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Ex-aluno da UBI cria técnica cirúrgica inovadora
Rafael Mangana · quarta, 8 de fevereiro de 2017 · UBI David Ângelo, antigo aluno de Medicina da UBI, é o responsável por uma investigação que promete revolucionar a cirurgia em torno da disfunção da articulação temporomandibular, um problema que afeta cerca de 30 por cento dos portugueses. As primeiras cirurgias em humanos podem acontecer já no próximo ano. |
Após a investigação com ovelhas, David Ângelo pretende começar a aplicar esta técnica em humanos em 2018 |
21989 visitas Formado na UBI, o investigador e médico Estomatologista no Centro Hospitalar de Setúbal, David Ângelo, poderá estar prestes a resolver um problema que atinge cerca de 30 por cento da população portuguesa. "Em 2012 comecei a interessar-me pelos doentes com disfunção da articulação temporomandibular e percebi que nos casos graves (anquiloses da ATM, processos degenerativos severos ou patologia do disco articular avançada e de estádio irreversível) não existem soluções adequadas para restabelecer a função da articulação. Essa lacuna na área do tratamento motivou-me a tentar descobrir algo de novo na área da ciência e da investigação / saúde", explica o clínico. "Foi aí que coloquei a seguinte hipótese: se conseguíssemos recuperar o disco da articulação temporomandibular talvez conseguíssemos solucionar grande parte dos problemas desses doentes com patologia severa", refere. O primeiro paciente tinha 15 anos e apenas conseguia abrir a boca cerca de dois milímetros. "Após a cirurgia ele ficou bem durante quatro ou cinco meses e a primeira coisa que ele disse foi: 'doutor, já consigo ir ao McDonalds comer um hambúrguer', porque ele nunca tinha conseguido sequer trincar um hambúrguer. Mas passado esse tempo voltou à estaca zero e foi aí que fiquei mesmo com a consciência que era necessário fazer algo de novo nesta área". Foi a partir daqui que começou a base para este projecto de investigação (TEMPOJIMS). Durante dois anos e, com a ajuda de veterinários e de outros colegas, tentou-se perceber que animal teria a articulação mais parecida à do humano, para poder iniciar o estudo pré-clinico no melhor modelo animal possível. David Ângelo chegou à conclusão de que a ovelha seria o animal indicado, por ter a mandíbula mais semelhante à do humano, quer ao nível da anatomia, quer da biomecânica. "Isto foi um grande passo porque, até à época, era usado o porco em quase todas as investigações da ATM (articulação temporomandibular), ou seja, eu aqui mudei o conceito que existia relacionado aos estudos pré-clínicos. Apresentei este trabalho em Barcelona junto dos maiores líderes mundiais da área, quando tinha apenas 30 anos, o que causou admiração, por um jovem contrapor o modelo animal dos estudos prévios", lembra. Por outro lado fui convidado por um grupo americano a participar num 'position paper' sobre este tema". A equipa liderada pelo ex-aluno da UBI começou, então, por retirar os dois discos da articulação temporomandibular, para perceber a reação do animal, tendo verificado um processo degenerativo severo. Foram então desenvolvidos biomateriais com as mesmas características dos discos e que os pudessem substituir. "Isto também foi inovador, porque introduzimos pela primeira vez no mundo, os biomateriais no meio da articulação e vamos agora tentar perceber se conseguem em seis meses fazer o papel do disco", refere David Ângelo. Os materiais desenvolvidos, além de terem uma biomecânica muito semelhante ao disco nativo, vão permitir sustentar as cargas mastigatórias. Por outro lado, funcionam como que se um esqueleto se tratasse, sendo infiltrados por células nativas, existindo a espectativa de uma regeneração e uma repopulação daquela matriz. Depois de operadas nove ovelhas no final do passado mês de janeiro, a equipa aguarda agora que os animais reajam positivamente. "O que nós esperamos é que daqui a seis meses, quando abrirmos a articulação, já não haja material nenhum. Vai haver então um disco que, esperamos, seja com o mesmo tipo de células do disco nativo", sustenta o clínico. O passo seguinte é operar doentes humanos. "Espero que em 2018 possamos propor aos doentes entrar num estudo já com o disco devidamente testado onde colocamos o nosso biomaterial – nacional (produzido no CDRSP, do Instituto Politécnico de Leiria), espero eu – no meio da articulação e sobretudo que seja eficaz na prevenção de processos degenerativos severos", refere. "Acreditamos que possam, no futuro, ser um sucesso, não só na articulação temporomandibular, mas no joelho ou na coluna", sustenta David Ângelo. |
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