Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
"Nada brilhará mais que a imagem do profissionalismo e a capacidade de interação"
Rafael Mangana · quarta, 14 de junho de 2017 · @@y8Xxv Influenciado pelo exemplo do pai, cuja profissão e estilo de vida o fascinavam desde criança, tentou seguir-lhe as pisadas. A escolha foi óbvia e Engenharia Informática foi o destino de Rodrigo Resende da Silva. Com um percurso eclético na área, e com ideias claras acerca do seu futuro, está neste momento em Londres, onde concilia a função de developer e arquiteto de software numa parceira Microsoft e consultor, através da própria empresa, criada em setembro do ano passado. |
Rodrigo Resende da Silva |
22021 visitas Urbi et Orbi: Porquê Engenharia Informática e porquê na UBI? Rodrigo Resende da Silva: O curso foi uma decisão relativamente simples. Desde criança que me interesso pelo mundo informático, creio que por ter um pai programador e inconscientemente ter estipulado como meta o seu estilo de vida, os fatos, os carros desportivos. Para a altura, ele já era uma versão muito diferente do estereótipo nerd, o pálido socialmente inapto. Se assim não fosse, talvez tivesse seguido um caminho diferente. Lembro-me também de ver o filme “Takedown”, que retrata a história de Kevin Mitnick, um dos mais famosos hackers da história que inventou o conceito de engenharia social. A ideia de vir um dia a ser o hacker que descobre falhas num sistema e é contratado para o departamento de segurança informática, sempre me acompanhou durante a adolescência. Fiz download de extensos manuais em espanhol e tive as minhas aventuras como script kiddie. A Covilhã foi uma escolha por instinto, nunca tinha visitado a cidade, tampouco conhecia a Universidade ou a sua reputação. Mas sabia que o meu sucesso profissional dependia só de mim, pelo que optei por estudar onde me senti bem, uma espécie de amor à primeira vista.
U&O: Valeu a pena? RRS: Fernando Pessoa dizia que "o valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem.” Quer a UBI, quer a cidade, tiveram um valor incalculável no meu desenvolvimento profissional e acima de tudo pessoal. Se valeu a pena? Repetia tudo, sem falhar uma vírgula.
U&O: O que recorda dos tempos da UBI? RRS: O meu percurso foi bastante atribulado. A determinada altura a minha família não teve capacidade para suportar a minha vida de estudante. Fui fazendo o que pude para me manter na universidade, desde instrutor de kickboxing, a segurança, barman, relações públicas e operador de call center. Escusado será dizer que, com tudo isto, o meu foco nem sempre foram os estudos e a minha falta de rendimento fez-me passar por momentos de indecisão, onde pensei até desistir de estudar. Queria emigrar para a Suíça, juntar algum dinheiro e voltar a estudar quando me fosse possível. Felizmente tive quem me convencesse a lutar pelos meus objectivos e me fizesse acreditar que estava destinado a singrar na vida. Tudo foi bastante intenso, uma luta constante, mas foram imensas as boas recordações. Conheci pessoas que me marcaram e fiz ligações para a vida. Lembro-me da praxe (sim, a minha foi ótima), as latadas, a recepção, a semana académica, as festas 90’s na discoteca Companhia, a Já b’Ubi, serenatas e garrafões de vinho, as tardes na piscina ou as idas à serra. De tudo o que me lembro, foi fantástico, e o que não me lembro, suponho que tenha sido melhor ainda.
U&O: A nível profissional, sente que valeu a pena ter tirado o curso na UBI, já que é uma instituição mais pequena e localizada no interior do país? RRS: Vivemos numa era privilegiada, onde a troca de informação é gratuita e a abrangência não tem limites, pelo que não creio que a localização geográfica de qualquer instituição seja uma desvantagem. A cidade pode até ser pequena, bem como o número de alunos, mas a UBI é tudo menos uma instituição pequena a nível de feitos. Temos casos de sucesso nas mais diversas áreas e “puxando a brasa à minha sardinha”, chegámos à final mundial do Imagine Cup, o mais conceituado concurso universitário de programação. Em circunstância alguma, ao longo do meu percurso profissional, eu me senti inferiorizado por ter a UBI no meu currículo e não outra qualquer universidade, dita “de renome”.
