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Inspirar para Qriar novas conquistas
João Botão dos Santos · quarta, 27 de setembro de 2017 · O ciclo de conferências "Qria a tua conquista", organizado por José Costa, Mário Tarouca e Rita Cipriano teve como objetivo motivar e inspirar as pessoas para que transformem as suas ideias em ações. |
Luís de Matos, na sua intervenção na mesa "Talentos da Beira" |
22008 visitas Nove oradores, histórias de vida marcantes e muita inspiração à mistura. O New Hand Lab, local que à partida pareceria improvável, tornou-se no habitat natural do empreendedorismo recebendo, no passado sábado, o evento "Qria a tua conquista", organizado pelos covilhanenses José Costa, Mário Tarouca e Rita Cipriano. Um evento que demorou cerca de um ano a sair do papel, num "processo exaustivo, longo, cheio de adversidades" e com uma mensagem clara: "Agora é contigo – Qria". "Numa crise, ou tu choras, ou tu vendes lenços a quem chora", começou por afirmar André Leonardo, o primeiro orador da tarde, que sabe como ninguém "fazer acontecer". O jovem, oriundo da Ilha Terceira nos Açores, teve o devaneio de colocar uma mochila às contas e dar uma volta ao mundo para falar com pessoas que "fizeram acontecer" e "mudaram o mundo". "Ninguém achava que isto fosse possível, nem mesmo as pessoas que me eram mais chegadas", confessa o açoriano que apesar de sentir falta de apoio foi com a sua ideia avante enfrentando as várias dificuldades que se colocaram no seu caminho. Durante 12 meses visitou 23 países, mais de 126 mil quilómetros percorridos por todo o mundo, onde teve oportunidade de ouvir todo o tipo de histórias e ficar com algumas certezas. "Nunca é o momento perfeito, temos de começar com o que temos", defende o empreendedor que não tem dúvidas que não existe nada "que se conquiste na vida que não dê trabalho". Ultrapassado o difícil objetivo de ir ao mundo buscar inspiração, era tempo de "trazer a inspiração de volta a casa", e é aqui que surge o livro "Faz Acontecer", que vendeu mais de quatro mil unidades, espelhando um sonho que se tornou realidade. "É engraçado que tinha uma professora no secundário que dizia que eu nunca iria escrever nada, é óbvio que foi a primeira pessoa a receber o livro devidamente autografado", confessou, entre sorrisos, o açoriano que recebeu, no ano passado, em Espanha, um prémio que o coloca entre os sete jovens capazes de mudar o mundo. Dos Açores para a Beira Interior, era tempo de juntar "à mesa" os talentos beirões. Luís de Matos, Elisa Bogalheiro, Luís Cipriano e Ricardo Runa partilharam experiências, num debate que aproximou a cultura da política. "Não há nenhum empreendedor que não pense em desistir, no Interior, esse risco é maior", defendeu Luís de Matos, o fundador da empresa Follow inspiration e natural do Teixoso, que reiterou ainda que apesar disso os empreendedores "são os primeiros a olhar para o lado e a dizer para si mesmos que têm de trabalhar mais". No seguimento, Elisa Bogalheiro, em representação da aplicação "Aqui há beira", acrescentou que "o êxito se mede, não por momentos bons, mas pelos momentos maus que se ultrapassam". A empreendedora natural de Peraboa não tem dúvidas que "para se ser empreendedor é preciso falhar melhor". Vários foram os pontos em que os quatro oradores concordaram e na aproximação da cultura com a política, Luís Cipriano, maestro do Coro Misto da Beira Interior, foi claro e conciso. "Acho que os problemas são sempre políticos", defendeu, completando com a ideia de que a mentalidade no Interior é muito "feudal", onde não existe partilha. Ricardo Runa, diretor artístico e bailarino do grupo Kayzer Ballet foi ainda mais longe: "A cultura em Portugal é um lobby, está fechada a um certo grupo e é política". Mas esta realidade não é condição impeditiva para que este jovem mostre