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"No dia das matrículas, já não regressei a casa com os meus pais"
Rafael Mangana · quarta, 28 de setembro de 2016 · @@y8Xxv Natural de Guimarães, a Covilhã não era a sua primeira opção. No entanto, no dia em que se matriculou, os pais tiveram mesmo de regressar sozinhos a Guimarães. Começava a ligação de Miguel Amaral Nunes à UBI. Uns anos mais tarde, em 2010, licenciava- se em Medicina. Atualmente é médico em Lisboa, carreira que concilia com outros projetos na área da Saúde. |
Miguel Amaral Nunes |
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Urbi et Orbi: Porquê Medicina e porquê na Covilhã? Miguel Amaral Nunes: Medicina porque eu desde miúdo que me lembro de querer ser médico, além daquele sonho que todos os miúdos têm de ser futebolista, mas desde miúdo que me lembro de sempre querer Medicina e pronto, acabou por ser uma escolha natural. O local, a Covilhã, não era obviamente a primeira opção, uma vez que eu sou de Guimarães, portanto ficava muito deslocado, mas acabava por ficar deslocado em qualquer faculdade, e acabou por ser uma das opções, não foi a última opção, mas também não foi a primeira. Mas revelou-se uma ótima opção.
U@O: Contas feitas, valeu a pena? MAN: Valeu muito a pena. Para ter uma ideia, adaptei-me tão bem à Covilhã que no dia em que ia fazer a matrícula, que ia só para fazer a matrícula, já nem voltei, fiquei logo lá. Conheci uns colegas e acabei por ficar logo lá nesse dia, já nem voltei com os meus pais. Isto acaba por espelhar a forma como eu me senti mesmo bem na Covilhã.
U@O: Podemos, então, dizer que a Covilhã tem uma atmosfera especial? MAN: Sim, sem dúvida. Eu acho que o ambiente estudantil na Covilhã é perfeito, porque as pessoas conhecem-se todas, acabamos por ter amigos não só do próprio curso mas por conhecer pessoas de todos os cursos. É uma cidade que para os estudantes é apetecível financeiramente e a maioria das casas são recentes, pelo menos, perto da faculdade que frequentei. Em termos de locomoção, a cidade é pequena o suficiente para se conseguir andar a pé sem problemas, portanto acho que nesse aspeto a Covilhã é uma cidade muito interessante para um estudante que queira seguir Medicina, ou qualquer outro curso.
U@O: O que tem feito, a nível profissional, desde que saiu da UBI? MAN: Terminei o curso em 2010, o meu primeiro ano de trabalho é no Centro Hospitalar do Médio Ave, entre Vila Nova de Famalicão e Santo Tirso, e foi durante esse ano, que é o ano comum, que formei uma empresa em conjunto com o meu sócio. A ideia já tinha vindo de trás, dos anos de faculdade, em que sentimos que apesar da excelente componente teórica da nossa formação, a formação prática tinha algumas lacunas, nomeadamente na área da sutura. Então formámos a empresa para comercializar o kit que eu e ele desenvolvemos. Mais tarde, acabei por vir fazer a especialidade de Estomatologia para Lisboa, que concluí agora em 2016. Sou neste momento assistente hospitalar no Centro Hospitalar Lisboa Norte e desde janeiro que sou Medical Officer, num projeto internacional da Universidade Católica chamado Patient Innovation, onde dou consultoria na área médica. É um projeto no qual nós acreditamos que qualquer doente ou cuidador é um potencial inovador na área da saúde, é um projeto em conjunto com a Universidade Católica. Trata-se de uma plataforma que permite que os cuidadores ou os doentes partilhem as inovações que eles próprios desenvolveram para os ajudar a lidar com a doença no dia-a-dia. Imagine que é um doente que é amputado e que vive em África e não tem acesso a uma bengala e que inventa uma maneira de construir uma mais barata. Isto permite que possa partilhar esta solução com outras pessoas a quem isto possa dar jeito. Outro exemplo é o de uma mão que foi feita com recurso a uma impressora 3D e que permitiu a um doente sem uma mão voltar a pegar em objetos. Temos mais de 600 soluções já partilhadas a nível mundial. U@O: E como é que está o projeto do kit? MAN: Eu e outro colega de curso, o David Ângelo, participámos no programa Shark Tank em Janeiro de 2015 e desde então temos um novo sócio, que é o Miguel Ribeiro Ferreira. Nós participámos porque precisávamos de um estratega dentro da empresa, alguém com mais formação e maior experiência a nível de negócios e com mais contactos, e foi isso que nos permitiu dar o salto, não tanto a parte financeira mas mais a parte de background e apoio. Neste momento, já temos a segunda versão no kit no mercado, temos uma nova loja online, fizemos parcerias com o banco Santander, por exemplo, que é uma parceria ótima para nós, para todos os estudantes universitários. E estamos a expandir-nos internacionalmente, já estamos a vender em dois países, no Reino Unido e na Espanha, e até ao final do ano estamos a contar vender em pelo menos toda a Europa e até ao final do ano 2018, se correr tudo bem, a nível mundial.
