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Um Norton adolescente que encheu a Moagem
João Botão dos Santos · quarta, 18 de outubro de 2017 · A banda albicastrense, que celebra 15 anos de carreira, regressou a uma cidade que conhece bem para o projeto “Sons à Sexta”. Um novo disco está ai à porta. |
Norton, no palco da Moagem |
21996 visitas A noite era de sexta-feira 13, mas os Norton são uma banda que pouco liga a superstições e na Moagem, o público é fiel e não falha. Colocando de parte a profecia que poderia ser negativa, a banda albicastrense subiu ao já mítico palco do Fundão para uma nova edição do “Sons à Sexta”. Dez anos depois, os músicos reencontraram caras conhecidas e revisitaram várias músicas que marcam uma carreira de 15 anos no mundo da música. Tudo começou na cidade de Castelo Branco, no ano de 2002. Da fusão entre as bandas Alien Picnic e Oscillating Fan, surgem os Norton, a banda de nome próprio composta por cinco albicastrenses que pretendiam levar a música mais a sério. A caminhada acabou por se tornar longa e depois de 15 anos, quatro álbuns de originais, alguns contratempos e uma digressão ao outro lado do planeta, os Norton chegavam à Moagem, um palco que se começa a tornar obrigatório no seio do cancioneiro musical português. “Já não vínhamos ao Fundão há 10 anos e as duas vezes que tocámos aqui foi sempre num bom ambiente e principalmente com um bom público”, começou por recordar Pedro Afonso, vocalista dos Norton. O atraso, justificado diga-se, não gerou stress no público que recebeu os quatro músicos albicastrenses sob um coro de palmas. A banda começou por fazer uma viagem até aos primeiros anos da viragem do século, recordando as suas primeiras produções. A interação de Pedro Afonso com o público era uma tónica recorrente entre músicas e a verdade é que os fãs faziam questão de corresponder. “Isto de mandar piadas de vez em quando é bom, recebo feedback”, adiantava a “voz” dos Norton, entre sorrisos a que o público respondia com uma salva de palmas. O concerto até começou com um ritmo nostálgico, mas assim que se ouviram os primeiros acordes da música "Magnets", tema que a banda até estreou noutro local mítico da região, no Teatro Clube de Alpedrinha, o público perdeu a timidez e acompanhou o compasso da banda. Pelo meio, houve ainda lugar a uma viagem ao outro lado do planeta: “Demos a volta ao mundo e regressamos ao Fundão num ápice”, replicava Pedro Afonso com um sorriso na cara depois de interpretar o tema. “Se não conhecerem esta, não conhecem mais nenhuma”, o concerto já ia longo e era tempo do tema mais conhecido da banda: “Two Points” gerou o primeiro grande momento da noite. As palmas deram lugar a vozes bem afinadas e era também hora de ver os telemóveis bem no ar com as “miras” (dedos) apontadas para eternizar o momento. A apoteose chegou quando toda a sala se levantou e começou a dançar ao ritmo dos acordes do tema mais reconhecido da banda albicastrenses, e ao contrário do que aconteceu no concerto de Mirror People, não foi o público que subiu ao palco, mas sim o vocalista dos Norton que desceu as escadas para junto dos fãs. Já dizia o ditado que se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha, e a verdade é que se assistiu a um momento de pura partilha, onde durante largos minutos se ouviu em uníssono o refrão do tema mais badalado do conjunto, até que Pedro Afonso se sentou numa das poucas cadeiras livres do auditório criando um autêntico fade out natural. “Bem mais afinados do que eu”, dizia o vocalista enquanto subia as escadas do palco gerando uma nova onda de gargalhadas na plateia. “Tudo o que está a acontecer neste momento deve-se aos Norton”, adiantava Toni Barreiros, o programador musical do auditório da Moagem, que recordava assim como tudo começou no Teatro Clube de Alpedrinha, de onde foi presidente. “Já tocámos em locais com projetos parecidos em que os concertos têm sempre pouca gente, as pessoas não vão, era uma coisa que poderia acontecer aqui, aliás era legítimo acontecer, mas o curioso é que as pessoas vêm”, confessava Rodolfo Matos, baterista da banda, dando os parabéns à organização do projeto “Sons à Sexta” e aos fundanenses que “aproveitam a oportunidade” para se deslocar à moagem. “As