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UBI recebeu a mais jovem realizadora a conquistar um Urso de Ouro
Carla Sousa · quarta, 21 de dezembro de 2016 · A realizadora Leonor Teles, esteve na Universidade da Beira Interior (UBI), no passado dia 14 de dezembro, para falar da sua curta-metragem “Balada de um Batráquio”, que a levou a alcançar o Urso de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Berlim. A sessão inseriu-se no âmbito do projeto “Fronteiras”, que tem como principal objetivo combater a discriminação das pessoas de etnia cigana. |
Leonor Teles esteve na UBI no passado dia 14 de dezembro |
22004 visitas Foi em fevereiro deste ano que Leonor Teles, que tinha naquela altura 23 anos, viria a passar do anonimato para as luzes da ribalta no momento em que se tornou a mais jovem realizadora a receber um Urso de Ouro. O motivo foi a curta-metragem que desenvolveu e que aborda o costume, que existe em Portugal, de se colocar sapos de louça à entrada dos estabelecimentos comerciais para afastar os indivíduos de etnia cigana. Com ascendência cigana, por parte do progenitor paterno, a jovem cineasta inspirou-se nas suas raízes para dar corpo à curta-metragem, que alerta para a xenofobia que ainda existe contra os ciganos. “O meu pai era cigano e toda a família dele pertenciam à comunidade cigana e acho que foi um bocadinho por causa disso que nos meus primeiros filmes comecei a explorar esse lado que está mais perto de mim, que pertence mais às minhas origens”, revela. Já antes desta curta-metragem, Leonor Teles havia produzido um documentário, designado de “Rhoma Acans”, que questiona o peso da tradição cigana. Porém, quando questionada sobre se tem vontade de continuar a explorar as questões relacionadas com a comunidade cigana, Leonor Teles assume, que neste momento, é tempo de dar relevância a outros assuntos.“Não sinto necessidade de continuar a mostrar esse meu traço da identidade cigana. Neste momento, não sinto que tenha mais nada a dizer sobre esse tema, se o fizesse era estar-me a limitar um bocadinho. No entanto, não quer dizer que daqui a uns anos não tenha algo a dizer sobre o assunto”, confessa. A jovem realizadora, falou ainda de como foi receber a notícia que tinha ganho o Urso de Ouro para Melhor Curta-Metragem. “Foi muito inesperado, porque eu estava em Berlim mas não fazia a mínima ideia que ia acontecer e quando aconteceu fiquei surpreendida, foi incrível. Já aconteceu quase há um ano, mas continuo sem ter palavras para descrever as emoções que senti naquele momento”, refere. Um financiamento do Instituto do Cinema e do Audiovisual para a realização de um novo filme e a estreia comercial da curta-metragem, algo que “é raro em Cinema”, são as consequências positivas que Leonor Teles atribui ao galardão que recebeu. Quanto à receção da curta-metragem por parte do público, reconhece que “tem sido muito boa, as pessoas têm gostado muito do filme e acho que isso também é importante, não só por causa do tema em si, este preconceito todo contra os ciganos, mas também pelo facto de ser uma curta metragem e não existir um mercado para as curtas”. Além disso, a cineasta aproveitou para deixar uma mensagem aos alunos de Cinema. “É preciso ter muita força e muita vontade, os filmes são muito sofridos e sangrados, tentar que ao longo do processo não se perca esse querer e essa vontade porque é claro que há momentos em que uma pessoa devido à exaustão só lhe apetece desistir”, aconselha.
Projeto "Fronteiras" combate estereótipos associados à comunidade cigana A visita de Leonor Teles à academia covilhanense aconteceu devido ao projeto “Fronteiras”, promovido em parceria pela CooLabora, UBI, Junta de Freguesia do Tortosendo e a comunidade cigana daquela vila, que possui como principal missão combater a discriminação das pessoas de etnia cigana. Na sessão pública intitulada “Abrir Fronteiras- Etnicidade Cigana em Portugal”, que decorreu na UBI, a coordenadora do projeto explica que aquilo que se pretendeu fazer foi “combater os estereótipos que estão associados aos ciganos, assim sendo nós resolvemos, com a comunidade cigana do Tortosendo, fazer um filme em que elas dão testemunhos das suas vidas, do que pensam e de coisas que lhes acontecem e ao mesmo tempo também fizemos uma exposição de fotografias com os meninos e meninas do Tortosendo sobre os seus sonhos”. Rosa Carreira acredita que estas ferramentas podem possibilitar um maior conhecimento sobre aquilo que verdadeiramente é a comunidade cigana, contribuindo assim para acabar com estereótipos que ainda hoje persistem.“Nós achámos que ao conhecerem as pessoas ciganas e as suas histórias no pequeno filme se pode criar empatia, perceber que são seres humanos que também têm problemas, alegrias e tristezas, que no fim de contas são tão diferentes de nós porque têm determinada cultura, mas também são tão iguais a nós como seres humanos”, salienta. Por sua vez, o líder religioso da comunidade cigana do Tortosendo congratula-se com o resultado que o projeto está a alcançar junto da população com a qual intervém. “Queremos que este projeto continue a ir para a frente porque está a fazer muito bem à comunidade cigana”, destaca. Mário Raposo acrescenta ainda que “não se pode falar de algo que nós nunca vivemos ou conhecemos porque há muita gente que fala do cigano muitas coisas más, mas nunca teve uma amizade com o cigano e nunca o conheceu”. A exposição fotográfica “Revelação” também esteve em exibição na UBI. Esta é uma mostra daqueles que são os sonhos das crianças ciganas do Tortosendo. Sónia Sá foi uma das voluntárias que trabalhou para que esta exposição se tornasse uma realidade. Na hora de dar o seu testemunho, confessa que este projeto a “transformou porque conheci pessoas absolutamente extraordinárias”. “O que eu quis fazer foi conhecer melhor, eu quis conhecer ciganas e ciganos, entrar um pouco mais na cultura deles e delas e perceber que afinal nós não somos assim tão diferentes, há muito mais coisas que nos unem do que aquilo que nos separa”, acrescenta uma das responsáveis pela elaboração da exposição. Um projeto que promete continuar a trilhar caminhos de integração da comunidade cigana do Tortosendo. No mesmo dia, mas durante a parte da manhã, a Biblioteca Municipal da Covilhã também acolheu a sessão pública no âmbito do programa “Fronteiras”. |
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