"Só é grande uma universidade onde muito se estuda, onde todos estudam, a todo o tempo, e em que tudo, aulas, laboratórios e bibliotecas, centros e serviços, sirvam o propósito do estudo". O reitor da Universidade da Beira Interior fez a abertura solene do ano letivo 2016/2017 sob a tónica da exigência académica. António Fidalgo foi o anfitrião da cerimónia de segunda-feira, 10 de outubro, onde foram atribuídos os doutoramentos honoris causa a Elisa Pinheiro, Ryszard Kowalczyk e António Salvado. De resto, a abertura do ano académico marcou o encerramento de uma série de eventos que desde janeiro serviram para celebrar os 30 anos da UBI.

O responsável máximo da instituição lembrou o "percurso de esforço e de perseverança, na superação de obstáculos e na obtenção de sucessos, que nos conduziram ao que somos hoje: uma universidade segura de si e respeitada pelos outros". No discurso que proferiu no Grande Auditório da Faculdade de Ciências da Saúde, António Fidalgo não esqueceu a recente inclusão da UBI na lista das melhores universidades da Time Higher Education, motivo de "orgulho" para a instituição. Até porque, lembrou, "esta lista apenas compreende cerca de cinco por cento das universidades existentes mundo fora. Obviamente que não trabalhamos para rankings ou métricas, mas gostamos de ver o nosso trabalho reconhecido por instituições idóneas", sublinhou.

"O que temos feito, fazemos e continuaremos a fazer na UBI é ensinar e fazer ciência como cultura de exigência. É o que sabemos fazer, que gostamos de fazer, e que temos consciência de fazer bem, destacou o reitor. Realçando a importância da ciência e do conhecimento científico no âmbito académico, António Fidalgo lançou o futuro da instituição, lembrando que “é este ambiente de trabalho, de paixão, de partilha entre docentes, discentes e funcionários que queremos intensificar e, assim, fazermos uma UBI ainda mais viva e vibrante". 

O reitor dedicou ainda uma boa parte do seu discurso à atribuição do doutoramento honoris causa a Elisa Pinheiro, António Salvado e Ryszard Kowalczyk, "personalidades que, pela obra realizada nos respetivos âmbitos e pelo contributo para engrandecer o nome da Universidade da Beira Interior e da região, merecem, com toda a justiça, receber a maior homenagem da instituição". 

Licenciada em História, Elisa Pinheiro foi docente na UBI durante 24 anos e foi a grande responsável pela criação do Museu dos Lanifícios, que dirigiu até 2011. José Amado Mendes foi o responsável pelo elogio da atual provedora do munícipe da Covilhã, a quem chamou de "verdadeira guardiã e dinamizadora do riquíssimo património industrial da Covilhã".

António Salvado, "figura cimeira da cultura e poesia portuguesa", considerou o reitor da UBI, é natural de Castelo Branco e licenciado em filologia românica. Aos 15 anos publicou "Poemas de Alma", o primeiro de mais de uma centena de títulos publicados. "Um poeta a viver o coração e no coração da Beira", lembrou no elogio o padrinho António dos Santos Pereira. "Receber uma distinção como um doutoramento honoris causa é como ganhar outra personalidade, renascer", confessou o homenageado.

Ryszard Kowalczyk, professor durante 19 anos na UBI, chegou a ser diretor do curso e do departamento de Engenharia Civil, foi outro dos agraciados com o doutoramento honoris causa. António Fidalgo sublinhou que se trata de "um dos mais empenhados professores da comunidade de professores polacos da UBI". O professor polaco especializou-se em edifícios altos, "de onde se vê longe e se arranham os céus", como destacou o autor do elogio, João António Fonseca.

A cerimónia contou ainda com a intervenção da presidente da Associação Académica da UBI. Comparando a Universidade a um hospital de campanha, que "deve sempre ser notado", Francisca Castelo Branco destacou a posição da UBI na lista das melhores instituições de Ensino Superior do mundo. Aludindo aos honoris causa homenageados, a dirigente estudantil falou nos seus exemplos para uma mudança de paradigma, para que a sociedade possa "criar jovens que não vejam o futuro como possibilidade de serem máquinas de fazer dinheiro, mas que apostem em si, que pensem em ser realmente bons a fazer alguma coisa", sublinhou. "É esta ambição saudável de querer ser bom, de querer ser o melhor, não ter uma atitude contemplativa perante a vida, ao ficar sentado à espera que os resultados caiam do céu", reforçou Francisca Castelo Branco.

Mais alunos para o Ensino Superior

Presente na cerimónia esteve ainda a Secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Maria Fernanda Rollo defendeu que é necessário aumentar o número de alunos que entram no Ensino Superior em Portugal. "Temos todos que trabalhar muito nisto. Precisamos de mobilizar-nos, todos nós, nesta campanha de que estudar mais é preciso", afirmou.

A governante recordou que as instituições de Ensino Superior portuguesas acolhem apenas um em cada três jovens com idade para ingressar na academia.

"Este é um número que no mínimo nos deve preocupar a todos", afirmou, sublinhando que "não é possível encarar tranquilamente o futuro", considerando "níveis ainda tão frágeis de formação".

Para alterar esta tendência, Maria Fernanda Rollo considera que tem de se fazer um trabalho conjunto", sublinhando essencial esta mudança de paradigma tendo em vista a afirmação do próprio país no contexto internacional.

"Temos bem consciência de que essa formação é necessária em termos de realização pessoal e para construirmos um país com mais justiça, mais equidade e mais bem-estar para todos nós", lembrou.