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Um olhar sobre a democracia a partir dos media
Poliana Simões · quarta, 19 de outubro de 2016 · UBI As "Crises da Democracia e os Media" estiveram em debate na Universidade da Beira Interior no passado dia 17 de Outubro. José Rebelo e João Almeida Santos marcaram o primeiro painel da conferência. |
Início do primeiro painel da conferência “Crises da Democracia e Media” com a intervenção inicial de José Rebelo. |
21968 visitas "Dizer uma coisa hoje e dizer amanhã o seu contrário, eis o que não perturba o político envolvido num combate". Foi esta uma das afirmações que José Rebelo utilizou para apresentar o tema "Do debate ao combate: A mediatização da política". O docente e investigador refletiu sobre o facto de o debate político, através dos media televisivos, ter sofrido uma série de alterações, tornando-se cada vez mais um "combate" com argumentos para desqualificar, "esmagar" o adversário. Para José Rebelo nesta política cada vez mais influenciada pelos media o que é importante é ganhar custe o que custar. Recorrendo a vários exemplos para enfatizar a sua ideia, José Rebelo analisou uma série de debates ao longo da história, bem como a postura e a linguagem dos participantes. Com um olhar voltado para atualidade o orador deu o exemplo de Donald John Trump. Um candidato com um discurso simples, "com uma linguagem rústica, que aposta em frases choque, daquelas que suscitam aplausos imediatos". Para além do discurso o investigador também fez uma análise da sua postura corporal, descrevendo-o como "fisicamente imperturbável. Daí talvez a sua facilidade em mentir, daí talvez a sua facilidade em se contradizer", afirma. "Não basta que eu seja vencedor, é preciso que cada um dos outros sejam derrotados", José Rebelo citou Trump para realçar a expressão máxima do combate, em que destruir e afetar o outro torna-se mais importante do que discussão e a refutação de ideias. O orador fez ainda referência ao debate que decorreu no passado dia 09 nos EUA, marcado pela ameaça que Trump fez quanto a uma possível prisão de Hillary Clinton após as eleições. Para José Rebelo foram ultrapassados "todos os limites admissíveis num regime democrático". Hillary Clinton também não ficou de fora da sua análise. Apesar de conseguir ser mais subtil que Trump, a sua postura e discurso extremamente calculados tem como objetivo ridicularizá-lo, para "evidenciar o ridículo de tudo o que ele diz e sobretudo para o provocar até ele explodir" destaca José Rebelo. O docente acrescenta que a candidata não considera Trump como estando ao mesmo nível, defende por isso que Hillary à sua maneira combate o seu adversário, não através do discurso mas sim das suas fraquezas. Na sequência da conferência, João Almeida Santos chamou a atenção para um conjunto de alterações que se deram na vida política e social a partir daquilo que designa como a "revolução da internet, num contexto em que os meios de comunicação social migraram para a rede", rede esta que está para além dos media, defende. Segundo este orador a politica atual possui uma dependência relativamente à rede, sendo que esta dependência ainda não foi percebida pelos partidos tradicionais, que a entendem "como apenas mais um meio de comunicação ao seu dispor". João Almeida defende que a rede segue uma lógica diferente dos media convencionais, "das redações para milhões". A rede por sua vez funciona de acordo com o princípio de "muitos para muitos, de milhões para milhões e não de um para milhões", introduzindo assim uma lógica a que ele designa de poder diluído. O cidadão deixou de ser apenas o telespectador, o ouvinte, o leitor para ser "produtor e consumidor quer no plano da comunicação quer no plano político", realça. Depois da apresentação dos dois oradores gerou-se um debate em torno da questão dos media ou da "rede" defendida por João Almeida. José Rebelo, de certa forma tentou refutar a tese de João Almeida, referindo que o aparecimento da internet não fez com que os outros meios de comunicação desaparecessem, ou se unificassem só na rede. A conferência prosseguiu com um novo painel de oradores. Carlos Jalali e Paula do Espírito Santo falaram também sobre a crise da democracia, ainda que sob perspectivas diferentes. O docente da Universidade de Aveiro apresentou um estudo sobre as eleições europeias analisando a sua cobertura mediática por comparação com as campanhas partidárias. Já a docente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) falou sobre alguns dos conceitos tradicionais ligados às teorias democráticas realçando a pertinência de continuarem a ser discutidos atualmente. |
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