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Cine-Teatro Avenida recebe “Sean Riley & The Slowriders”
Ricardo Morais · quarta, 1 de fevereiro de 2017 · “Sean Riley & The Slowriders” apresentam-se, no próximo dia 05 de Fevereiro, domingo, no Cine-Teatro Avenida em Castelo Branco. O Urbi et Orbi esteve à conversa com o vocalista e guitarrista da banda Afonso Rodrigues (Sean Riley), e ficou a conhecer o percurso da banda a partir da Rádio Universidade de Coimbra, o processo criativo que esteve na origem do novo disco, lançado em 2016, e o que este representa para os músicos. |
“Sean Riley & The Slowriders” banda originária de Coimbra vai estar em Castelo Branco |
21998 visitas Urbi et Orbi: Como e quando surgiram os "Sean Riley & The Slowriders"? É verdade que Coimbra e a Rádio Universitária são decisivas para a formação da banda? Afonso Rodrigues: Sem dúvida, sem dúvida porque a banda nasce precisamente ligada à Rádio Universidade, ou seja, na altura eu estava na RUC (Rádio Universidade de Coimbra), o Bruno Simões também estava na RUC, e o Filipe Costa já tinha passado pela RUC. Foi na Rádio Universidade de Coimbra que eu e o Bruno ficámos amigos e foi lá que eu lhe mostrei as minhas primeiras ideias para canções, e foi lá que gravei as primeiras demos no Estúdio 2, etc. Portanto na prática a RUC está sem dúvida ligada ao início da banda e vai estar sempre. U@O: Qual a origem do nome "Sean Riley & The Slowriders"? Foi mesmo um alter-ego que ajudou na escolha desta denominação? AR: Numa fase inicial o que aconteceu foi que eu era um bocadinho tímido em relação às canções que fazia. E também não fazia muito sentido para mim estar a assinar canções escritas em inglês como Afonso Rodrigues. E então acabou por ser um bocadinho um misto das duas coisas, por um lado uma necessidade de criar algum nome que afastasse a autoria das canções do meu próprio nome, e ao mesmo tempo usar um nome que eu gostava em inglês, que me parecia mais coerente com aquilo que eu estava a fazer a nível musical. E portanto, no inicio era apenas Sean Riley, quando eu comecei a escrever sozinho, e depois uns tempos mais tarde, após até já termos dado o primeiro concerto, e termos acabado por formar a banda, e o Filipe estar connosco e o Bruno também, decidimos que seria "Sean Riley & The Slowriders", para reforçar a ideia de ser uma banda e não um tipo a solo e mais meia dúzia de pessoas a tocar com ele. U@O: Que estilo de música é o dos “Sean Riley & The Slowriders”? AR: Acho que de disco para disco nós fomos indo a espectros um bocadinho diferentes. Já tivemos mais ligados ao folk, já tivemos mais ligados aos blues, já tivemos mais ligados à country, mas no geral eu diria que é uma banda, sei lá, rock, pop rock, por aí. U@O: Desde que surgiram em 2006, como é que tem sido o percurso dos "Sean Riley & The Slowriders"? Estavam à espera de uma projeção tão grande da vossa música logo com o primeiro álbum? AR: Nós não estávamos à espera de nada, a única coisa que nós queríamos fazer era um disco, e estávamos extremamente felizes pela oportunidade que íamos ter de gravar um disco. Isso é a única coisa que eu me lembro de nós querermos verdadeiramente, era conseguir ter aquele álbum feito. E ficámos satisfeitos com o resultado final. Encontrámos as canções, a forma de gravar e os arranjos que nós queríamos e que nos deixavam satisfeitos. O resto foi tudo um enorme bónus, nunca foi muito planeado, nem muito ponderado, mas simplesmente aconteceu. U@O: Começaram com "Farewell" em 2007, depois "Only Time Will Tell" em 2009, "It's Been a Long Night", em 2011, e só regressaram em 2016, com um álbum homónimo. Esta paragem foi programada, uma forma de se dedicarem a outros projetos ou simplesmente aconteceu? AR: A paragem foi algo que aconteceu, foi algo que teve a ver com as circunstâncias da vida. O último álbum, o terceiro, tinha saído em 2011, nós em quatro anos e meio tínhamos editado três discos, tínhamos feito Portugal de norte a sul várias vezes, muitos concertos lá fora também, e chegou ali a uma altura que precisávamos de abrandar, porque estávamos a achar que não fazia sentido continuar com