Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
"O maior desafio que hoje um jovem tem é ter o maior conhecimento possível"
Rafael Mangana · quarta, 31 de janeiro de 2018 · @@y8Xxv Cedo demonstrou apetência para a área da Informática e em 1986 entrava para o então Instituto Universitário da Beira Interior pela porta do curso de Matemática/Informática. Desde 1991 na TAP, e tendo passado por diversos patamares, Jorge Farromba é hoje Responsável de Marketing e Comunicação TAP IT (empresa de IT do Grupo TAP). |
Jorge Farromba |
21982 visitas Urbi et Orbi: Porquê Matemática/Informática e porquê na UBI? Jorge Farromba: Eu vivia na Covilhã e na altura falava-se muito na Informática e eu já vinha de um curso de Ciências, tinha tido boas notas nas áreas de Ciências e Matemática e fazia-me sentido. Tinha também a vantagem do curso ter as vertentes de Matemática e Informática, sendo que a partir do terceiro ano podia optar pela vertente de Ensino ou Informática. Como a Informática estava a despontar, era um caminho novo que se estava a desbravar como uma nova tendência, sentia-se que era esse o caminho, optei pelo curso.
U@O: Valeu a pena? JF: Bem, naquela altura o curso estava a começar e nos cursos embrionários existem sempre aspetos a melhorar. Naquela altura tínhamos três ou quatro computadores no Centro de Informática e o tempo que lá estávamos era quase cronometrado. O curso tinha as duas vertentes, Informática e Matemática, e provavelmente poderíamos ter tido no início uma maior aposta na parte da Informática, mas não tivemos e apostou-se mais em Matemática. No entanto, é importante referir que a Universidade preocupou-se também muito em ter professores de reconhecida competência e foi buscar alguns professores à Universidade de Coimbra. Um desses professores que nos davam aulas, por exemplo, é hoje o Reitor da Universidade de Coimbra. Portanto, contas feitas, valeu a pena.
U@O: O que mais recorda daqueles tempos? JF: Lembro-me que no segundo ano tive que optar entre a Informática e a Matemática. A Matemática tinha uma coisa fantástica, que era o Estado garantir o emprego para toda a vida pelo facto de se tirar Matemática e seria provavelmente professor. No meu caso, eu via o mercado da Informática a despontar, cada vez mais empresas precisavam de informáticos, achei que era por aí que estava o mundo a caminhar e optei por essa área. Entretanto, e porque também gostava de Matemática e do ensino, comecei – a partir do terceiro ou quarto ano – a dar explicações de Matemática e aulas numa escola fora da Covilhã. Quanto à UBI em si, a instituição sempre teve esse valor acrescentado de se inserir numa cidade pequena, a universidade também era pequena e estava-se a fazer todo esse percurso da sua construção. Isso fez com que as pessoas tivessem relações muito próximas e de grande amizade, que se foram perpetuando. Entretanto, as redes sociais vieram facilitar o contacto e passados tantos anos muitos de nós andamos à procura dos restantes pelas redes sociais.
U@O: Como tem acompanhado o crescimento da instituição? JF: Antigamente, as universidades iam fazendo cada uma o seu percurso, muito similares umas às outras e começaram a sentir que - até pelo meio onde estava inserida - que tinham que se diferenciar das outras. Nós hoje temos, por exemplo, as universidades de Coimbra, Aveiro e Nova, que têm uma marca diferenciadora, e o mesmo acontece com a Universidade da Beira Interior. Inicialmente as pessoas não conheciam esta universidade, mas foram-se criando fatores diferenciadores ótimos para a tornar diferenciadora e com notoriedade. Ajudou também muito o desenvolvimento que a cidade teve num determinado período da sua história. Depois, a universidade acabou ela própria por caminhar sozinha e fazer o seu percurso. Hoje em dia, as universidades têm que se atualizar e apresentar modelos cada vez mais empresariais e estar cada vez mais próximas dos jovens – seja na oferta como na procura - saber em que canais eles estão a comunicar e como o fazem, para depois os conseguirem cativar, porque no fundo, são “clientes” das próprias universidades. A universidade só consegue fazer bem o seu trajeto se conseguir passar para fora o que faz, através de investigação e formas inovadoras de fazer ensino. Por exemplo, estive há uns anos na Faculdade de Ciências da Saúde da UBI a debater questões associadas ao e-learning e, o facto desta faculdade trabalhar também com um sistema em que os próprios exames são trancados, os alunos entram para uma sala e não sabem em que posição se vão sentar e vão realizar os exames nesses computadores trancados para tudo funcionar, isto traz inovação e as pessoas vão conhecendo os bons exemplos. E a UBI só consegue mostrar que é boa, passando essa informação cá para fora, com muita comunicação, mas também com muita investigação, e contendo no seu corpo docente não somente docentes com percurso académico, mas profissionais de empresas que, conseguem acrescentar ainda mais valor, mais conhecimento e mais adequação e exemplos do meio empresarial para o académico.
