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Humor sem limites na Covilhã
Sara da Silva Alves · quarta, 3 de maio de 2017 · Rui Sinel de Cordes esteve no Teatro Municipal da Covilhã para um novo espectáculo da sua tour “Cordes, Out!”, um dos últimos em Portugal antes da sua partida para o Reino Unido. |
"Cordes, Out!" no Teatro Municipal da Covilhã. (Foto: Sara Alves) |
22047 visitas Falar de humor negro em Portugal é também falar de Rui Sinel de Cordes, cuja imagem não dá para desassociar desta corrente humorística. A tour “Cordes, Out!”, que só termina no dia 15 de maio, em Londres, foi de Caminha a Faro, tendo esgotado várias salas do país. A cidade da Covilhã foi uma das paragens do humorista que, em tempos, quis ser jornalista, até perceber “que era mais giro fazer rir as pessoas do que informar”, já no último ano da sua licenciatura em Ciências da Comunicação. “Rir de temas incorretos, mas sair daqui com a certeza absoluta do que é correto” é a frase que fica e que melhor descreve este e outros espectáculos de Sinel de Cordes, que defende a inexistência de limites no humor e que sente ter tido “um papel importante em trazer essa discussão e a acabar com ela”. “Acho que hoje em dia qualquer pessoa que está atenta ao fenómeno do humor sabe que não há limites. Isto já foi tão debatido e já houve tanta gente a dizer que, de facto, não há, que já nem há discussão”, afirma. Há quem considere que gostar de humor negro é um ato de coragem. Quando comparada com o resto do mundo, esta variante humorística, em Portugal, “está num patamar baixíssimo”. A nível internacional, verifica-se que os “humoristas mais negros são aqueles que têm mais sucesso, mais público e os que ganham mais prémios”, confirmando a tendência de que o número de pessoas a preferir este tipo de espectáculo tem vindo a aumentar. “Por cá, está a crescer, acho que está num bom nível para Portugal. Com o passado que nós temos e com a história do stand-up que há, que é curta – uns 15 anos, no máximo – acho que está num bom caminho”, adianta Rui Sinel de Cordes que, contudo, salienta o facto de “não se poder comparar nada, a este nível, com o mundo anglo-saxónico”. Habituado a ver espectáculos de alguns dos seus humoristas preferidos, Cordes presenciou alguns onde “saíam pessoas a meio que era uma coisa parva. Aquilo era tipo o metro, não parava de sair gente da sala”. Nos seus, também já aconteceu: “Hoje acontece pouco, mas era natural ver pessoas a sair. Não era muita gente, mas, de vez em quando, uma ou duas pessoas. Não é nada que me deixe muito contente, não tenho nenhum prazer em ver alguém vir ao engano, gastar dinheiro e não gostar. Mas também não penso em nada disso. Raramente acontece. E também tenho muitas luzes na cara, quando acontece geralmente não vejo”. Com o piso inferior do Teatro Municipal da Covilhã cheio, esta sessão confirmou o sucesso que a tour tem feito, não só nas cidades que já receberam outros solos de stand-up comedy de Sinel de Cordes, mas também naquelas que eram “novidade”. “Eu não espero nada, vou vendo. De vez em quando, olhamos para ver como é que está a correr, para sabermos se vamos ter uma boa noite ou não, mas nesta tour quase que não tive de me preocupar com isso. Esgotamos as datas todas daquelas cidades onde já é costume irmos, como Coimbra, Braga, Guimarães, Porto… Em Castelo Branco tivemos 500 pessoas, em Caminha esgotou, em Évora também. Em Portalegre correu muito bem. Tudo isto é um bocado surpresa porque não estávamos à espera, nunca tínhamos vindo”, acrescenta. Apesar de serem os jovens a marcar presença em grande maioria, pois esta é uma “cultura relativamente nova em Portugal e o público que está mais atento a isso é, naturalmente, este”, Rui Sinel de Cordes tem reparado num novo fenómeno: jovens que levam os pais. “Ficam no fim para tirar uma foto e o pai é que diz ‘não, fui eu que o trouxe’. Tem havido esse fenómeno de pais e filhos e penso que é giro”. Para o humorista, esta tour foi, então, “melhor do que pensava, não só pela quantidade de pessoas, mas pela qualidade, acima de tudo, pois cada vez saem menos pessoas e cada vez mais as pessoas se riem abertamente”. Rui Sinel de Cordes não se imagina a fazer outra coisa a não ser stand-up. Rádio, por exemplo, “está totalmente fora de interesse. Não me consigo levantar antes do meio-dia, nenhuma rádio teria dinheiro para me fazer levantar da cama antes do meio-dia e eu também não quero. Quero fazer só stand-up, cada vez mais só stand-up e agora, durante cerca de dois anos, fazê-lo em inglês”. Além disto, seria difícil fazer este tipo de humor nas rádios, onde impera um “tipo muito próprio para entretenimento”. “As rádios não estão para ser chateadas nem para chatearem ninguém. A SIC Radical, exemplo de media que esteve mais comigo, está perfeitamente preparada para ser chateada diariamente com pessoas a protestar, e acho que quem quiser trabalhar comigo tem de estar muito nessa onda. Não deve reagir a um e-mail que vai receber, pois vai receber. Vai receber vinte, trinta, e se for numa de ficar influenciado por isso, não vale a pena telefonarem”, explica o humorista. As opções que se abrem em Portugal não vão de encontro aos interesses de Rui Sinel de Cordes e o tempo não pára: “Nós todos deixamos passar o tempo, mas chega um dia em que ele acaba”. Rumar ao Reino Unido foi a melhor opção encontrada e ambição não falta. “Espero aprender, espero melhorar. Quero ir ao Edinburgh Festival Fringe com um solo, portanto vamos ver quanto tempo demora a transição de fazer uma hora em inglês. Agora é ir treinar”. Apesar desta mudança, uma coisa é garantida: voltará todos os anos a Portugal. “Enquanto me quiserem receber, eu vou estar aqui”. |
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