a mesma candência de saída de álbuns. Toda a gente queria fazer outras coisas, o Filipe dedicou-se aos livros, eu dediquei-me a fazer uma banda nova (Keep Razors Sharp), portanto houve ali várias coisas que se meteram pelo meio. E depois em 2015 voltámos aos concertos, apesar do disco só ter saído em 2016, em 2015 voltámos a tocar. Na prática o único intervalo é de 2012 a 2015, portanto são mais ou menos ali três anos em que nós abrandámos um bocadinho, e depois começámos a construir aquilo que viria a ser o álbum de 2016, ainda no final de 2014. Portanto houve ali uma altura, que não foi de facto muito ponderada, mas que teve a ver se calhar com uma certa necessidade de abrandares quando já tinhas feito tanta coisa tão rápido, e de repente queres fazer outras coisas também. U@O: E como é que decidiram que estava na hora de regressar? AR: Acho que foi as saudades de fazermos coisas juntos. Lembrou-me de a uma dada altura estar em Lisboa a correr e estar a ouvir música em shuffle no ipod, e a dada altura aparecer-me um disco de "Slowriders" a tocar, e eu normalmente não gosto muito de ouvir a minha própria música, mas naquele dia até deixei a coisa andar, e fiquei agradavelmente surpreendido a ouvir aquilo e pensei: "bom, tenho saudades de fazer coisas com estes miúdos outra vez e está na hora". E então aceitámos um concerto que na altura nos propuseram, e eu aceitei esse concerto como um mote de nós voltarmos a tocar, e voltarmos a estar juntos e voltarmos a ensaiar, e assim foi, e começámos a fazer música juntos depois. U@O: Em 2016 lançaram um álbum homónimo. Porque escolheram o nome da banda para o trabalho? AR: Normalmente as pessoas associam os álbuns homónimos aos primeiros álbuns da carreira. E a ideia aqui era um bocadinho, após esta pausa, fazermos um reset e voltarmos ao zero. E portanto a ideia do disco homónimo é ser quase um disco que funcione como se fosse o primeiro, e funciona um bocadinho também com a ingenuidade do primeiro disco, ou seja, partimos do zero, começámos de novo, não esquecendo aquilo que está para trás, mas olhando para o futuro e traçando novos caminhos. U@O: Este é um trabalho muito diferente dos anteriores? Fala-nos um pouco deste disco? AR: Muito diferente eu não diria. Eu acho que todos os discos são diferentes, todos os discos têm coisas novas, vamos sempre acrescentando elementos e direções de disco para disco, do primeiro para o segundo fizemo-lo, do segundo para o terceiro fizemo-lo também. Acho que vamos sempre tentando manter algum contacto e alguma linha de ligação com o passado, mas fomos sempre abrindo novos horizontes de disco para disco. E acho que este é apenas mais uma vez isso. Obviamente que há uma linha que tu compreendes de onde é que a banda vem e o que é que a banda é, mas por outro lado tens outras explorações e outras coisas novas, que nunca tinham sido feitas por nós, e que faz parte do nosso processo de continuamente procurar entusiasmo e novidade naquilo que fazemos. U@O: Porque escolheram "Dili" como primeiro single do álbum? Quando compuseram o tema pensaram logo que seria aquele que melhor apresentava o disco? AR: Não, não fazia ideia, aliás, quando o tema foi escrito, nem era um dos temas que eu achava que ia chegar ao disco. Quando nós começámos a fazer a seleção das canções que íamos gravar para o álbum, o "Dili" nem era das minhas escolhas principais. Mas toda a gente na banda gostava imenso da canção, toda a gente fez força para continuarmos a trabalhar nela e a fazer os arranjos, e foi assim que ela chegou ao álbum. E depois no álbum ficámos muito contentes com o resultado final, e foi por votação. Normalmente os singles, a escolha dos singles, é por votação. Nós passamos as músicas a alguns amigos nossos e às pessoas que trabalham connosco e acaba por ser a votação da maioria que decide. E no caso do "Dili" acho que era uma boa música de transição, conseguia, lá está, fazer aquela ligação com o passado e manter as coisas enquadradas relativamente ao passado, mas ao mesmo tempo dar-te um bocadinho de novidade, e penso que foi por isso que nós escolhemos essa canção. U@O: "Gipsy Eyes" é o vosso mais