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O Pão Nosso de Cada Dia
Ângela Pais e Melissa Amaral · quarta, 23 de agosto de 2017 · Diariamente, são muitas as pessoas que batem à porta de instituições em busca de alimentos. Apesar da “vergonha” que carregam consigo, a falta de bens alimentares fala mais alto. Muitas vezes, são instituições como a Refood que lhes dão a mão. |
Edifício da Refood na Covilhã |
21987 visitas Já parou para pensar na quantidade de comida que desperdiça e que podia servir de alimento a famílias carenciadas? Agora, imagine que a sua família era uma delas. Pediria ajuda a uma instituição? Muitos fazem-no e a Refood, na Covilhã, combate o desperdício ajudando estas famílias. Uma sociedade solidária Segundo os dados revelados pelo Instituto Nacional de Estatística, a pobreza em Portugal tem vindo a baixar desde 2015. Contudo, ainda atinge um quarto da população, ou seja, quase 2,6 milhões de portugueses. A procura de ajuda em instituições alimentares tem vindo a aumentar ao longo dos tempos. As pessoas “colocam o seu orgulho de parte”, pois o baixo rendimento das famílias obriga-as a pedir ajuda. Na Covilhã a Refood é a salvação de cerca de 21 famílias, que representam umas 70 pessoas. A instituição é constituída apenas por voluntários divididos por cargos ou funções, como esclarece Maria Batista. “Sou voluntária, mas digamos que tenho outras responsabilidades, um pouco acrescidas. Há outros elementos que têm de coordenar o centro aqui dentro, depois há outras equipes que coordenam os voluntários das rotas, etc. Digamos que somos todos voluntários. Aqui não há volta a dar, apenas uns têm mais responsabilidades do que outros.” A pressão do dia-a-dia Por vezes, a vida é tão traiçoeira que famílias que ajudavam outras, agora são elas ajudadas. Tal como conta um dos beneficiários “já tinha feito voluntariado noutro sítio, entretanto, as circunstâncias da vida levaram-me a recorrer a este tipo de serviços.” O pedido de auxílio por parte destas famílias tem quase sempre por base a necessidade de alimentar os filhos. “Foi mais por causa deles que tive de recorrer a isto”, explica uma das beneficiárias da Refood. Sendo a única fonte de sustento da família, esta mãe sente uma enorme pressão em poupar os filhos ao lado mais angustiante da vida, e a mágoa de “não lhes poder dar tudo o que precisam”. Procedimento Sigiloso Dia após dia, tornou-se um hábito a deslocação destas famílias a esta instituição. Por norma, é “o chefe de família que vai buscar, a mãe ou pai, que muitas vezes têm em casa 3 ou 4 filhos. Outras vezes são os filhos que vêm buscar a comida” conta Rita Silva, uma das voluntárias desta organização. Os candidatos devem preencher uma ficha de inscrição na qual descrevem a sua situação económica, ou seja, despesas e rendimentos e, de seguida, é feita uma triagem realizada por uma equipa de gestores voluntários. Vítimas de uma vida problemática e temendo o julgamento moral da sociedade, a instituição mantém o sigilo e a privacidade relativamente aos utentes. Prisioneiros dos problemas que acarentam, são-lhes atribuídos números para dificultar a identificação. “Chega lá, diz o número, prepararmos a cesta, neste caso o saco da comida, entregamos e o utente vai-se embora. Mais nada. Não temos qualquer conhecimento de porquê aquela pessoa estar lá. Só sabemos mesmo o número de elementos da família.” A partilha de alimentos Para o sucesso desta instituição e famílias, empresas da Covilhã como restaurantes, padarias, pastelarias e supermercados voluntariam-se, tornando-se “fontes de alimentação”. A Universidade da Beira Interior não é indiferente a esta causa, sendo quem oferece o maior contributo para esta organização. A recolha de alimentos realiza-se por voluntários que se deslocam até às empresas, em equipas com rotas diferentes, fazendo-se acompanhar dos recipientes necessários, recolhidos anteriormente na instituição. Voluntários precisam-se Grande parte dos voluntários desta organização são estudantes da universidade e não têm residência permanente na Covilhã. Por isso, ao longo do ano, principalmente no verão, verifica-se uma baixa de voluntários tornando mais difícil a distribuição e recolha de alimentos. E há espaço para crescer. Apesar da quantidade de famílias que conseguem ajudar, existe ainda uma lista de espera bastante grande, que a Refood não consegue satisfazer devido à falta de voluntários. |
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