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"Quero contribuir para o futuro do meu país"
Nivia Cristóvão · quarta, 9 de maio de 2018 · @@y8Xxv Lucília Seixas, uma jovem timorense, estudante do mestrado integrado do curso de Engenharia Civil, na universidade da Beira Interior, tem 29 anos de idade e está na UBI desde 2009. Lucília já está em Portugal há quase oito anos, sem nunca ter regressado a Timor neste período de tempo. Pretende fazê-lo após concluir o curso. O objetivo desta entrevista é conhecer o percurso da vida desta estudante, desde que partiu de Timor até chegar a Portugal. |
Lucília Seixas |
22003 visitas "Não é fácil estudar fora do País, longe da casa, dos pais, mas nunca desisto. Sou uma pessoa que sempre corre atrás dos seus sonhos…" Lucília Seixas
P: Quando e onde terminou o ensino secundário? Terminei o secundário em 2007, na escola Petros em Díli, em Timor.
P: Como conseguiu vir estudar para Portugal? Quando terminei o secundário, decidi entrar na universidade em Díli, durante dois anos, e ao mesmo tempo tentei concorrer a uma bolsa de estudo para estudar fora.
P: Então quando andava no secundário já tinha pensado em vir para cá estudar? Sim, já tinha pensado em estudar fora do país, mas nunca tinha pensado em vir estudar para Portugal.
P: Como foi o processo seletivo para a bolsa? Foi um longo processo. Demorou um ano, porque tivemos que fazer vários testes no início, e fui escolhida para frequentar o curso intensivo de português. No final dos seis meses de aprendizagem, tivemos que fazer um teste final e tendo conseguido passar, fui selecionada para vir para cá.
P: Quantas pessoas concorreram para a bolsa e quantos foram selecionados? Mais de mil pessoas, porque não é foram só estudantes de Díli, mas também outros estudantes que vieram de outros distritos só para concorrer à bolsa. No final apenas cerca de cem pessoas foram selecionadas, e eu fiquei entre elas.
P: Já sabia falar português antes de vir para cá? Posso dizer que sim, já sabia mais ou menos falar português, porque estudava na escola e o meu pai era professor de português.
P: Porque escolheu a Universidade da Beira Interior? Não fui eu que escolhi, o Ministério da Educação escolheu por mim. Quando vim pela primeira vez não tinha qualquer tipo de conhecimento.
P: Que dificuldades sentiu após ter chegado? Primeiramente estranhei o clima, porque é muito diferente do clima em Timor. Lá o tempo é sempre quente e húmido, enquanto na Covilhã é muito frio, e como cheguei cá em novembro o frio já estava a apertar.
Como foi o começo do curso? Adaptou-se se rápido? Não, o meu primeiro ano foi muito difícil em termos da língua, porque apesar de já ter aprendido português na escola, não foi assim tão fácil como eu imaginava. Como já cá cheguei muito tarde, em novembro e as aulas já estavam a decorrer há algum tempo, também senti essa dificuldade porque o sistema de ensino é muito diferente do de lá. Comecei tudo de novo, encontrei pessoas novas, hábitos novos e culturas novas e foi bastante difícil adaptar-me.
P: Precisou de quanto tempo para se conseguir adaptar a todas estas situações? Bem, em primeiro lugar não foi fácil como já tinha dito, mas tentei o máximo que pude. Apesar de ter vindo de outro continente, com uma língua e um nível de ensino muito diferente, posso dizer que é uma situação que todos os alunos estrangeiros enfrentam. O meu processo de adaptação demorou quase 2 anos.
P: Qual é o seu plano depois de terminar o curso? Está a pensar em trabalhar aqui ou em Timor? Vou voltar para Timor. Nunca pensei em trabalhar cá porque tenho tudo lá, a minha família, e também quero contribuir para o futuro do meu país.
P: Com toda a experiência que já passou até agora, durante o seu percurso aqui na UBI, o que gostaria de recomendar a um/uma colega timorense que quer vir estudar para aqui no futuro? Não é fácil estudar fora do país, longe de casa, dos pais, mas o importante é nunca desistir. Devemos correr sempre atrás dos nossos sonhos, porque apesar de às vezes não ser fácil, nunca nada é impossível.
Lucília é uma das 15 alunas timorenses a estudar na Universidade da Beira Interior, e um dos muitos exemplos de universitários que vêm de muito longe para estudar nesta instituição. Tal como ela, esses alunos têm uma adaptação que por vezes não é fácil, principalmente por estarem longe de casa e das suas famílias, mas tal como aconteceu com Lucília, o importante é nunca desistirmos dos nossos sonhos. |
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