portugal. E realmente apercebo-me que há muita coisa boa, mas que realmente é muito difícil existir projeção e fazer com que as coisas cheguem um bocado mais longe, é preciso mesmo muita persistência, e eu sei por experiência própria, mas acho que isso é fundamental, acima de tudo estarmos atentos um bocadinho aquilo que se passa à nossa volta, aquilo que se faz, não só aquilo que já tem nome e que já tem estatuto, mas também aos novos nomes portugueses que têm muito valor. U@O: Como surge a ida aos Sons à Sexta? Têm acompanhado a iniciativa e os artistas que têm passado pelo Fundão? É a primeira vez que tocam nesta zona do interior? RS: Já estivemos na Guarda, já há muito tempo, foi com o “Skeleton”, ainda estávamos só os dois. No Fundão é a primeira vez e estamos ansiosos por isso. Eu já acompanho a iniciativa há algum tempo, já conheço a iniciativa e por isso é um prazer para nós termos esta oportunidade. U@O: O que podem esperar os espetadores que forem ver “Grandfather’s House", no dia 09 de Março, às 22h30, no palco d’A Moagem, no Fundão, nos ''Sons à Sexta"? RS: Eu espero pelo menos que as pessoas vão de mente aberta e eu espero sinceramente que gostem do concerto, e que vão de mente aberta, sei lá, para quem não conhece para que tenha abertura, que possa ver o nosso concerto e que possa ser uma boa experiência acima de tudo. U@O: “Nah Nah Nah”; “Drunken Tears”; “You Got Nothing to Lose”; “Sorrow”; “She's Looking Good”; “In My Black Book”; “Nick's Fault”; “I Hope I Won't Die Tomorrow”. Que música escolheria em jeito de convite para os leitores assistirem ao concerto “Grandfather’s House"? RS: Eu não vou escolher um single, mas sim um tema que se chama “Drunken Tears”, que é o segundo do disco, que eu gosto muito desse tema. |
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