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Estará o interior a recuperar o atraso face ao litoral em termos empresariais? Os últimos números…
José R. Pires Manso · quarta, 12 de julho de 2017 ·
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José R. Pires Manso - Professor Catedrático de Economia, UBI, e responsável do Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social do Interior |
21967 visitas 1. Barómetro empresarial do País em maio pp: Segundo a Barómetro DB Informa, maio, 2017, publicado no corrente mês de junho, em Portugal e em maio de 2017 criaram-se 3408 novas empresas, +10.5% do que no mês homólogo de 2016 e nos últimos 12 meses criaram-se +2.5% do que no ano anterior. Por sua vez em maio encerraram 869 empresas, -7.3% do que em igual mês do ano anterior (937), e ao fim dos últimos 12 meses tinham encerrado 16275 empresas, o que representa uma redução de 3.2% face aos 12 meses anteriores. As ações judiciais relacionadas com insolvências baixaram 10% nos últimos 12 meses apesar de neste mês (maio) terem subido 4.5% face ao mês homólogo do ano anterior. As insolvências também se reduziram 22.3% no mês e 24.5% nos 12 meses sempre face aos períodos homólogos do ano anterior. Ao longo dos últimos 12 meses o número de nascimentos de empresas cresceu 2.5% tendo acelerado nos últimos meses. O padrão sazonal (mensal) de nascimentos é mais ou menos o do ano anterior com, no conjunto, aquele pequeno acréscimo. Em termos de encerramentos de empresas verificou-se uma redução global de 3.2% com o padrão sazonal (mensal) a manter as mesmas características do ano anterior. O valor das insolvências baixou bastante do ano anterior para este com valores que oscilam entre -38.2% e -3.6% consoante o mês. O nº de ações judiciais também tem vindo a baixar em praticamente todos os meses, com exceção de março e de maio do corrente ano em que aumentaram. O saldo de nascimentos (38236) versus encerramentos (16275) é muito significativo, +1961 empresas a nível nacional. 2. Repartição sectorial das empresas do país: Das 461647 empresas do país existentes em maio de 2017, o grupo mais representativo é o dos serviços com 35.6%, seguido dos retalhistas com 13.8%, da indústria transformadora (8.7%, da construção 8.2%), do alojamento e restauração (8.1%), do grossista (7.5%), das atividades imobiliárias (6.5%), dos transportes (3.8%), da agricultura, pecuária, pesca e caça (3.6%), das a. financeiras (2.1%), das telecomunicações (1.7%), do gás, eletricidade e água (0.4%) e por fim, das indústrias extrativas (0.1%). Os sectores onde houve mais nascimentos no mês de maio de 2017 foram os serviços (1087 empresas, +8.6% do que no mês de maio de 2016), o alojamento e restauração (432 empresas ou +2.1%), o retalhista (+399 ou -6.3%) e as atividades imobiliárias (292 ou +27.5%). Com mais encerramentos também foi o retalhista (190 e +6.7% do que um ano antes), o dos serviços (184, mas -7.5% do que no mês homólogo de 2016), e o do alojamento e restauração e industria transformadora (com 103 unidades cada, -4.6% o primeiro e -12% o segundo). Nos 12 meses que terminaram em maio deste ano o sector que viu mais empresas nascerem e encerrarem foi o dos serviços, +5936 e +1379 empresas, respectivamente, a seguir nos nascimentos vieram os sectores retalhista, da alimentação e restauração e da construção e imobiliárias. Em termos relativos os sectores com maiores crescimentos foram o das atividades imobiliárias (+26.5%), da agricultura… (23%), e das telecomunicações (+19.4%). Em termos de encerramentos os sectores que mais afetados foram a agricultura… (+9.5%) e as atividades financeiras (+2.3%). Em termos de insolvências praticamente todos os sectores reduziram o seu valor sendo a sua