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Um "regresso a casa"
Rafael Mangana · quarta, 24 de janeiro de 2018 · @@y8Xxv Tarantini, aluno da UBI e capitão do Rio Ave, apresentou na segunda-feira, 22 de janeiro, no Departamento de Ciências do Desporto da Universidade da Beira Interior, o livro “A Minha Causa”, que pretende sensibilizar e ajudar jogadores de futebol e desportistas em geral a gerir as expectativas e o final de carreira. |
Tarantini apresentou o seu livro no Departamento de Ciências do Desporto da UBI |
21963 visitas Ricardo Monteiro, ou Tarantini, como é conhecido no mundo do futebol, deslocou-se na segunda-feira, 22 de janeiro, ao Departamento de Ciências do Desporto da UBI para apresentar o seu livro "A Minha Causa". Antes de ser jogador profissional de futebol, Tarantini chegou à Covilhã com 17 anos para o curso de Ciências do Desporto na UBI e ingressou nos juniores do Sporting da Covilhã. No ano seguinte, assinava o seu primeiro contrato profissional com o clube. Daí que este tenha sido para si um "regresso a casa". A obra apresentada foi publicada pela Oficina do Livro e reúne as ideias principais de um projeto lançado em 2016 por Tarantini, que alinha no Rio Ave desde 2008/2009. Esse projeto, a que chama a “causa” de sensibilização perante o futebol e o desporto em geral, assenta em quatro eixos, com as palestras e o livro a juntarem-se à investigação e à produção de documentários. Depois de se tornar mestre em Ciências do Desporto pela UBI, Tarantini já iniciou o doutoramento (na mesma instituição) com o objetivo de "divulgar dados mais fidedignos sobre a vida dos jogadores portugueses" e o perfil de carreira. "Uma história de vida que tem propósitos, que tem sonhos e dedicação em função de duas coisas: o sonho de menino de ser jogador de futebol e o sonho de alimentar uma qualidade de vida futura, que era a minha formação académica", explica Tarantini. "Conhecendo-o, não faria sentido nenhum passar ao lado deste problema e fechar os olhos", justifica. Nascido em Baião (Porto), confessa que o meio pequeno não o favoreceu no início do sonho de ser jogador de futebol: "conciliar a escola era difícil, chegar a casa às 10 da noite e ter ainda que estudar e levantar ao outro dia às seis da manhã para apanhar dois autocarros para ir para a escola, mas era importante para mim e eu acreditava que era possível e que os estudos poderiam ser um fator de qualidade de vida para o futuro", refere. O facto de ter três irmãs mais velhas já com um trajeto universitário acabou também por ajudar, "porque dava aquela pressão positiva de continuar com a minha formação". Da Covilhã só guarda "boas recordações", apesar de nem sempre ter sido fácil conjugar os estudos e a vida de jogador de futebol. "Para agilizar os treinos e as aulas eu tinha que fazer um plano quase diário, mas felizmente tive treinadores que me permitiram sempre conciliar a minha vida de profissional de futebol e os estudos. E é mentira quando dizem que não temos tempo, porque basta querer e eu queria muito conciliar as duas coisas", assegura Tarantini. Quanto à vida académica, confessa que teve que fazer escolhas para vingar. "Na minha casa viviam oito rapazes e uma rapariga, os amigos iam lá jantar e toda a gente saía para a noite e eu ficava em casa, porque acreditava que o descanso era importante, mas era muito difícil. Com 17/18 anos sais de casa dos teus pais e começas a ganhar alguma independência e é muito difícil teres que ter essa disciplina, mas no fim vale a pena", garante. O capitão do Rio Ave acredita mesmo que a UBI e a Covilhã tiveram um papel importante na definição do seu futuro. "Foi uma bela cidade que me acolheu, uma cidade pequena onde toda a gente se encontrava sem combinar nada e foi determinante porque permitiu conciliar os estudos com a carreira de profissional de futebol, que seria muito difícil noutros contextos. Sei que aqui tive outra oportunidade e da Covilhã só tenho boas recordações". Tendo apresentado o seu livro noutros locais, Tarantini confessa que "há sítios que são mais especiais que outros e este é daqueles que marcam uma vida. É bom reencontrar pessoas que ficaram para a vida e os mais novos sabem que passei por esta universidade e que trilhei os passos que eles também estão a trilhar. E, no meu caso, foram os melhores momentos da minha vida". A carreira seguiu e em 2014 ingressa novamente na UBI para tirar o mestrado na sua área de formação. Durante a apresentação de segunda-feira, Tarantini recordou um episódio particular da vida de um futebolista de alta competição e estudante: "uma semana antes de defender a tese de mestrado, estava em estágio na Madeira com o Rio Ave e sentia que precisava de estudar para a defesa, mas parecia mal estar a estudar naquele contexto. Decidi enfiar-me na casa de banho do meu quarto e fui estudar para a banheira". Entre risos, confessa que a história só é revelada porque o jogo terminou empatado. "Se tivéssemos perdido eu já não a contava", admite. "Eu tinha um foco muito grande de provar mais uma vez que era possível conciliar, isto porque quando somos profissionais de futebol entramos numa 'bolha': temos ordenados altos, passamos todas as semanas na televisão, somos reconhecidos em todo o lado e pensamos que aquilo vai ser assim para o resto da vida. Então entramos numa espiral em que nada interessa, pensamos que vamos ter cada vez melhores contratos, vamos jogar em clubes melhores, mas as coisas nem sempre são bem assim. Por isso é que hoje estou inscrito em Doutoramento nesta universidade, para mais uma vez mostrar que é possível conciliar as carreiras e mostrar que a formação académica pode ser importante para os desportistas de uma forma geral, como um fator de qualidade para uma transição de carreira". Quanto ao futuro, "o objetivo daquilo que eu tenho feito é ter os tais fatores de qualidade. Sei que não é fácil projetarmos o futuro, mas o que eu pretendo é ter ferramentas no futuro que me possibilitem eu próprio fazer as escolhas independentes das escolhas dos outros. Esse é o meu grande objetivo", sublinha.
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