recente single. Apesar de seguir a linha do vosso trabalho podemos dizer que é também uma tentativa de explorar novos caminhos, com uma "pitada" de electrónica? AR: Faz parte dessas explorações que eu falava, que nós precisamos fazer para continuarmos interessados. Na altura nós tínhamos decidido que neste álbum era obrigatório mais uma vez explorarmos novos caminhos e encontrarmos novas soluções, novos arranjos, novas abordagens dos instrumentos, e a "Gipsy Eyes" é um resultado direto disso. É uma canção que se tu despires é praticamente uma balada muito simples com um picking meio country, mas quando acrescentas um “rithm effect” numa groovebox, em vez de ser feito numa bateria, parte noutra direção. E é esse tipo de coisas que nos interessam. U@O: Como funciona o processo de criação dos "Sean Riley & The Slowriders"? AR: Isso também foi uma das coisas que foi diferente neste ultimo álbum. Até este disco, normalmente o que acontecia sempre era: eu levava sempre todas as canções já escritas para o estúdio e depois fazíamos os arranjos juntos, cada um desenvolvia o seu instrumento, as suas partes etc., mas numa base já totalmente desenvolvida de letra e de melodia. Neste disco em concreto o que aconteceu foi que eu tinha também efetivamente um grupo de canções escrito, mas comecei por pedir, e também porque tínhamos estado afastados durante algum tempo musicalmente, e não estávamos a tocar juntos, e poderia haver o risco de não estarmos em sintonia relativamente aquilo que queríamos fazer, eu comecei por pedir a toda a gente que fizéssemos algumas jams, e explorássemos livremente os instrumentos e fizéssemos alguma música juntos antes de começarmos a abordar as canções que já estavam escritas. E assim foi, começámos precisamente por fazer música em conjunto, que era algo que nós nunca tínhamos feito no passado, e acabaram por resultar daí algumas canções que depois integraram o disco, como "Pearly Gates" ou "Dark Rooms", ou a "Intro: Flying Back" e a "Outro: S-Bahn", foram canções que surgiram precisamente desses momentos de improvisação e de todos estarmos a compor juntos música. Obviamente que as letras foram escritas à posteriori por mim. Mas a música, pela primeira vez fizemos música juntos. U@O: Quais as bandas ou artistas que vos servem de referência? AR: Isso é uma pergunta muito difícil, porque nós não só vamos a muita coisa como ouvimos muita coisa diferente durante o passar dos anos. Mas eu acho que, coisas que são comuns a todos e que toda a gente gosta e que perduraram sempre no universo da banda, talvez "Spiritualized", "The Velvet Underground", "Nick Cave", "Bob Dylan", coisas assim desse género. Se bem que nos últimos anos acho que, e particularmente até no ultimo álbum, nós não andávamos a ouvir propriamente coisas muito clássicas, andávamos muito mais a ouvir hip hop etc., mas que são coisas que depois acabam por não ter relação direta com o nosso trabalho e com aquilo que nós fazemos. U@O: De todos os vosso temas, existe algum que considerem especial? Que seja o vosso preferido? Porquê? AR: Não, isso é um bocadinho difícil, acho que os temas vão tendo momentos, e há temas que fazem mais sentido num momento, outros que fazem mais sentido noutro, mas para tu os gravares, para tu os escreveres, é porque todos eles em determinado momento tiveram a mesma importância para ti. Depois obviamente que as coisas vão rodando, há momentos em que há coisas que tu estás mais desperto e te interessam mais, e há outros momentos em que estás menos desperto e te interessam menos e que já passaram um bocadinho, e as coisas vão rodando. Mas também tem a sua piada porque depois vais alternando as setlists dos concertos, e há dadas alturas em que estás mais interessado numas músicas e outras alturas rodas essas músicas e trocas por outras que te estão a entusiasmar mais naquele momento. U@O: Quais são os planos dos "Sean Riley & The Slowriders" para o futuro? AR: Neste momento vamos passar este ano a tocar, temos uma data de concertos para fazer, temos muita coisa ainda em salas e em festivais para 2017. No final do ano vamos fazer alguns eventos ligados à celebração do