pessoas vêm mesmo porque gostam de música e recebem bem essa oportunidade”, completou Manuel Simões, guitarrista dos Norton. De regresso ao palco e ao concerto, era tempo do famoso “encore”. Depois de muitas palmas os músicos regressaram primeiro para deixar uma sentida homenagem ao antigo guitarrista da banda, Carlos Nunes com o tema “Frames Yourself”, e para tocar mais três músicas depois de alguma insistência do público, o que músicos fizeram com uma condição: “Têm de se levantar e vir para a frente do palco, sem vergonhas, isto é concerto dos Norton”. E assim foi, a plateia levantou-se para ouvir, dançar e cantar com os quatro músicos, criando um momento de apoteose final, perfeito para a hora da despedida. Ser do interior de Portugal pode ser um problema para a maioria das bandas. Os Norton são o exemplo de que a persistência compensa e que é necessário ultrapassar vários obstáculos. “Não existiam redes sociais e a internet não era o que é hoje”, começou por adiantar Rodolfo, completando que o myspace se tornou o primeiro elo para catapultar a banda. “O myspace era excelente para conhecer música nova. Hoje em dia existe tanta coisa que as pessoas acabam por não dar atenção a nada”, explicou Manuel. Mas as barreiras a ultrapassar eram uma realidade para uma banda recém formanda no “longínquo” Interior de Portugal: “Uma banda de Lisboa quer ir fazer promoção à televisão ou à radio, basta sair de casa e é logo ali ao lado. Nós tínhamos de ir de Castelo Branco a Lisboa, era uma despesa muito maior”, defendeu Rodolfo, que ainda assim considera que atualmente existem menos entraves. Regressando ao Myspace, esta rede social, que hoje em dia despareceu de “circulação”, acabou por abrir várias portas aos albicastrenses, uma das quais deu entrada direta ao outro lado do planeta e levou os Norton até ao Japão. “Fomos uma das bandas europeias escolhidas para serem editadas no Japão”, explicou Rodolfo. E assim se deu a entrada da banda em terras nipónicas, onde começaram por ter discos editados e acabaram por visitar em 2015. “Foi incrível, qualquer coisa de indescritível”, confessaram os quatro músicos em uníssono. “Fomos completamente às escuras e sabíamos que na pior das hipóteses íamos ter umas férias”, afirmou Rodolfo, entre sorrisos, completando que foi incrível “uma banda do Interior de um país tão pequeno chegar ao Japão para tocar e ter salas cheias e pessoas a cantar as músicas”. Os músicos não se conseguem dissociar da sua região e essencialmente da forma como a cultura está a ser trabalhada e nesse ponto, o Fundão está com uma agenda muito preenchida para os próximos dois meses. O “Sons à Sexta” regressa no dia dez de novembro, mas antes é tempo de levar o Fundão ao mundo com os “!!! Chk chk chk”, na próxima sexta-feira, no octógono. “Eu posso garantir que quem tiver oportunidade de ir a este concerto nunca mais se vai esquecer, isso é garantido”, defendeu Toni Barreiros, que está a sentir dificuldades em angariar público para o concerto. No que toca aos Norton, seguem-se os concertos no Teatro Municipal da Guarda, no dia três de novembro, e no Centro Cultural de Belém, no dia seguinte, isto antes de seguirem para estúdio, onde vão preparar um novo álbum. “A partir do momento em que entrarmos em estúdio as músicas vão levar uma volta grande, o resultado final geralmente muda sempre consideravelmente, neste momento temos o esboço das músicas”, adiantou Pedro Afonso, mostrando que o processo criativo da banda é sempre diferente de álbum para álbum. “Não é fácil definir uma linha para acabar o processo criativo, mas temos de chegar a um ponto em que temos de ser assertivos”, concluiu Leonel, baixista da banda. As previsões para o lançamento do novo álbum esbarram com o ano de 2018. Para além das bandas já anunciadas para os próximos concertos na Moagem com o projeto “Sons à Sexta”, o Fundão vai receber também, no Teatro Clube de Alpedrinha, a digressão “Rumble in the Jungle”, um nome dado a um dos míticos combates da história entre Muhammad Ali e George Foreman, replicado pelos Linda Martini e Legendary Tigerman que irão produzir uma luta diferente, onde não existirão vencedores, mas um encontro intenso de música. |
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