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Memórias partilhadas: luzes, objetos, ação
Catarina Augusto e Francisco Serra · quarta, 8 de novembro de 2017 · Continuado Três histórias, três atores e três objetos. Foi este o motor para a peça encenada no segundo dia do Festival de Teatro. |
Fotografia retirada do site Guimarães turismo |
21969 visitas No dia 3 de novembro, enquanto a chuva caía na cidade, a peça “Memórias partilhadas” encheu o palco do Teatro das Beiras. Alinhar pensamentos e partilhar memórias foi a temática desta peça divida em três atos, escritos por diferentes dramaturgos. Através de monólogos, os atores apresentaram as histórias de uma carteira vazia, um lápis e uma almofada de penas de cuco. Estes três objetos guardam em si recordações e de uma maneira, ou de outra, tal como disse Therese Collins, “ligaram-se entre si”. A História da carteira, redigida por Therese Collins, fala de Anna, uma rapariga singela, que não era como as outras da sua aldeia. Com a idade ficou farta do campo e decidiu partir para a cidade. Aí notou que a sua natureza despreocupada com o que os outros achavam não a beneficiava, começando assim um processo de "feminização". Acabou por comprar uma mala, de alta qualidade (e preço) e reparou que a sua vida social mudou por completo, passando a ser perfeitamente aceite. Portanto, quando perdeu a carteira, a rapariga ficou devastada, dizendo que era insubstituível. Com esta injustiça, decidiu começar a roubar as malas de outras pessoas, acabando por não se interessar tanto pelo objeto em si, mas mais pelo que continha lá dentro, cada uma com uma história diferente. A narrativa do lápis, mais concretamente do lápis de Delfim, escrita por Abel Neves, conta a história de um camponês que, com uma certa perspicácia e batota, ganhou cinco troféus de uma competição regional de corta-mato. O seu companheiro era o lápis, dado pelo avô, que Delfim acreditava ter propriedades mágicas. Este conto rodeia a temática da imaginação e o poder de um objeto nas mãos de pessoas com uma criatividade fértil. Peter Cann foi o autor da história da grande amizade de Fábio e Adão, e o impacto que uma almofada causou nas suas vidas. Tudo começa quando os dois amigos vão a um café de Lamego ver o jogo de Portugal contra a Coreia do Norte para o Campeonato do Mundo de 1966. Nesse café, Fábio encontra a sua futura esposa e, a partir desse dia, vai constantemente a Lamego para a visitar. Adão fica aborrecido, pois o seu melhor amigo nunca está presente e ainda fica pior quando os namorados acabam por casar. Nesse momento, Adão vai bater à porta de uma senhora velha da sua aldeia, que dizem ser bruxa. Esta deu uma almofada de penas de cuco para Adão entregar ao seu melhor amigo. Fábio começa assim a ter vários pesadelos, questionando até a lealdade da sua noiva. Um dos seus últimos sonhos acaba por ser significativo para o desfecho inesperado do conto. Foram três monólogos repletos de momentos cheios de música, animação, interação com o público e jogos de luzes, tudo isto apenas num único cenário. Paulo Duarte, um dos três atores do Teatro de Montemuro, revelou que representa há 15 anos neste palco, tendo sido convidado para muitas das anteriores edições do festival. “Gosto muito de contar histórias e fazê-lo a este público que já nos conhece tem para nós um grande significado”, afirma Duarte. Acerca da companhia que representa, admite que nenhum dos atores tem formação académica, acrescentando que a "única formação que se tem é a da experiência e do trabalho". Concluiu, dizendo: "A cultura tem de estar mais presente no quotidiano. Passar uma mensagem no teatro e fazer com que influencie as vivências de quem assiste, é bastante gratificante para nós, atores". Mónica Ramôa, uma espectadora, afirmou que a peça correspondeu às expectativas. “Já conhecia o grupo, já estava à espera de algo interessante. Gostei bastante, apesar de não estar à espera de um fim assim”. Para Mónica, iniciativas como esta são muito importantes, uma vez contribuem para a vida cultural da cidade. "Este evento é muito importante e é uma tradição antiga, que é preciso conservar", declarou. Quando questionada se voltaria para ver mais algum espetáculo, Mónica disse que iria estar presente dia 10 para ver "Un encuentro con Miguel Hernández", da companhia espanhola Teatro Guirigai. O Festival de Teatro da Covilhã, que começou dia 2 de novembro, continuará até sábado, dia 11 e contará com a participação de mais cinco companhias portuguesas e uma espanhola. Todos as peças serão apresentadas às 21h30, com exceção dos dias 6 a 9, em que os espetáculos são às 14h30, e do 11, em que o espetáculo, de João Espadinha, começa às 23h.
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