décimo aniversário da saída do primeiro álbum, portanto, temos umas coisas ainda na manga para fazer no final do ano, e depois, honestamente não sei. Não temos neste momento um plano traçado, não temos neste momento uma decisão tomada, não sei se vai haver próximo disco, se não vai haver próximo disco, neste momento não estamos de todo focados nisso. Estamos a tentar fazer os concertos, estamos a tentar tocar a nossa música e o resto terá que aparecer naturalmente como sempre apareceu tudo nesta banda, nunca nada foi muito ponderado nem decidido. U@O: Cantar em português faz parte dos vossos planos? Porque escolheram desde o inicio o inglês para as vossas canções? AR: Não. Pode fazer parte da minha vida no futuro, que é algo que eu sempre tive vontade de fazer e que nunca fiz por não encontrar o timing certo, ou se calhar a vontade certa. Portanto, é algo que eu já ponderei durante muito tempo fazer, eventualmente um dia farei, mas se o fizer, acho eu, nunca se pode dizer nunca, mas à partida não me faz muito sentido estar a imaginar algo de "Sean Riley & The Slowriders" feito em português. Se eu decidir alguma vez cantar em português será certamente outro projeto, mesmo que seja com as mesmas pessoas, mas será certamente outro projeto. A escolha do inglês foi uma escolha natural. Tu és influenciado, lá está, falávamos há pouco das influências, e normalmente tu falas a língua que os teus pais falam. Se os teus pais te ensinam português em casa, é português que vais falar, se te ensinarem coreano, é isso que tu vais falar, mesmo que tenhas nascido no Alentejo. E no meu caso eu ouvia muita música cantada em inglês, as minhas principais influências a nível de compositores naquela altura eram todas inglesas, apesar de eu ouvir muita música portuguesa e brasileira em casa, principalmente pelo meu pai, mas naquela altura em que eu comecei a escrever, as minhas grandes influências cantavam inglês e portanto acho que foi um bocado por aí. U@O: Qual a vossa opinião sobre a música que atualmente se faz em Portugal? AR: Eu tenho imensas coisas que eu adoro, portanto eu acho que a música portuguesa neste momento está super forte, tem tido anos muito bons, tens cada vez mais projetos interessantes. Eu pessoalmente acompanho a música há bastante tempo e já estive ligado à música de todas as formas, desde Dj, a radialista, a produtor, a tudo e mais alguma coisa, e vão sempre existindo coisas boas, é um facto. Mas acho que neste momento temos gerações muitos jovens, muito descomplexadas, a fazer coisas muito interessantes, principalmente cantadas em português, que é uma coisa que eu durante algum tempo não me relacionava muito com a música feita ou cantada em português, principalmente dos anos 90 até há cinco ou seis anos atrás, mas neste momento acho que temos coisas de qualidade excelente e estou super contente com aquilo que se faz musicalmente em Portugal. U@O: Alguma banda ou artista nacional que destaques? AR: Há tanta coisa boa, eu gosto muito de "Lamb" (The Soaked Lamb), temos, "Fachada" (B Fachada) é óptimo, os "Capitão Fausto" são ótimos, os "Galgo" são ótimos, os "Gala Drop" são das minhas bandas preferidas, tens "Linda Martini", "Lengendary Tigerman", que não canta em português mas é uma das coisas que em Portugal mais exposição tem dentro do segmento que toca, sei lá, tens os "Dead Combo", tens milhares de bandas a fazer coisas super válidas e super interessantes neste momento. U@O: Deixem um convite aos leitores do Urbi et Orbi para assistirem ao concerto dos "Sean Riley & The Slowriders", no dia 05 de Fevereiro, no Cine-Teatro Avenida em Castelo Branco. AR: Acho que vai ser uma boa oportunidade para passar uma bela tarde de domingo. Não sei se vocês têm o hábito das matinés ou não, neste caso o concerto vai ser às seis da tarde, portanto vai ser assim algo um bocadinho diferente, mas quando entramos num teatro e as luzes apagam, as coisas funcionam seja a que horas for, e eu acho que vai ser uma tarde muito bem passada, e gostaria que quem quisesse se juntasse a nós e que passasse por essa experiência connosco. |
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