U@O: que diferenças essenciais nota dos anos 80 para os dias de hoje ao nível do desenvolvimento da UBI? JF: Nota-se uma grande diferença. A universidade cresceu, tem outra dimensão, consegue ter outra notoriedade. Acho que a universidade também apostou em dois ou três fatores diferenciadores: o curso que tem de Engenharia Aeronáutica, a própria Faculdade de Ciências da Saúde. Há outros cursos interessantes, mas há dois ou três que são diferenciadores relativamente à UBI. A Covilhã e a Universidade têm, em minha opinião, vários factores que a podem elevar a um patamar superior: temos o know-how das indústrias têxteis, química, da componente tecnológica – através do ensino, das startups, do DataCenter da Altice. Pelo menos, só estas sinergias entre a cidade e a universidade podem catapultar ambas para um novo patamar e, com isso, ser geradoras de mais alunos, de emprego, de comércio, de novos serviços e de uma cidade viva e dinâmica e um interior menos despovoado. Na minha altura, como a universidade se estava a construir havia dois ou três cursos a que não conseguia dar resposta e as pessoas faziam os dois primeiros anos e depois iam fazer os outros três a Lisboa, e isso também era bom. A própria universidade foi evoluindo até conseguir ser autónoma. Foi um trajeto muito interessante da própria universidade, que no meu tempo era ainda o Instituto Universitário da Beira Interior.
U@O: Como tem sido o seu percurso profissional desde que terminou o curso? JF: Na altura, no último ano tínhamos um estágio de seis meses. Eu já estava a dar aulas à noite, mas precisava de acabar o curso e surgiram-me então três hipóteses de estágio, que era outra vantagem que a universidade nos dava, ou seja, por estarmos no mercado da Informática havia muita procura destes profissionais. E eu tive hipótese de estagiar na BP, na Renault ou na TAP. Na altura fiquei indeciso entre o da Renault e o da TAP, porque eu sempre adorei o mundo automóvel e a TAP tem uma notoriedade enorme, mas quando fui falar com a pessoa da TAP desvaneceram-se as dúvidas, porque eles tinham uma tecnologia de informática a anos-luz dos outros, sendo a única empresa nacional – salvo erro, a par com a Rolls-Royce – que utilizava uma ferramenta informática para construir as suas aplicações informáticas, e isso para mim era um desafio, para além de todas as outras condições para desenvolvermos o nosso trabalho. Fiz o estágio, convidaram-me para ficar e fiquei na área de Informática, na empresa de IT do GRUPO TAP. Nessa empresa fui passando por todos os patamares e fui também tentando evoluir na vertente académica. Fiz uma pós-graduação em sistemas de informação geográfica, fiz um curso de e-learning e tirei um mestrado em Gestão de Empresas, com uma especialização em Marketing. Entretanto, em 2006 a TAP precisou de se tornar autónoma na construção de conteúdos de e-learning – também pela sensibilidade de alguma da formação a ministrar - e fui convidado para construir uma equipa de e-learning que ainda hoje se mantém, pois soubemos edifica-la com as melhores práticas do que é o “verdadeiro” e-learning no mundo, onde conseguimos garantir que o nível de apreensão de conhecimentos é, no mínimo, igual, ao ensino tradicional, com conteúdos dinâmicos, interações, storytelling, gamification e que nos permitiu ganhar dois prémios nacionais nesta área. A nossa forma de trabalhar foi ainda transmitida a outras instituições, como bancos e muitas empresas, organizações e entidades que nos procuravam, assim como, em várias conferências e seminários onde éramos convidados a participar. Aliás, devo dizer, que houve sempre uma abertura enorme em mostrarmos a quem nos solicitasse como conseguimos construir esta equipa, não somente em termos de conteúdos, mas em termos de processos e procedimentos, pois sempre se considerou que é partilhando que podemos evoluir. Fomos de tal forma reconhecidos, que acabei por ser convidado para ajudar a criar uma norma nacional, a norma NP 4512. Em 2013, dentro da própria empresa de IT do grupo TAP passei para a área de Imagem e Comunicação e continuo também a dar aulas no Ensino Superior nas áreas de Gestão, Marketing, Empreendedorismo e Inovação, Comunicação e Turismo. De resto, acho muito importante esta ligação entre o tecido empresarial e o tecido académico para que o conhecimento flua. Paralelamente, e desde há uma década a esta parte, faço ensaios de automóveis ao fim de semana para algumas publicações do sector automóvel, que foi sempre uma área que me apaixonou. E, todas estas valências são depois aproveitadas em todas as áreas, pois por exemplo, recolho grandes exemplos do que as marcas automóveis fazem em termos de marketing.
