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Combater estigmas, promover boas práticas
Sara da Silva Alves · quarta, 15 de novembro de 2017 · Desmistificar falsas crenças e preconceitos associados a perturbações mentais e aos que sofrem destas patologias, através de workshops psicoeducativos, é um dos principais objetivos do projeto Mind the Mind. |
22004 visitas “Ao mudarmos o mundo de alguém, mudamos o mundo”. É esta a ideia dos elementos envolvidos na campanha Mind the Mind: para combater o estigma das perturbações mentais, uma iniciativa de impacto social que se associa à Federação Europeia das Associações de Estudantes de Psicologia (EFPSA). Esta organização, nascida no ano de 1987, no primeiro Congresso Internacional de Estudantes de Psicologia em Portugal, pretende servir, em contexto académico e em contexto profissional, os estudantes de psicologia, contribuir positivamente na sociedade, promover avanços no campo da psicologia e reforçar uma rede de contactos entre estudantes, académicos e profissionais na área. As iniciativas de impacto social são um dos pilares pela qual a EFPSA se rege, sensibilizando assim a sociedade para os preconceitos ou ideias erradas associados à área da psicologia, que podem conduzir a uma ameaça para a saúde pública. Marcar a diferença através do conhecimento psicológico, unindo estudantes, profissionais, académicos e o público em geral, é, portanto, o caminho a seguir. “Neste âmbito acordou-se que a iniciativa de impacto social se iria debruçar sobre o fenómeno do estigma da doença mental e na adoção de iniciativas sociais que façam frente a esta problemática mundial”, afirma Mafalda Melo, (Co) Coordenadora Local do Mind the Mind. A jovem licenciada em psicologia acrescenta ainda que foi neste contexto que o projeto surgiu, visando “provocar, continuamente, um elevado impacto nas sociedades europeias”. De acordo com Mafalda Melo, através de alguns estudos é possível observar-se que na população portuguesa encontram-se ainda “crenças erróneas acerca das perturbações mentais, nomeadamente no que diz respeito à incurabilidade e perigosidade dos indivíduos que delas padecem”. O doente mental é visto como um ser “incapaz de restabelecer a sua saúde e tornar-se novamente funcional”, o que acaba por contribuir em muitas situações para que seja discriminado. No que concerne à população mais jovem, “é frequente o uso de termos menos corretos quando se dirigem aos seus grupos de pares e na forma como abordam colegas e amigos que padecem de algum tipo de perturbação mental”. Para se combater a dificuldade de integração, um flagelo claramente sentido por quem luta com doenças mentais, é necessário existirem “medidas que atuem diretamente na psicoeducação acerca da saúde mental e das perturbações mentais, que denunciem práticas discriminativas e que promovam o contacto entre o indivíduo com perturbação mental e a sua comunidade”. Segundo Mafalda Melo, que é também aluna do mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde, a importância deste tipo de medidas é evidente, pois “para a pessoa que se encontra a vivenciar uma perturbação mental, o estigma que surge aliado à mesma pode vir a agravar o seu estado psicossocial, devido ao stress, ansiedade e baixo autoconceito que a estigmatização vai despoletar”. Desta forma, assiste-se a “um desencorajamento por parte da sociedade face à possibilidade de recuperação, que acaba por desmotivar a pessoa que tenha algum tipo de perturbação mental, mesmo que se encontre em tratamento”, conclui. Atualmente, existe cada vez mais informação acerca deste assunto, mas “ainda há muito trabalho a fazer, principalmente na área da sensibilização primária”, sendo vital despertar a consciência social, esclarecendo e intervindo junto das populações-alvo. Os workshops da Mind the Mind trabalharão essa parte. “Estes workshops vão consistir principalmente numa sensibilização junto dos jovens e do seu grupo de pares. A desconstrução de mitos, nomenclaturas erróneas e uma abordagem mais lúdica podem aqui servir de mote para aliciar as populações mais jovens a serem agentes participativos numa construção de uma sociedade melhor”, esclarece Mafalda. Na região, cinco pessoas estão neste momento ligadas ao projeto: uma Coordenadora Local, pertencente à EFPSA, e quatro (Co) Coordenadores Locais, nos quais Mafalda Melo está incluída. A estudante, que no ano passado foi voluntária deste projeto, está muito confiante relativamente à recetividade da iniciativa, mas confessa que ainda há muito a fazer “para que as instituições vejam este tipo de temáticas como essenciais no desenvolvimento não só das crianças e jovens, como também dos adultos que acabam por ser influenciadores e percursores de boas práticas na comunidade”. Com “voluntários estudantes de psicologia bastante motivados e prontos para mudar o mundo, começando por mudar as mentalidades da cabeça dos mais novos”, esta campanha, que decorrerá durante o ano letivo 2017/2018, será maioritariamente destinada a alunos dos ensinos básico e secundário, mas estende-se também à população em geral. Quem for estudante ou graduado em Psicologia, tem ainda a possibilidade de se tornar voluntário deste projeto, ajudando assim a dinamizar os workshops psicoeducativos em torno da temática das perturbações mentais. |
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