redução global de 24.4%). Em termos relativos os sectores mais representados entre as 38236 empresas criadas nos últimos 12 meses temos os serviços (32%), o retalho (12.7%) e o alojamento e restauração (11.7%). Vêm depois a imobiliária, a construção, a i. transformadora e a agricultura… Por encerramentos nos últimos 12 meses foram também os serviços (25.2%), os retalhistas (18.7%) e a alimentação e restauração (11.5%) os mais representados nas 16275 empresas que fecharam portas. Nos 12 meses que terminaram em maio pp criaram-se 8.3% (38236) de novas empresas, entraram em insolvência 0.6% (2883) e fecharam 3.5% (16275). Das que se criaram elas foram maioritariamente de telecomunicações 15%, seguidas do s. imobiliário (12.7%), do alojamento e restauração (11.9%) e da agricultura… (10.2%). O sector onde houve mais insolvências foi o das i. transformadoras (1.3%), construção (1.1%), e i. extrativas e grossista (1% cada). Os sectores mais representados nos encerramentos foram o da construção (5%), alojamento e e restauração (4.9%) e telecomunicações e retalhistas (4.8% cada). Nos 12 meses últimos criaram-se em média 2.3 empresas por cada uma que encerrou. Criaram acima da média as atividades imobiliárias (5 novas por cada encerramento), a agricultura… (4.3), telecomunicações (3.1), serviços (3), gás, eletricidade e água (2.6) e al. e alimentação (2.5). abaixo da média de 2.3 empresas ficaram os restantes sectores. 3. Dinâmica empresarial distrital – Estará o interior a recuperar o atraso empresarial? Castelo Branco, Guarda e Viseu tinham em maio de 2017, respectivamente, 72272, 5996 e 13426 empresas, do total de 461647 de todo o país. Em termos relativos esses valores correspondem, respectivamente, a 1.6% C. Branco (14º em 22 distritos), 1.3% a Guarda (17º em 22) e 2.9% Viseu (10º em 22). Desta discriminação se vê o pouco peso empresarial dos distritos do interior e dos Açores todos eles colocados a partir do 13º ao 22º lugar por ordem decrescente de importância. A única exceção é Viseu que está em 10º lugar. Em termos de nascimentos de novas empresas registados neste mês temos em C. Branco +41 empresas contra +29 em maio de 2016, logo mais 41.4%, na Guarda, +21 empresas contra 27 um ano antes, logo menos 22.2%; e Viseu por sua vez, +86 empresas contra 71 em maio de 2016, logo mais 21.1%. No país +3408 empresas contra 3084 em maio de 2016, logo mais 10.5%. Em termos de insolvências houve uma empresa em C. Branco em maio 2017 contra 4 em maio de 2016 (-75%), na Guarda houve 5 em 5/2017 contra 3 em 5/2016 (+66.7%) e em Viseu 8 contra 10 (-20%) nos mesmos meses, respectivamente. Estes valores comparam com os -22.3% de insolvências no todo nacional. Em termos de encerramentos verificou-se em C. Branco verificaram-se 15 em maio 2017 contra 10 em maio de 2016 (+50%), na Guarda 7 em maio/2017 contra 9 em maio/2016 (-22.2%) e em Viseu 22 contra 25 (-12%) nos mesmos meses, respectivamente, valores que comparam com -7.3% a nível nacional. Em termos de nascimentos de empresas acumulados em 2017, desde o início do ano e registados até maio temos em C. Branco +197 empresas contra 207 até maio de 2016, logo +4.8%, na Guarda +133 empresas contra 160 até maio de 2016, logo -16.9%; Viseu por sua vez, +417 empresas contra 415 em maio de 2016, logo +0.5%. No país +18368 empresas contra 17387 em maio de 2016, logo +5.6%. Em termos de insolvências acumuladas desde o início o ano em C. Branco verificaram-se 15 até maio 2017 contra 23 até maio de 2016 (-34.8%), na Guarda 13 em 5/2017 contra 15 em 5/2016 (-13.3%) e em Viseu 36 contra 50 (-22.7%) nos mesmos períodos, respectivamente. No país +1199 empresas contra 1586 em maio de 2016, logo -24.4%. Em termos de encerramentos, em C. Branco e de janeiro até