U@O: Resumidamente, como tem sido o seu percurso desde que terminou o curso até aos dias de hoje? RRS: Engenharia Informática é um curso bastante completo e podes optar por diversas vertentes, eu escolhi a programação. Comecei numa empresa em Lisboa como programador web, desenvolvi websites, plataformas e-commerce, soluções de Business Intelligence e mais tarde intranets em SharePoint, uma tecnologia que acabaria por englobar um pouco de tudo o que eu tinha aprendido até à data. Fui progredindo hierarquicamente, mas mantive-me na mesma empresa os dois primeiros anos. Fui lendo blogues, segui profissionais no twitter, estudei bastante (talvez mais que na faculdade), procurei sempre que pude alargar e aprofundar o conhecimento nas minhas áreas de interesse. O ritmo da competitividade em Portugal é por vezes alucinante, nem sempre as empresas têm recursos suficientes, o que te obriga a trabalhar horas extra e executar tarefas fora da tua área de conforto. Felizmente, o que outrora foi causa de noites mal dormidas, foi também o fator de destaque nos processos de entrevista para Londres. Aqui comecei numa empresa Gold Partner da Microsoft, já com um cargo mais específico de “SharePoint Developer”. Não gostei e aproveitei o facto de estar no período experimental para mudar para uma das melhoras empresas da Grã-Bretanha a nível de soluções para Office365. Fiquei 18 meses naquela que considero ter sido a melhor empresa onde trabalhei até hoje, cresci bastante e boas influências incentivaram-me a criar o meu blogue, que mais tarde me deu bastante visibilidade. Atualmente sou Tech Lead numa parceira Microsoft, onde desempenho a função de developer e arquiteto de software. Abri também a minha empresa em Setembro do ano passado e tenho vindo a prestar serviços de consultoria a empresas mais pequenas, no meu (pouco) tempo livre.
U@O: Está neste momento em Londres. Foi algo ponderado, algo que ambicionava (ir para o estrangeiro) e para o qual trabalhou ou proporcionou-se? RRS: Não sabia ao certo onde, mas sempre soube que queria ter um percurso internacional. Londres acabou por ser a escolha óbvia, devido ao elevado número de talentos na minha área, por ser capital europeia da tecnologia e porque o teu sucesso aqui, depende única e exclusivamente do teu empenho/ambição. Foi algo ponderado sim, bastante (não é fácil abandonar o nosso clima), estipulei uma meta final, identifiquei o conjunto de pequenos passos a dar e fui trabalhando incansavelmente rumo ao meu objectivo. Simultaneamente, acabou por se proporcionar. Mesmo achando que ainda não estava preparado decidi fazer upload do meu currículo numa quinta-feira, para testar o feedback. Segunda-feira quando acordei tinha três chamadas não atendidas e recebi mais umas três ou quatro durante o dia. Comecei assim paralelos processos de entrevista por telefone e/ou Skype e o plano começou a ganhar forma.
U@O: Pensa regressar a Portugal? RRS: O plano passa por “ganhar dinheiro a dormir”. Enquanto assim não for, por certo que não estou milionário. Como disse, abri a minha empresa e a curto prazo espero dedicar-me 100 por cento a isso, trabalhar por conta própria, construir um portfólio atrativo e começar a expandir por aí. Quero ter a preocupação de ter de contratar recursos on demand. Trabalho bastante com Azure (Microsoft Cloud Platform) e comecei há pouco a explorar IoT, Machine Learning, recolha e análise de dados na cloud e as diversas aplicações em áreas como a saúde, segurança no local de trabalho, etc. Adoraria ser uma das empresas pioneiras e produzir essas soluções. Leio muito sobre investimentos também, tenho investido em startups e moeda digital, gostaria que isso passasse a fazer parte do meu rendimento. Quanto a Portugal, tenciono voltar um dia, mas para já estou sem data de regresso. Londres tem muito para me oferecer e parte do meu coração está cá também.
U@O: Em jeito de conselho para um atual aluno de Engenharia Informática da UBI, o que acha que hoje poderá ser determinante na tua área para um profissional ter sucesso? RRS: Não existe uma relação direta entre o quo eficiente de inteligência e o sucesso, mas o mesmo não se pode dizer da inteligência emocional. Posso dar conselhos mais técnicos a alguém do meu curso, mas dizer que se mantenham curiosos e atualizados, seguindo pessoas que idolatram em redes sociais como o twitter, lendo blogs, testando novas tecnologias. É apenas o expectável e todos à vossa volta o irão fazer (se assim não for, mudem-se. Procurem estar rodeados de bons modelos profissionais). O que vos vai destacar como pessoas e como profissionais é a vossa inteligência emocional, o autoconhecimento e controlo emocional, automatização e habilidade social. Por génios que sejam ou possam vir a ser, nada brilhará mais que a imagem do vosso profissionalismo e a capacidade de interação. Isto serve para o meu, ou qualquer outro curso. Por último, quero apelar a que arrisquem, não procurem o conforto. Somos formados por um sistema que nos incute medo, que gera empregados e não patrões. Cabe a cada nova geração contrariar esta tendência com um espírito empreendedor.
Perfil: Nome: Rodrigo Resende da Silva Naturalidade: Lisboa Curso: Engenharia Informática Ano de Entrada na UBI: 2007 Filme Preferido: “Fight Club” Livro Favorito: “Os irmãos Karamazov”, de Fiódor Dostoiévski Hobbies: Maratonas de séries, boxe, xadrez, programar, convívios e noitadas |
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