Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Os "donos" do comércio são os estudantes
Mónica Simão e Sílvia Macedo · quarta, 24 de agosto de 2016 · @@y8Xxv Ao longo dos 30 anos da Universidade da Beira Interior, a Covilhã e a região sofreram transformações comerciais e empresariais. Estudantes de vários pontos do país foram chegando à cidade e trouxeram uma nova realidade e novos consumos. Assim como novos idiomas. |
Comércio tradicional da Covilhã acaba por se ressentir em agosto com a ausência dos estudantes |
21989 visitas “How much?”: a pergunta é feita por um rapaz alto e loiro, cabelo apanhado. O sotaque denuncia uma nacionalidade longínqua e de leste. O visitante inesperado experimenta um dos vários óculos expostos, pendurados num cabide. Todos eles remetem para a geração hippie. Os que escolheu são redondos e espelhados, estilo anos 70. A dona da loja, Helena Gomes, já parece estar habituada a este cenário. O estabelecimento “Verdes Anos” ainda só existe há quatro anos na Covilhã, mas tem conquistado a atenção de quem passa pela rua Comendador Campos Melo. Mais conhecida como “Rua Direita” pelos estudantes da UBI. O interior da loja cheira a velas aromáticas, sabão e perfumes, mas é o aroma da história de cada artigo que acompanha quem visita o local. Há bonecas chinesas de porcelana, vestidos às bolinhas, botões e espelhos de bolso, sabonetes de azeite e azulino. Isso e muito mais, no primeiro piso. No segundo há livros e discos de vinil. Helena Gomes recorda que a inspiração que a levou a criar uma loja de conceito vintage deve-se às viagens ao estrangeiro, que fazia durante o verão. “Nos outros países da Europa há imensas lojas destas e eu achei que era um conceito interessante. Decidi fazer na Covilhã porque não havia nada do género”. Um conceito que, na opinião da comerciante, não vingaria sem a ajuda dos estudantes. “Os alunos do curso de Design de Moda e de Cinema muitas vezes compram as coisas para reutilizarem e renovarem”, explica. Mas não são os únicos. Os alunos de Erasmus são caras conhecidas no local. “Há muitos estudantes do Brasil que não têm roupa de inverno e então vêm cá comprar, depois quando se vão embora deixam ficar, afinal lá não é preciso. O mesmo se verifica com os artigos de casa. Eles compram e depois deixam cá, por causa do peso das bagagens no avião”, revela a vendedora. Há 30 anos atrás talvez fosse difícil encontrar este tipo de comércio. Porém, com o surgimento da Universidade da Beira Interior uma nova realidade tomou conta da região. Quem o diz é Miguel Bernardo, presidente da comissão executiva da Associação Empresarial da Covilhã Belmonte e Penamacor (AECBP): “com o aparecimento da universidade encaixamos mais de 30% da população residente aqui no circuito, e isso traz maiores consumos, novos consumos, novas realidades”. Porém o presidente da AECBP alerta para o facto de “os modelos de negócio precisarem de ser ajustados”. Confessa ainda que o que falta é mais relação entre a universidade e a cidade. “Os estudantes não mudam de cidade. Vêm às segundas-feiras e voltam para casa às quintas”. Miguel Bernardo não esconde o ar de preocupação quando defende que se aposte na fixação dos estudantes na Covilhã. Com uma diferente perspetiva, acerca da relação entre a universidade e a cidade, José Pires Manso, professor do departamento de economia da UBI, afirma que “a criação da universidade refletiu-se em praticamente todos os setores”, e sustenta que sem a UBI seria difícil o aparecimento de centros comerciais e hipermercados. “Os centros comerciais e as grandes superfícies que aqui se instalaram dificilmente se instalariam por cá se não fosse essa imensidão de jovens que habitam na cidade e na região”, garante. O professor relembra ainda que “o impacto da universidade também se deve medir não só na cidade, mas também a todo o distrito da Guarda e de Castelo Branco. Não devemos pensar que a Covilhã é uma ilha e que a influência da universidade se reflete apenas aqui”. Exemplo disso é a criação do Data Center da PT e do Parkurbis na Covilhã. Bem como da Altran no Fundão e dos call centers em vários pontos da Beira Interior. Outro equipamento comercial que teria poucas probabilidades de existir sem a universidade é, segundo Pires Manso, o McDonalds. Este franchising foi inaugurado em novembro de 1996 na cidade da Covilhã e ao longo destes anos tem empregado um grande número de estudantes, universitários ou não, que procuram “rendimento fácil”. A maioria trabalha em part-time, conciliando os estudos com o trabalho. Roberto Minhoto, estudante de Engenharia informática na UBI, natural de Fátima, foi um desses casos. Depois de uma longa procura, sem sucesso, por emprego na sua área de estudo, decidiu tentar a sua sorte no McDonald’s. O ex-trabalhador da cadeia de fast food revela que o que o levou a trabalhar lá foi o “rendimento fácil e a facilidade de consolidar os horários das aulas com um trabalho em part-time”. Apesar de já não trabalhar na grande superfície, relembra o ambiente juvenil que se vivia por detrás do balcão, não fosse a maioria dos funcionários jovens entre os 20 e os 30 anos. A mesma opinião parece ser partilhada pelo covilhanense Rui Gigante, de 21 anos, atual trabalhador no local. Às 17 horas tem de ir picar o ponto, mas enquanto a hora não chega conta-nos algumas curiosidades do sítio onde trabalha. A maioria dos trabalhadores do “Mc” são estudantes da UBI? Segundo Rui, sim. E a clientela também. “A maioria dos nossos clientes são os estudantes da UBI. Os turistas é mais nas épocas altas. Clientes regulares é mais estudantes da universidade. Por isso não sei se o McDonald’s teria o mesmo nível de lucro se não existisse a UBI”. No entanto, esta cadeia de fast-food mundial, não foi a única que cresceu devido ao impacto da universidade. São múltiplos os casos e, para isso, basta viajarmos até 1986, data em que a UBI abriu as portas. Não se pode afirmar que o desenvolvimento da Covilhã e da Beira interior se deve somente à UBI, porém é certo que, sem esta, a realidade da região seria bastante diferente. |
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