U@O: Para quem não sabe, trata-se de um kit para um estudante praticar a sutura, correto? MAN: Exatamente. Nós comercializamos quase todos os artigos que um estudante da área da Saúde, ou mesmo um médico possa necessitar, mas o nosso foco é o produto que nós próprios criámos que é o kit de cirurgia. Isto levou-nos também a criar uns workshops de pequena cirurgia, que nós fazemos em diferentes cidades. Até temos um planeado agora no dia 12 de novembro para a Covilhã. Recentemente, também fizemos uma parceria com a Sociedade Portuguesa de Cirurgia, que apoia os nossos cursos e recomenda os nossos cursos dando o seu patrocínio cientifico, o que também foi um bom empurrão.
U@O: Estamos a falar de um produto patenteado? MAN: Fomos nós que criámos mas não está patenteado. A questão da patente é complicada, porque como já tinha sido apresentada, já estava comercializada. Uma patente tem que ser algo que traga inovação e que não seja do conhecimento público, a partir do momento em que é comercializado já não pode ser patenteado. Mas também não sentimos grande necessidade de patentear, porque facilmente se alterava qualquer coisa e podia-se construir na mesma e o processo de patentear um artigo, tanto em Portugal como a nível internacional, é complicado, demorado e caro.
U@O: Este projeto também lhe abriu portas? MAN: Sim, podemos dizer que sim. A Blocomed é uma empresa que ainda está a crescer, permitiu-me entrar um pouco no mundo do empreendedorismo, que é um mundo que eu gosto bastante, tenho feito algumas palestras através desse conceito, falar um pouco do que é ser empreendedor e da minha experiência. Além disso, foi o facto de estar envolvido nesta área de empreendedorismo e Saúde que me abriu, por exemplo, as portas do outro projeto, o Patient Innovation.
U@O: Portanto, podemos dizer que ser-se empreendedor também ajuda a vingar neste mercado cada vez mais competitivo? MAN: Exatamente. Com a realidade que os jovens médicos vão encontrar quando acabarem o curso, especialmente aqueles que estão agora a iniciar o Mestrado, vai ser uma realidade diferente, de competição muito grande, provavelmente com desemprego, e em que eles terão que procurar uma alternativa. E a verdade é que essas alternativas existem, embora quando entramos em Medicina a nossa ideia seja ver e tratar doentes, um médico pode fazer mais coisas para além disso. Pode dar assessoria a empresas multinacionais na área da farmacêutica, pode fazer os seus próprios projetos, acaba por poder fazer bastantes coisas. Obviamente que é necessário ter espírito empreendedor e além de querer fazer, efetivamente fazer, dar o passo e concretizar. Por outro lado, e em jeito de conselho aos atuais alunos de Medicina da UBI, acho que, acima de tudo, não devem ter medo de errar. O erro faz parte da aprendizagem e se não desistirem é apenas mais um passo rumo ao sucesso. O rumo ao sucesso faz-se de erros, portanto, desde que não desistam, estão no bom caminho.
Perfil: Nome: Miguel Amaral Nunes Naturalidade: Guimarães Curso: Medicina Ano de Entrada na UBI: 2003 Livro preferido: "Biografia de Elon Musk" Filme preferido: "One Flew Over the Cuckoo's Nest" Hobbies: Música, jogar futebol |
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