U@O: Que conselhos pode deixar a um aluno da UBI para vingar nesta área? JF: Eu sou de uma geração que ia muito atrás das marcas pela notoriedade que elas ganharam ao longo do tempo. Atualmente, a realidade diz-nos que os jovens vão atrás novamente das marcas, mas não lhes são muito fiéis às, sendo que as marcas que os têm que os cativar diariamente. Nós temos que perceber onde é que estão esses jovens e como é que eles andam à procura da informação. Por exemplo, no sítio onde estou atualmente a dar aulas a maior parte dos alunos encontrou o curso que queria de Marketing e Comunicação através do canal online, os jovens atualmente aparecem em vários canais - no mail, nas redes sociais, em pesquisas nos browsers -, comunicam em vários sítios e através de vários dispositivos e temos que estar atentos a esses canais. Antigamente esperávamos que os jovens nos aparecessem à porta e hoje temos muita oferta em termos das universidades, que têm, elas próprias, que aparecer nos locais onde estes jovens estão. Por outro lado, os jovens não funcionam como a minha geração funcionava, em que todo o ensino era muito compartimentado. Hoje eles têm ao dispor vastíssima informação em múltiplos locais e vão buscar a informação fragmentada e é importante que sejam capazes de ser resilientes, de verem no mercado o curso que lhes agrada mesmo. Mas, acima de tudo, eles próprios julgam que se fizerem trabalhos e forem pesquisando no Facebook ou no Google rapidamente têm a resposta. Nós temos que voltar um bocadinho atrás e à nossa geração, quando havia bastante oferta de emprego, mas hoje não há. Hoje o jovem só se consegue diferenciar se ele próprio conseguir acrescentar valor. O jovem de hoje tem que diferenciar dos restantes, e só o pode fazer através do conhecimento. Essa é a maior arma que ele tem. E quando precisar de informação, tem que ir à procura dessa informação, porque o jovem que singrar no futuro vai ser o jovem com competências em várias áreas. Depois, só vai singrar no mercado de trabalho se for muito bom numa determinada área, com uma série de competências associadas. A juntar a isto, e cada vez mais, também é muito importante o jovem perceber que no mercado antigo não havia muito contacto entre empresas. Atualmente, as pessoas sabem todas umas das outras, e se ele não for bom, não é recomendado, e se não é recomendado, não singra no mercado. É bom que ele se preocupe em encontrar as melhores universidades, as melhores bases de conhecimento, procurar muito, testar muito, errar muito, mas tentar. O maior desafio que hoje um jovem tem é ter o maior conhecimento possível, ser resiliente e conseguir encontrar as soluções para o futuro, que até pode passar por não ir para uma empresa mas ele próprio constituir o seu próprio emprego.
Perfil: Nome: Jorge Farromba Naturalidade: Castelo Branco Curso: Matemática/Informática Ano de entrada na UBI: 1986 Filme preferido: “Top Gun” Livro preferido: Biografia de Steve Jobs Hobbies: Sector automóvel, viagens
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