maio de 2017, verificaram-se 91 em maio 2017 contra 98 em maio de 2016 (-7.1%), na Guarda 53 em 5/2017 contra 57 em 5/2016 (-7.0%) e em Viseu 150 contra 194 (-22.7%) nos mesmos meses, respectivamente. No país +5639 empresas contra 5725 em maio de 2016, logo -1.5%. Em termos de nascimentos de empresas durante os últimos 12 meses e registados até maio temos em C. Branco +414 o que representa 1.1% dos nascimentos do país, na Guarda +276 empresas (0.7% do país); Viseu por sua vez, +827 empresas (+2.2% do país). No país foram +38236 empresas. Em termos de insolvências acumuladas durante o último ano temos em C. Branco 42 (1.5% do país), na Guarda 31 (1.1%) e em Viseu 91 (3.2%). No país +2883 (100%). Em termos de encerramentos acumulados verificaram-se em C. Branco durante este ano +233 (1.4%), na Guarda +139 (0.9%) e em Viseu +427 (2.6%), respectivamente. No país desapareceram 16275 empresas. Na Guarda criaram-se ao longo dos últimos 12 meses +276 novas empresas o que corresponde a 4.6% das empresas do distrito, em C. Branco foram 414 ou seja 5.7% do total distrital e em Viseu 827, i. é, 6.2%. Estes valores comparam com 8.3% de empresas nascidas no todo nacional, o que nos leva a afirmar que a dinâmica regional dos distritos do interior centro é insuficiente para recuperar o peso perdido no todo nacional. Por sua vez os 3.5% (16275) de encerramentos de empresas e outras entidades verificadas a nível nacional comparam com os 2.3% (139), da Guarda, os 3.2% (233) de C. Branco e os 3.2% (427) de Viseu. Aqui, e felizmente, o interior do país ficou melhor na fotografia que o todo do país. Por cada empresa encerrada nasceram 2.3 empresas no país, em C. Branco foram 1.8, na Guarda foram 2 e em Viseu foram 1.9. A Guarda foi a mais dinâmica na criação de empresas, mas abaixo da média nacional, o que confirma o atrás referido, que o fosso entre o litoral e o interior em termos de números de empresas criadas por cada uma das extintas se está a agravar, infelizmente para o país e a região. Em síntese… Apesar de confirmado o bom clima que a nossa economia atravessa e de o saldo criação-liquidação de empresas no país e na região ser positivo – estão a criar-se mais empresas do que fecham – a verdade é que o interior não mostra quaisquer sinais de conseguir recuperar o atraso em termos de tecido empresarial, de bem-estar dos seus habitantes e de empregos – decorrentes das empresas criadas; continua a agravar-se o fosso entre o litoral desenvolvido e o interior cada vez mais ostracizado, mais desertificado, mais envelhecido… Esta é uma mensagem para (i) os novos candidatos às autarquias locais para porem o foco dos seus programas na atração de mais empresas e na criação de mais e melhores empregos para o interior, não só os criados pelos precários call-centers, (ii) para o Governo central – que tem que legislar discriminando positivamente o interior, que abolir as portagens das AEs, que isentar total ou parcialmente de impostos e de contribuições as empresas e trabalhadores que se instalem no interior, e (iii) para a Agencia Portuguesa para o Investimento e Exterior que tem que canalizar para o interior investimentos empresariais modernos e produtivos e em sectores-chave – nacionais ou internacionais – que paguem salários condignos e estáveis a quem se disponha a trabalhar no interior… Experiências como estas já foram experimentadas noutros tempos e nalguns casos criaram-se parques industriais, empresas e universidades que com essa discriminação positiva de que beneficiaram continuam a ajudar a afirmar o interior e lutar por uma repartição equitativa dos benefícios do desenvolvimento entre a zona costeira e a zona mais próxima de Espanha… |
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