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Obra "A Lã e a Neve" relembrada pela Biblioteca da UBI
Carla Sousa · quarta, 26 de outubro de 2016 · A Biblioteca da Universidade da Beira Interior (UBI) promoveu um colóquio que refletiu sobre a obra “A Lã e a Neve”, de Ferreira de Castro, numa altura em que se assinalam 70 anos de publicação deste livro. Na iniciativa, que decorreu no passado dia 18 de outubro, várias individualidades analisaram esta obra sob diferentes perspetivas e houve ainda espaço para se lançarem ou renovarem alguns reptos, tais como a criação do Roteiro a Lã e a Neve e do Museu do Operário. |
Sessão de abertura do colóquio |
21985 visitas O diretor da Biblioteca da Universidade da Beira Interior, José Rosa, destaca que a obra a Lã e a Neve “é importante para as muitas psicografias que podem ser feitas da cidade da Covilhã”. José Rosa acrescenta ainda que a iniciativa é dedicada à “memória de muitos operários que por aqui passaram e que pensaram um mundo de paz, de fraternidade, conhecimento e liberdade”. Em representação do reitor da Universidade da Beira Interior, António Fidalgo, marcou presença na sessão de abertura o presidente da Faculdade de Artes e Letras (FAL). Para Paulo Serra a relevância de um escritor como Ferreira de Castro reside no facto de descrever o quotidiano de uma classe social, por vezes menosprezada. “Aquilo que eu acho interessante no Ferreira de Castro é que ele retrata e recria a vida, mas não a vida em geral, ele retrata e recria a vida de uma parte da população portuguesa que geralmente era, e eu diria é esquecida”, afirma. Uma ideia que é também partilhada pelo presidente da Câmara Municipal da Covilhã. Vítor Pereira salienta que a “Lã e a Neve” “retrata as transformações dialéticas da nossa sociedade, com a expressiva luta de classes na sua plenitude. O Ferreira de Castro escolheu a Covilhã para se abalançar a esta grande obra porque a Covilhã e a Serra da Estrela eram um autêntico laboratório social, económico, político e cultural”. O antigo secretário-geral da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, o coordenador da União dos Sindicatos do distrito de Castelo Branco, Luís Garra e o diretor do Museu Ferreira de Castro, Ricardo António Alves foram alguns dos oradores convidados, que abordaram a obra “A Lã e a Neve” sob diversas dimensões. Através desta publicação, Manuel Carvalho da Silva admite que adquiriu vários ensinamentos que guarda para toda a vida. “Ferreira de Castro alerta-nos para a necessidade de sermos persistentes, pois as mudanças não são à velocidade que nos vendem todos os dias. Neste aspeto, beneficiei das condições que ele me trouxe, do acreditar que é possível construir”, afiança. Por sua vez, Luís Garra considera que “A Lã e a Neve está atual e Ferreira de Castro na sua obra impele-nos a agir contra a corrente e transporta-nos para um passado recente, de que ainda não estamos libertos”. Já Ricardo António Alves sublinha que a obra em análise “será porventura o livro mais perfeito de Ferreira de Castro na sua realização, no qual tudo surge como um grande fresco, ou uma tapeçaria em que não se detetam os vínculos e as costuras da sua realização”. Os escritores João Morgado e Manuel da Silva Ramos e os docentes da UBI Francisco Paiva, Cristina Vieira e Gabriel Magalhães foram outros dos participantes no evento, que incluiu também a projeção de dois filmes. O “Colóquio a Lã e a Neve” esteve integrado nas diversas celebrações comemorativas do Dia da Cidade, que se celebrou a 20 de outubro. Desafios lançados para a criação do Roteiro a Lã e a Neve e do Museu do Operário A chefe de divisão da Biblioteca da Universidade da Beira Interior, Sandra Pinto, aproveitou a iniciativa para, durante a sessão de abertura, lançar o primeiro desafio da manhã às entidades presentes, o desenvolvimento do Roteiro a Lã e a Neve. “Poderia ser muito interessante pensarmos num Roteiro a Lã e a Neve. A Biblioteca da UBI está inserida no grupo de Bibliotecas da Comunidade Intermunicipal da Beira e Serra da Estrela e seria muito interessante pensarmos num roteiro da cidade da Lã e da Neve, tentarmos ver os sítios, as ruas, fazer um Roteiro de Manteigas até à Covilhã”, conta. Um exemplo de futura atividade que é também acarinhada pelo diretor da Biblioteca da UBI.“Penso que seria de integrar o roteiro de Ferreira de Castro justamente num roteiro mais alargado, que introduzisse a presença na serra e na cidade de outras figuras de grandes intelectuais que fizeram da serra ou da Covilhã lugares de estadia, onde pensaram muitas coisas e portanto eu acho que faz todo o sentido pensar no Roteiro da Lã e da Neve”, frisa. O segundo apelo veio do presidente da FAL, que defendeu a criação de um Museu da Cultura Operária.“Deixo aqui um desafio, que já há muitos anos anda na mente de muita gente, e que é a criação do Museu do Operário, da Cultura Operária, que permita conservar e tornar vivas essas tradições que existem enquanto existirem as pessoas”, sustenta. Em declarações aos órgãos de comunicação social, o presidente da Câmara Municipal da Covilhã garante que a edificação do referido museu “é uma velha aspiração quer do Sindicato Têxtil, quer da própria Câmara Municipal da Covilhã. É verdade que temos essa vontade férrea e firme, contudo estamos à espera de melhores dias para podermos dar-lhe corpo. Logo que possamos esse é um desígnio e é fazer-se justiça à história da nossa cidade”. Sobre o Roteiro da Lã e da Neve, Vítor Pereira não fecha as portas a uma possível colaboração com a Biblioteca da UBI. “As rotas são uma realização permanente da Câmara Municipal da Covilhã, aliás no âmbito do Pacto Territorial da Comunidade das Beiras e da Serra da Estrela existem verbas, mas é mais na perspetiva da valorização do património natural. Porém, nada impede que não o possamos tratar ou abordar também nessa ótica, ou seja juntar a perspetiva natural e cultural”, assegura. |
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