o seu trabalho e o seu talento, apesar das muitas portas fechadas. Ricardo e o seu grupo decidiram concorrer ao programa "Got Talent Portugal", com o intuito de dar a conhecer o seu trabalho. "A vontade é o melhor motor para se conseguir tudo", concluiu o bailarino covilhanense. Pegando numa comparação antiga dos meandros políticos da Covilhã, Luís Cipriano comparou a cultura a um bolo, bolo esse que Elisa pensa que deve ser "comido" por todos. Os momentos inspiradores não paravam e dos talentos da Beira passámos para uma história bem diferente, construída a pulso e com muito esforço. Era tempo de ouvir Sara Hummeid, uma jovem síria que no meio do clima de guerra que o seu país vive e depois de ser obrigada a deixar os estudos, foi audaz ao ponto de encontrar na Covilhã, e nomeadamente na Universidade da Beira Interior, uma "nova vida". "Estava quase a desistir, mas quando consegui a bolsa de estudo foi fantástico", adiantou a jovem que, apesar de querer regressar às suas origens não o irá fazer enquanto a Síria estiver em estado de guerra. O projetor indicava sinais de cansaço acumulado e deu o mote para a surpresa da tarde, uma atuação de ginástica acrobática da Associação Estrela de 3 pontas (AE3P), que antecedeu o "coffe break" que serviu de reforço, não para a prática, mas para se falar de desporto. Os apaixonados pelo deporto Clara Luxo Correia, Fernando Parente e Inês Henriques não falharam a convocatória para um encontro diferente daquilo que estão habituados. Muito se falou nas palestras anteriores em política e Clara, na pele também de autarca, sentiu necessidade de esclarecer que "nem todos os políticos são iguais". Apesar da licenciatura em economia e o mestrado em Marketing, Clara gosta de se apresentar como desportista. "O desporto não me deve nada, eu é que devo tudo ao desporto", confessou. A paixão pelo desporto é algo que Fernando sente desde muito novo e a presença neste evento vai além da transmissão de inspiração, foi também "desculpa" para o vice-presidente do Sporting Clube de Braga regressar a casa. O também desportista nasceu e cresceu na Covilhã, onde teve oportunidade de praticar as modalidades de basquete e futebol. "Aos 16 anos era capitão da seleção distrital de basquete e futebol", confessou orgulhoso. O dirigente sente que atualmente se vive uma realidade desportiva "masculinizada e futebolizada", mas reitera que "o futebol, enquanto modalidade, não tem nenhum mal". Para o fim, mas não menos importante ficou Inês Henriques. A atleta que é capaz de marchar mais rápido que muito boa a gente a correr, passou a dispensar apresentações depois do dia 13 de agosto, quando arrecadou a medalha de ouro na prova dos 50 quilómetros marcha. Uma prova que não estava prevista, e uma conquista seguida de um novo record mundial que já era seu desde janeiro. "Quando queremos muito, com um pouco de talento, chegamos lá acima", adiantou Inês que não esperava ter esta visibilidade aos 37 anos de idade. "É muito difícil contar, por palavras, aquilo que senti nos últimos metros, era o mundo inteiro a aplaudir-me", relembrou, acrescentando de sorriso na cara, que ainda hoje não tem noção daquilo que fez. Mas a desportista, com uma vida esforçada, dividida entre o curso de enfermagem e o desporto de alto rendimento, sente com alguma tristeza que é preciso "fazer coisas muito grandes para ter visibilidade nas outras modalidades que não o futebol". A tarde cheia de almas sonhadoras, empreendedoras e com histórias inspiradoras terminou da melhor maneira com "medalha de ouro": a Inês Henriques juntou-se o Coro misto da Beira Interior, que ao ritmo da batuta de Luís Cipriano e com o instrumento vocal já afinado, encerrou o evento com alguns arranjos de fado produzidos pelo maestro. "Agora é contigo - Qria". |
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